As pessoas se perguntam por que uma língua não permanece estável no curso da vida? Uma língua muda porque é falada segundo os costumes, a cultura, as tradições, modernização tecnológica e o modo de viver da população. Depois, há para considerar o fator tempo que altera todas as coisas. Assim, não existe razão para que a língua escape a essa lei universal. A língua, igualmente as pessoas, quer palpitar, crescer, tornar-se flexível e colorida, enfim, viver.
A mudança que se observa numa dada língua, no decorrer do tempo, tem paralelo na mudança dos conceitos de vida, na mudança das artes, da filosofia, da ciência e até da própria natureza. Essa evolução temporal, mudança diacrônica ou história, é um dos aspectos mais evidentes da variação ou mudança que se processa em toda e qualquer língua. Antigamente, no Brasil, se falava cutex ao invés de esmalte, petisqueira no lugar de armário, penteadeira ao invés de cômoda, ceroula ao invés de cueca. São exemplos que ilustram a mudança diacrônica ou histórica.
Considera-se, também, que a língua varia no espaço, razão porque a língua portuguesa apresenta variedades nacionais e internacionais. É a mesma língua, mas com traços peculiares das regiões, dos países como Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Cabo Verde, Timor Leste, Brasil.
Como sabemos bem, a língua portuguesa foi trazida ao Brasil no século XVI em virtude do Descobrimento. O português era imposto como língua oficial às línguas nativas que havia aqui ou modificava-se dando origem a outros dialetos. Mas houve um longo processo para estabelecer o idioma no território brasileiro. O contato entre os indígenas, os africanos e os vários imigrantes que vieram de algumas regiões da Europa contribuiu para o chamado multilinguismo. Assim, além da fase bilíngue pela qual passou a nossa língua, o multilinguismo contribuiu – e continua contribuindo – para a formação da identidade do português brasileiro.
Assim como os demais idiomas, a nossa língua é viva, ou seja, se transforma e se reinventa com as pessoas ao longo do tempo, expressando uma maneira de organizar o mundo em nomes e estruturas linguísticas. Algumas alterações ocorrem naturalmente; outras são determinadas formalmente, como o Acordo Ortográfico implementado pela CPLP, em 2009, com o objetivo de facilitar o intercâmbio cultural e científico entre os países que têm o português como idioma oficial e ampliar a divulgação do idioma e da literatura em língua portuguesa.
As variedades nacionais de um idioma não apresentam uma uniformidade interna, são constituídas por variantes geográficas que os dialetólogos denominam dialetos. Também há as variações decorrentes dos diferentes grupos sociais a que pertencem os falantes, tal como variações de faixa-etária, sociocultural e sócio profissional.
São exemplos de variações por faixa-etária:
Idoso – coroa – velho;
Homem – rapaz – tiozinho;
Baile – festa – balada.
São exemplos de variações socioculturais:
Festa – arrasta-pé ou piseiro;
Briga – confusão – furdunço – baixaria – barraco;
Namorar – ficar;
Moça – mina.
Dos poucos exemplos que ilustram as mudanças e variações linguísticas, observa-se ser impossível dar conta de todos os fenômenos de mudança e variação dentro de uma língua. É como diz o linguista Edward Sapir: “não podemos antecipar a deriva (*mudança – grifo nosso) e manter, ao mesmo tempo, nosso espírito de casta”, ou seja, sustentar, em meio à pluralidade social, uma modalidade castiça da língua. Ou dizendo, em outras palavras, manter o purismo linguístico.
Você até deve imaginar o porquê de tanta mudança, não é? Como o nome mesmo já diz, as línguas vivas são todas as línguas que estão na boca das pessoas. Elas se adaptam ao contexto vivido pelos países, às influências vindas de migrações, da indústria cultural, das línguas dos países vizinhos, etc.
Então, como tudo na vida, a língua também precisa dar uma repaginada com o passar do tempo!