O risco de aumento das desigualdades de aprendizagem durante o período de isolamento social, em que as escolas permanecem fechadas, deve estar no radar dos gestores e ser um foco de atenção dos planos e diretrizes para a retomada das aulas, quando isso acontecer.
Esse foi um dos consensos entre os participantes do webinário “Retomada das aulas presenciais: perspectivas no Brasil e experiências internacionais”, realizado na última quarta-feira (10/6), pela Jeduca, Associação de Jornalistas da Educação.
Participaram do evento Laura Souza, secretária de Estado da Educação de Alagoas e integrante Consed (Conselho Nacional do Secretários Estaduais de Educação), Luiz Miguel Martins Garcia, secretário municipal de Sud Mennucci (SP) e presidente da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), Mauricio Ernica, professor da Faculdade de Educação da Unicamp e Rebeca Otero, coordenadora de Educação da Unesco no Brasil. A mediação foi de Marta Avancini, editora pública da Jeduca.
Rebeca, que abriu o debate, enfatizou que, além de priorizar a saúde dos integrantes da comunidade escolar e de lidar com o estresse pós-traumático, outra recomendação da Unesco para os países que estão enfrentando a pandemia de Covid-19, é criar mecanismos para evitar o abandono e a evasão.
“Há o risco de aumento de abando escolar, especialmente os mais vulneráveis, em função do acentuamento das desigualdades”, analisa a coordenadora de Educação da Unesco. “A falta de acesso à educação remota pode desestimular estudante e levar ao aumento do abandono”.
No Brasil, segundo levantamento da Undime citado por Garcia durante o webinário, 40% dos estudantes não estão tendo acesso às atividades e aulas remotas oferecidas pelas secretarias de educação, o que pode ampliar desigualdades de aprendizagem já existentes.
Nesse sentido, Ernica chamou a atenção para o fato de que, ao longo das últimas décadas, as avaliações mostram a melhoria do desempenho médio dos estudantes, mas esse movimento foi acompanhado do aumento da desigualdade. “No Brasil, onde tem mais aprendizagem, tem mais desigualdade. Um sistema justo requer as duas aprendizagem e equidade, o que é absolutamente raro nos municípios brasileiros”.
Por isso, num cenário como o atual, em que, apesar dos esforços das redes de ensino para ofertar ensino remoto, todos estão perdendo algo, as condições para retomada das atividades das escolas, o risco é de aumentar a desvantagem dos que são mais vulneráveis. “Os grupos que ganham menos da escola, os que menos aprendem, são os que mais dependem da escola para ter acesso aos saberes escolares”, analisa o professor da Unicamp, também conselheiro consultivo da Fundação Tide Setúbal e coordenou o desenvolvimento do IDeA (Índice de Desigualdade de Aprendizagem).
Justamente por isso, segundo Laura Souza, a gestão pedagógica será um dos grandes desafios a serem enfrentados pelos gestores e escolas, quando as aulas forem retomadas. Por isso, uma diretriz para organizar o processo de retomada deverá ser priorizar quem tem menos acesso à tecnologia e às atividades remotas. “Se não pensarmos apenas no conteúdo, no cumprimento dos dias letivos, na carga horária, vai ser mais fácil atravessar esse período”, afirma a secretária de Alagoas, que está à frente da elaboração de um documento do Consed com diretrizes para gestores das redes de ensino e das escolas.
Nesse contexto, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) deverá funcionar com a referência para definir o que é essencial em termos de aprendizagem. “Hoje temos a BNCC, que dá um ponto de partida para a garantia de equidade e para identificar as aprendizagens fundamentais, o que pode colaborar para diminuir as desigualdades”.
O presidente da Undime concorda que a BNCC será uma chave importante para organizar a aprendizagem. “Especialmente para os menores, os direitos de aprendizagem podem ser reorganizados sem gerar muito estresse”, afirma Garcia. O essencial, enfatiza, é que o processo de retomada das aulas presenciais, quando ocorrer, acontece com professores, alunos e famílias saudáveis, tanto no aspecto físico quanto emocional.
Fonte: Jeduca