Nos últimos meses, temos visto uma queda significativa nos preços da carne no Brasil. Diferentes cortes, como contrafilé, patinho e picanha, estão ficando mais em conta para os consumidores. Porém, essa redução não é tão expressiva quanto a diminuição do valor pago pelos pecuaristas aos frigoríficos.
Neste artigo, vamos explorar os principais motivos dessa diferença e entender por que os preços estão caindo mais no campo do que nos supermercados.
Para entendermos melhor o cenário atual, é importante conhecer a forma como o preço do boi é estimado. No campo, o valor do gado é calculado pela arroba, que corresponde a 15 quilos de carne. Em janeiro deste ano, a arroba estava sendo vendida por R$ 286,85. Porém, em setembro, esse valor já havia caído para R$ 206,24, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP).
Embora os pecuaristas estejam vendendo o gado a preços mais baixos para os frigoríficos, existem outros custos na cadeia que impedem que o consumidor final pague menos pela carne. Um desses fatores é a escala de abate, que está reduzida devido à menor demanda por carne. Com menos pessoas comprando carne, os frigoríficos também compram menos animais, o que mantém a oferta nos supermercados.
Além disso, os custos logísticos estão elevados devido ao preço do combustível. As redes varejistas também estão mantendo uma margem alta de lucro neste ano, o que segura os preços. A Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) destaca que é preciso considerar os custos de logística, energia, armazenagem e exposição nas lojas, além da demanda da carne bovina no mercado internacional.
Uma das razões para a queda nos preços da carne é o aumento da oferta de gado no mercado brasileiro. Isso ocorre devido ao aumento do abate de fêmeas, que desvaloriza o preço da carne. Esse movimento faz parte do chamado ciclo pecuário, no qual os produtores seguram as vendas dos animais quando estão valorizados no mercado, elevando o preço da carne. Quando há muitos bezerros no mercado, os preços caem e ocorre o abate das fêmeas, aumentando a oferta de carne nas prateleiras.
Outro fator que contribui para a oferta e reduz os custos no campo é o clima favorável. O aumento do volume de chuvas está melhorando a qualidade do pasto, permitindo que haja menos gastos com rações. Além disso, a queda nos preços de grãos, como soja e milho, também beneficia o gado que se alimenta de ração.
Apesar da queda nos preços da carne nos supermercados, ainda não podemos dizer que ela está barata. Em contrapartida, o preço do frango também está em queda. Em agosto deste ano, o frango inteiro ficou 7% mais barato em comparação aos últimos 12 meses. Esse fator torna a ave uma opção mais acessível, já que é possível comprar uma maior quantidade por um mesmo valor.
Entre 2019 e 2020, um dos fatores que elevou o preço da carne foi a alta demanda da China pelo produto brasileiro. Porém, atualmente, a economia chinesa enfrenta dificuldades e a moeda chinesa está desvalorizada, fazendo com que os importadores reduzam os preços da carne bovina no mercado internacional. Isso acaba desvalorizando a carne brasileira, mesmo que o volume exportado continue bom.
De acordo com o consultor Fernando Henrique Iglesias, a queda do preço do boi ao produtor está chegando ao fim e deve se estabilizar. Atualmente, o padrão de negociação da arroba está entre R$ 190 e R$ 200, o que é considerado uma boa notícia para o setor. No entanto, não há expectativas de quando os preços deverão voltar a subir.
Ademais, os preços da carne têm apresentado uma queda mais acentuada no campo do que nos supermercados, devido a uma série de fatores que afetam a cadeia produtiva. Apesar dos pecuaristas estarem vendendo o gado a preços menores, os custos logísticos, a margem de lucro das redes varejistas e a menor demanda por carne têm impedido que essa redução seja repassada integralmente ao consumidor final.
Além disso, a maior oferta de gado no mercado e fatores climáticos têm contribuído para a queda nos preços. No entanto, espera-se que os preços se estabilizem, sem previsão para uma retomada significativa.