A reinstituição do horário de verão em 2024 está despertando um acalorado debate em todo o país. Enquanto alguns defendem seus benefícios econômicos e ambientais, outros questionam sua eficácia e impacto na rotina diária dos cidadãos.
O Brasil enfrenta uma crise no setor energético, impulsionada pela escassez de recursos hídricos e pelo crescente consumo de eletricidade. À medida que as usinas hidrelétricas enfrentam dificuldades, torna-se fundamental explorar alternativas sustentáveis, como a energia solar.
É nesse contexto que a possibilidade de retomar o horário de verão ganha destaque, uma vez que pode auxiliar na otimização do uso de fontes renováveis.
De acordo com estimativas do Ministério de Minas e Energia, a implementação do horário de verão poderia resultar em uma economia de cerca de R$ 400 milhões. Além disso, evitaria a necessidade de produzir cerca de 2,5 gigawatts (GW) de energia diariamente durante os períodos de maior demanda, reduzindo a dependência de usinas termelétricas poluentes e dispendiosas.
O Ministério de Minas e Energia estima que a implementação do horário de verão pode resultar em uma economia de cerca de R$ 400 milhões. A recomendação visa deslocar o pico de consumo para um horário com maior disponibilidade de energia solar, evitando a necessidade de ativar usinas termelétricas.
No entanto, o ministro Alexandre Silveira demonstrou cautela, afirmando que, embora a recomendação seja válida, ele ainda não está plenamente convencido da necessidade do horário de verão.
O ministro enfatizou que, antes de chegar a uma conclusão definitiva, pretende examinar outras opções, incluindo o adiantamento das linhas de transmissão e alterações nas operações da usina de Belo Monte.
De acordo com um estudo realizado pelo portal Reclame Aqui e pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), 54,9% dos entrevistados são favoráveis à volta do horário de verão ainda em 2024. Desse total, 41,8% se mostraram totalmente favoráveis, enquanto 13,1% foram parcialmente favoráveis.
O Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde o horário de verão costumava ser usado, demonstraram o apoio mais expressivo. No Sudeste, 56,1% dos entrevistados apoiaram a mudança, enquanto no Sul, esse número subiu para 60,6%, e no Centro-Oeste, 40,9% foram favoráveis.
A pesquisa revelou diferenças nas percepções regionais sobre o horário de verão. Na Região Sul, 47,7% das pessoas que responderam disseram que o adiantamento do relógio economiza recursos, enquanto 51,8% disseram que o comércio e serviços, como lojas, bares e restaurantes, se beneficiam da medida.
Por outro lado, no Sudeste, apenas 43,6% dos participantes acreditam que a mudança no horário ajuda a economizar energia elétrica e outros recursos. No entanto, 41,7% consideram que suas cidades ficam mais atrativas para o turismo durante o período de vigência do horário de verão.
Embora a pesquisa tenha revelado que 35,2% dos entrevistados se sentem mais seguros durante os períodos em que o horário de verão é adotado, principalmente no horário de saída para o trabalho, alguns especialistas alertam para os impactos negativos da medida nos ciclos biológicos da população.
Com a mudança do relógio para uma hora a mais, não só a noite se estende, como também o dia leva um tempo adicional para clarear em comparação ao habitual. Essa alteração pode impactar a saúde e a segurança dos profissionais que precisam deixar suas residências enquanto ainda está escuro, principalmente nos primeiros dias de adaptação.
Para o segmento de bares e restaurantes, a implementação do horário de verão é encarada como uma chance de intensificar suas operações. A percepção é de que as pessoas saem do trabalho e sentem que continua cedo, o que as incentiva a aproveitar happy hours ou jantares fora de casa.
Além disso, os defensores do horário especial argumentam que a iluminação natural na volta para casa aumenta a sensação de segurança e anima as cidades, melhorando o trânsito, o transporte público e a segurança pública.
Apesar de os especialistas concordarem que o horário de verão economiza pouca energia no total, a medida pode ajudar o sistema elétrico nacional no início da noite, quando o país está em um momento de pico. Nesse período, algumas fontes renováveis, como a solar e a eólica, geram menos energia, e o horário de verão pode aliviar a demanda por fontes alternativas, como as termelétricas.
No entanto, é importante ressaltar que os hábitos da população mudaram ao longo das últimas décadas, e o pico de consumo de energia agora ocorre no meio da tarde, quando o horário de verão não tem influência significativa.
Durante o governo de Getúlio Vargas, o horário de verão foi implementado no Brasil. No entanto, o horário só foi adotado regularmente no fim da ditadura militar em 1985. Os estados e regiões que o adotaram mudaram ao longo do tempo até sua extinção em 2019, no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro.
Muitas nações em todo o mundo adotam o horário de verão, que é mais comum em locais fora das áreas tropicais. Países como Canadá, Austrália, Groelândia, México, Nova Zelândia, Chile, Paraguai e Uruguai são exemplos de nações que implementam essa medida.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não decidiu se voltará a favor do horário de verão em 2024. No entanto, essa decisão não será apenas técnica, mas também política, uma vez que a mudança no horário afeta diretamente a rotina da sociedade.
De acordo com o ministro Alexandre Silveira, a decisão sobre o horário de verão deve ser tomada nos próximos 10 dias. Se aprovado, o cronograma mudará após o segundo turno das eleições municipais. No entanto, o período ainda não foi definido.