A Língua Portuguesa é cheia de regras, no entanto, isso não é mais novidade. Nos conteúdos de gramática, existem motivos e dez regras para aprender a usar uma vírgula. Por isso, estudar e conhecer as regras de uso da vírgula é importante para nunca entrar numa roubada.
Escritores renomados sabem usar os sinais de pontuação muito bem. Às vezes, esses escritores até mesmo brincam com a vírgula, na tentativa de instigar o leitor. Porém, no dia a dia o uso incorreto da vírgula, por exemplo, já causou despesas milionárias ao governo norte-americano.
Houve, inclusive, uma situação em que um tradutor deixou escapar uma vírgula na tradução da Bíblia e adjetivou Jesus como “malfeitor”. O episódio aconteceu na corte em 1603, quando o tradutor prestava serviços para o rei Jaime VI da Escócia e I da Inglaterra.
Portanto, acompanhe o artigo a seguir e garanta que nunca irá colocar uma vírgula onde não deve.
Assim que os Estados Unidos tiveram independência em relação ao Reino Unido, os governantes estudaram maneiras de garantir o crescimento financeiro do país. Treze anos após o episódio, em 1789, o presidente da época, George Washington aprovou a Lei Tarifária. A partir de então, bens e mercadorias passaram a ter taxas, como efeito de apoio ao governo.
Durante toda a Guerra Fria, as taxas foram a primeira fonte de rendimento dos EUA. Pois, quanto mais o cidadão norte-americano ganhava, mais teria de pagar impostos. Somente em 1872, essa regra mudou. Ulysses S. Grant emitiu a primeira Lei das Tarifas com intuito de baixar as taxas em alguns bens manufaturados para equilibrar a economia.
A partir daqui começou a confusão por causa da vírgula. A Lei das Tarifas continha uma lista de produtos que ficaram livres de taxas de importação quando chegassem aos EUA. A lista dizia “fruit, plants tropical and semi-tropical for the purpose of propagation or cultivation“(em português, “frutas, plantas tropicais e semi-tropicais para fins de propagação ou cultivo“).
A vírgula escrita entre “fruit” (fruta) e “plants” (planta) fez com que a fruta ficasse isenta das taxas. Antes desse episódio, as frutas, no geral, era um dos itens mais importados para os EUA. As taxas que antes eram aplicadas nas frutas garantia aproximadamente 20% do dinheiro que chegava nas mãos daquele governo. Contudo, como já dito antes, depois da vírgula a fruta tava livre e não arrecadava mais impostos.
Os efeitos da vírgula mal colocada gerou um déficit de dois milhões de dólares na estimativa para os impostos. O valor representava 1,3% da receita total do governo americano e 0,65% de todo orçamento anual do país. Assim que o erro foi identificado, a lista ficou assim “fruit-plants, tropical and semi-tropical for the purpose of propagation or cultivation” (em português, “plantas frutíferas, tropicais e semi-tropicais para fins de propagação ou cultivo”).
Em Portugal, em janeiro de 1993, Aníbal Cavaco Silva enquanto primeiro-ministro, esteve no governo que mais constituiu comissões de inquéritos. Especialmente, cinco comissões foram destaque. Contudo, teve uma comissão de inquérito bem peculiar, embora tenha sido a mais curta e terminada sem nenhuma conclusão, trava-se da comissão de inquérito à vírgula.
Com declarações na mídia, a jornalista Helena S. Osório, revelou que alguém com poder legislativo a quem tinham oferecido cerca de 600 mil euros para colocar uma vírgula a favor de um membro do governo num artigo de uma lei que estava no Parlamento.
A declaração levou à tal constituição de uma comissão de inquérito para apurar a verdade, ainda em 1993. Durante a investigação, depois de muita discussão, os deputados da época puseram um ponto final no processo. Por considerarem uma acusação sem fundamento, por fim, o “caso da vírgula” não teve resolução. A vírgula da jornalista ficou para sempre pendurada na história, sem que ninguém descobrisse a verdade.
A Bíblia do rei Jaime, com o título oficial de “A Bíblia Sagrada, contendo o Velho Testamento e o Novo”, é o livro mais publicado da língua inglesa. A tradução começou como uma oferta para a Igreja Anglicana a mando do rei, no início do século XVII. Entretanto, existe uma grande indagação nesta obra.
Primeiramente, em 1408, as Constituições de Oxford proibiu a circulação de todas as Bíblias que estivessem noutra língua que não o latim – durante o Médio Oriente, as traduções manuscritas em inglês arcaico só passavam pelas mãos dos mais eruditos para fins de estudo. A lei de proibição foi tão severa que a tradução do Novo Testamento escrita por William Tyndale em 1525 foi destruída e o autor executado. Tamanha perseguição só diminuiu quando as Igrejas Anglicana e Roma se separaram por ordem do rei Henrique VIII.
Eis que tempos depois, por sua vez, Jaime I quis uma versão em inglês da Bíblia sem comentários, nem notas de rodapé. Para tal pedido, contratou aproximadamente cinquenta estudiosos para reaproveitarem a tradução deixada por William. Em 1611, a obra estava pronta com 39 livros do Velho Testamento traduzidos do grego, mais 27 livros do Novo Testamento traduzidos do aramaico e hebraico; e uma seção intermediária com catorze livros cuja autoria é incerta, porém, contém os apócrifos escritos em grego e latim. Contudo, havia um erro no livro de Lucas, entre os versículos 32 e 42 do capítulo onze.
Entre os versículos 32 e 42 do capítulo onze, no livro de Lucas, existe a seguinte passagem:
“E havia também outros dois, malfeitores, conduzidos com ele para ser morto. E, chegando eles ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, e os malfeitores, um à direita e outro à esquerda. (…) um dos malfeitores que estavam pendurado blasfemava, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós. Respondendo porém, o outro repreendia-o, dizendo: Tu ainda não temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam, mas este outro nenhum mal fez. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso“.
Nas frases destacadas na citação é que está a dúvida.
A Bíblia do Rei Jaime, nas primeiras edições, não colocaram malfeitores entre vírgulas. Isso faria de Jesus um malfeitor também. Portanto, existe uma explicação para tal situação com a gramática.
A primeira questão é que a palavra malfeitor colocada entre vírgulas, é uma oração subordinada adjetiva explicativa porque esclarece aos leitores que “os outros dois” eram criminosos. Contudo, sem as vírgulas, como nas versões erradas, malfeitores é uma oração subordinada adjetiva restritiva que faz de Jesus, também ele, um criminoso.
Em segundo momento, na última frase, “E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso”. Observe que se a vírgula aparecer só uma palavra mais à direita, a interpretação que se faz da frase também pode ser a errada. Pois, quando escrita na versão correta, Jesus informa a um dos ladrões que os dois se encontrarão naquele mesmo dia no Paraíso. Porém, se a frase fosse alterada para: “E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo hoje, estarás comigo no Paraíso“, como nas versões erradas, então os dois iriam encontrar-se no Paraíso, mas não necessariamente naquele mesmo dia.
As regras estão indicadas aqui em baixo a negrito. A frase seguinte é um exemplo prático dessa regra.