Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal, resolveu inovar no ensino a distância quando apresentou, no último dia 15 de junho, dez lições da pandemia para os alunos do 1º ao 9º anos. As lições do presidente foram transmitidas por meio do projeto #EstudoEmCasa, realizado pelo Ministério da Educação do país, em parceria com a emissora de televisão portuguesa RTB.
“Boa tarde, chamo-me Marcelo Rebelo de Sousa, sou professor e hoje vou matar saudades das milhares de aulas que dei ao longo da minha vida”, disse o presidente no início de sua apresentação.
Em primeiro lugar, Marcelo quis sublinhar que “a coisa mais importante das nossas vidas é a própria vida e a saúde”, fazendo em seguida um agradecimento ao Serviço Nacional de Saúde, lembrando todos os profissionais que sacrificaram as suas vidas e tiveram, muitas vezes, que dormir fora de casa para proteger os familiares.
Na segunda lição, o chefe de Estado quis relembrar que a “pandemia é de todo o mundo e deve ser todo o mundo unido a tratar da pandemia, a prevenir, a evitar e depois a responder e a combater”. No entanto, “isto não aconteceu”, disse Marcelo. “Cada um foi para seu lado e quem sofreu mais foram as pessoas”, explicou.
O presidente explicou em seguida aos alunos que espera que o mesmo não venha a acontecer quando for encontrado um tratamento e uma vacina para a Covid-19, que “não seja só para alguns, mas para todos”. “Não pode haver cidadãos do mundo de primeira, segunda, terceira e quarta em medicamentos e vacinas”, reiterou Marcelo.
O chefe de Estado lembrou que a “Europa também andou distraída” e na terceira lição explicou que existiram países “que pensaram que escapavam ao vírus, como se o vírus não conhecesse fronteiras. Mas a Europa percebeu. Tarde, mas percebeu e foi menos egoísta do que foi uma boa parte do mundo”.
Em quarto lugar, Marcelo relembrou os tempos em que os portugueses foram obrigados a permanecer em casa e explicou que tal só foi possível “porque houve quem fosse trabalhar para não parar a economia”.
“Nunca é demais agradecer aos que trabalharam com risco, permitindo que nós ficássemos em casa”, afirmou o presidente.
A quinta lição foi dedicada à camada mais jovem da população. O chefe de Estado explicou aos alunos que o vírus ataca sobretudo os mais idosos e aqueles com doenças crónicas. “A nossa obrigação é não pensarem que são eternos e que não devem seguir as regras de saúde”, disse Marcelo, apelando ao uso de máscara e ao cumprimentos da distância social para proteger os mais velhos.
Para além disso, o presidente esclareceu que “o vírus ataca todos, mas sobretudo os mais pobres, mais fracos e carentes”. “Temos de mudar um bocadinho o país”, apelou Marcelo, “porque se é verdade que temos um de quase três portugueses que estão no grupo de risco, temos um em cada cinco residentes em Portugal que vive abaixo do nível de pobreza”.
A sétima lição foi dedicada aos “milhares de emigrantes que quiseram vir a Portugal nas férias da Páscoa e nós tivemos de lhes pedir para não vir, sacrificando o encontro com as famílias”. “O que é espantoso é que os nossos irmãos espalhados sobretudo pela Europa, mas também por todo o mundo, perceberam, aceitaram, colaboraram, percebendo que é uma causa nacional, é de todos”, parabenizou Marcelo.
Dirigindo-se aos alunos, o presidente mostrou-se solidário pelos meses em que estiveram confinados em casa, distantes dos restantes familiares, amigos e colegas de escola. “Nunca tinham estado tanto tempo longe desses familiares, amigos e colegas. Às vezes foi um cansaço, uma irritação e de vez em quando uma guerra”, disse Marcelo.
“Mas agora olhem para o aspeto positivo”, pediu o chefe de Estado. “Nunca, nos últimos anos, tiveram, porventura, tanto tempo juntos com os vossos irmãos e os vossos pais. Isso é uma sensação única, porque mesmo quando não corre bem, a família é família e puderam estar com aqueles que são os mais queridos e próximos de vós mais tempo, para se conhecerem melhor”, afirmou.
“Isso é inesquecível”, declarou. “O melhor que nós temos na vida é realmente podermos conhecer bem os que significam mais para nós e para a nossa vida”, disse Marcelo.
Na nona lição, Marcelo debruçou-se sobre o que a pandemia alterou na vida dos portugueses. “Eu já vivi muitas epidemias, mas nenhuma comparada com esta. Esta foi longa, dura”, disse Marcelo, relembrando que ainda não terminou e podemos vir ainda a viver uma segunda vaga, dando o exemplo da China.
“E o que é que mudou na vida?”, questionou o presidente. “Nunca se estudou tanto através da Internet e com o apoio da televisão, da RTP. Nunca se tinha feito esta experiência. Nunca se trabalhou tanto de casa, nunca se falou tanto com amigos através da Internet como nos últimos meses”, disse Marcelo.
“Eu descobri o valor das pequenas coisas. Quando nós não podemos sair de casa, não podemos viajar, ir à praia, praticar desporto, estar com os amigos, cada pequeno gesto ganha uma importância fundamental”, declarou o chefe de Estado.
“Demos importância às pequenas coisas. Normalmente não damos, damos às grandes coisas. Quando estamos fechados, o que parece pequeno noutras ocasiões, passa a ser enorme”, acrescentou Marcelo, revelando que passou a conhecer “todos os cantos do Palácio de Belém” durante o período em que esteve confinado.
O presidente pediu ainda aos mais novos que pensem “nas pessoas que vivem fechadas todos os dias das suas vidas”. “Não estou a falar dos presos, mas também dos idosos que ficam presos em casa durante semanas, meses, anos. Ponham-se na posição deles e imaginem o que é estar preso em casa”, apelou.
“Vocês estiveram durante algum tempo, agora deem valor àqueles que estão presos em casa, contra vontade, eternidades. Ao fazer essa experiência, vocês perceberam que muito da vossa vida mudou e mudou para sempre”, referiu Marcelo.
Por fim, na décima lição, ele referiu-se à pandemia como “a mais importante aula”. “Vocês tiveram a mais importante aula da vossa vida. A grande aula foi terem vivido o que viveram. Não há nenhuma aula que valha a aula que tiveram de vida”, disse Marcelo aos alunos mais jovens.
“A vida é feita destas lições pequenas, de experiências únicas, e esta é única”, acrescentou o chefe de Estado, sublinhando que ainda a estamos a viver, com a esperança de que o pior já passou”. Fonte: RTP.