A Procuradoria Regional Eleitoral do Mato Grosso do Sul vai investigar uma denúncia de assédio eleitoral envolvendo usuários do Auxílio Brasil. Reportagem do jornalista Caco Barcelos, veiculada na noite desta segunda-feira (1) na TV Globo, mostra indícios de que os beneficiários teriam sido assediados para que votassem no presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições do domingo (30).
Os assédios exibidos pela reportagem teriam acontecido na cidade de Coronel Sapucaia durante o segundo turno das eleições presidenciais. O município fica a 420 quilômetros de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Na reportagem, o jornalista flagra momentos de reuniões de membros da prefeitura com usuários do Auxílio Brasil.
Inicialmente, o objetivo da reportagem era conversar com os eleitores sobre as suas intenções de voto a 48 horas das eleições presidenciais. Contudo, em uma das conversas, o jornalista percebeu uma aglomeração de pessoas em frente ao centro cultural e decidiu ir até o local. Nenhum dos organizadores conseguiu explicar direito o que estava acontecendo.
Em um determinado momento, Barcelos pergunta a uma organizadora o objetivo da reunião e ela respondeu que o intuito era enviar informações do “Bolsa Brasil” para o Ministério da Cidadania. Não existe nenhum programa com este nome, e quando questionada sobre a incoerência, ela disse que não iria mais responder perguntas.
Diante da repercussão do fato, o Ministério Público Eleitoral afirmou que “serão solicitadas diligências ao promotor eleitoral de Coronel Sapucaia para instruir o feito”. A nota foi divulgada para a imprensa ainda na manhã desta quarta-feira (2).
Coronel Sapucaia chamou atenção da mídia no primeiro turno por causa do resultado final da disputa presidencial. Lula e Bolsonaro empataram e tiveram 4,295 votos cada um. O cenário incomum acabou atraindo os olhos de curiosos para a cidade.
Coagidos ou não, o fato é que depois da campanha do segundo turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) conseguiu elevar a sua votação no último domingo (30) no município. Ele teve 235 votos a mais do que o registrado no primeiro turno. O candidato do PT perdeu 205.
“Antes não tinha essa reunião não. Disse que era para assinar o negócio do Bolsa Família. Aí ontem eu ouvi falando que, quando acaba a reunião, o Rudi (Paetzold, o prefeito da cidade) dá R$ 50 para cada um. Rudi é o prefeito daqui”, contou.
Desde o início da disputa eleitoral, o Auxílio Brasil esteve no centro das atenções do debate político. De lado a lado sobravam promessas e fake news que circulavam em redes sociais sobre o benefício social.
Até aqui, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não se posicionou sobre possíveis investigações para entender se o que ocorreu na cidade do Mato Grosso do Sul foi uma prática recorrente em outros municípios ou até mesmo outros estados.
Desde o início da eleição, o presidente Jair Bolsonaro sofreu críticas por supostamente ter tentado comprar votos. A campanha do candidato também não se posicionou ainda sobre a reportagem do jornalista Caco Barcelos, mas vem dizendo de forma recorrente que não tem relação com qualquer tipo de compra de votos.
O prefeito de Coronel Sapucaia negou que tenha qualquer relação com a reunião de usuários do Auxílio Brasil que acontecia no momento da reportagem.