Economia

Pessoas pretas ou pardas são a maioria dos que perderam a renda do trabalho em 2020

O racismo estrutural ainda é um grande problema que a população mundial enfrenta, especialmente a brasileira. Esse fato é mais uma vez comprovado, já que 66% dos 8,064 milhões de brasileiros deixaram de ter renda proveniente do mercado do trabalho em 2020, declaram ter a pele de cor preta ou parda.

Para se ter uma ideia, a queda no total de brasileiros que têm alguma renda proveniente do trabalho foi de 8,7% na passagem de 2019 para 2020. Se considerados apenas os trabalhadores de pele preta, o contingente com rendimento de algum trabalho atingiu 16,8%, ou seja, praticamente o dobro do total.

O ano de 2020 ficou marcado pela pandemia, que impactou, de forma ainda mais negativa, os números do desemprego para a população negra. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (19) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e são referentes a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) 2020.

A discrepância entre brancos e pretos pode ser observada também quando se analisa o rendimento médio mensal de todos os trabalhos: O total foi de R$ 2.447 em 2020, no agregado nacional, porém dessa média, trabalhadores de pele preta receberam R$ 1.781 por mês, enquanto os trabalhadores de pele branca receberam em média R$ 3.166 por mês.

Número de negros desempregados cresceu nos seis primeiros meses de 2021

Entre o primeiro semestre de 2021 e o de 2019, período anterior à pandemia, houve uma redução na presença da população negra no mercado de trabalho na capital do Brasil, o Distrito Federal, passando de 69,9% da PEA para o patamar atual de 63,9%.

O patamar das taxas de desemprego no período antes da pandemia, ou seja, 2019, demonstra com nitidez o diferencial vivenciado por negros e não negros no mercado de trabalho.

“A pandemia de covid afetou as economias e os mercados de trabalho regionais atingindo com mais contundência os segmentos mais vulneráveis da população, isso todos já sabemos. Porém, o que se percebe é que a superação desse período deixará marcas”, alerta a economista Lúcia Garcia, técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos (Dieese).

Desde o início da série histórica da Pnad Contínua, em 2012, essa discrepância a mais no rendimento do trabalho das pessoas de pele branca se mantém no mesmo nível, praticamente inalterada entre 1,7 e 1,8 vez acima da renda das pessoas de pele preta e parda.

Número de pessoas sem renda de trabalho aumentou durante a pandemia

O agravante de pessoas pretas ou pardas estarem perdendo suas rendas provenientes de trabalho, está atrelado ao momento econômico complicado que o país atravessa, e a considerável taxa de desemprego, pior até que a atingida antes do início da pandemia do novo coronavírus.

Segundo dados da última Pnad Contínua, realizada pelo IBGE, o Brasil já registra mais de 14,800 milhões de trabalhadores desocupados, conforme a economia ainda busca engatar uma recuperação dos danos causados pela Covid-19.

O total da população sem renda de trabalho, no trimestre de fevereiro até abril, ficou em 48,5%, e se mantém abaixo dos 50% desde o trimestre divulgado em maio do ano passado, indicando que menos da metade da população apta ao trabalho tem emprego no Brasil.