O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que ficou “surpreso” com a aceleração de 1,62% apresentada em março para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA). Neto, se pronunciou via internet e classificou como “bastante alto” o núcleo da inflação.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA de março foi a maior taxa para um mês de março desde a implantação do Plano Real, em 1994. Entre as justificativas para o resultado da inflação, Campos Neto citou índices relacionados a “processos industriais”.
Segundo o presidente do Banco Central, estes processos não caíram da forma como era esperado. Já o setor de serviços reagiu “mais ou menos” da forma esperada, referindo-se à inflação represada do setor. Lembrando que a taxa de inflação acumulada em 12 meses está acima dos 10% desde setembro do ano passado. Entre dezembro de 2003 e agosto de 2021, o IPCA só havia superado a barreira dos 10% por quatro meses, entre novembro de 2015 e fevereiro de 2016.
O economista informou que os núcleos de inflação estão bastante altos, deste modo o setor dos combustíveis e do vestuário tiveram uma alteração fora do esperado. No entanto, ele informou que, apesar da surpresa causada pelos resultados inflacionários, acredita em uma melhora futura da situação, quando a alta da taxa básica de juros refletir com mais intensidade na economia.
“A gente teve uma surpresa neste último número [IPCA de março]. Vamos olhar e analisar os fatores que estão gerando essas surpresas inflacionárias e vamos comunicar isso em um momento mais apropriado”, disse. No entanto, Neto informa, “que grande parte do trabalho que fizemos em termos de juros terá impacto nos próximos trimestres. Então temos ainda uma defasagem em relação ao que já foi feito”.
Campos Neto lembrou que a autoridade monetária está “sempre aberta a reanalisar o cenário, se entendermos que haja alguma coisa diferente do padrão que tínhamos identificado até então”.
Ao analisar o mês de março, o IPCA registrou taxa mensal de 1,62%, essa foi a maior taxa para o mês desde o início do Plano Real, em 1994. De acordo com o pesquisador do IBGE, Pedro Kislanov, os combustíveis tiveram um destaque no mês, não apenas para aumentar a taxa dos transportes como também de outros itens.
O pesquisador informou que, “em março, há um efeito da alta dos combustíveis, principalmente da gasolina e do diesel, que aumentam o custo do frete, sobre outros componentes do IPCA, como por exemplo, a própria parte de alimentação e bebidas”.
A inflação atual também está alterando o preço dos alimentos, que atualmente subiram 11,62% em 12 meses, puxados por itens como cenoura (166,17%), tomate (94,55%) e hortaliças e verduras (33,29%).
Em outro momento, os gastos com habitação tiveram aumento de 15%, com variações de preços de 28,52% para energia elétrica residencial e de 29,80% para os combustíveis domésticos, o que inclui o gás usado para cozinhar. Os itens monitorados, isto é, aqueles que têm preço regulado por autoridades governamentais, acumulam alta de 14,84% no ano.
Outros grupos que tiveram alta de preços por conta da inflação foram: vestuário (1,82%), habitação (1,15%), saúde e cuidados pessoais (0,88%), despesas pessoais (0,59%), artigos de residência (0,57%) e educação (0,15%). O único com queda foi comunicação, com -0,05%.