Educação

Pesquisa britânica diz que testar estudantes evitaria nova onda de contaminação

Duas novas pesquisas, publicadas na segunda-feira (3) na revista científica “The Lancet Child & Adolescent Health”, apontam que uma das formas de garantir que não haja uma “segunda onda” de contaminação pelo coronavírus após a reabertura das escolas é fazer testes diagnósticos e, depois, rastreamento de contatos, para isolar e tratar quem estiver infectado – quanto maior o rastreamento, menor a necessidade de testagem.

O debate sobre a volta às aulas presenciais tem, entre seus principais pontos, a incerteza sobre a segurança em relação à saúde da criança, familiares, professores, comunidade escolar, além de toda a sociedade, que pode ser impactada pelo aumento da circulação dos estudantes.

 

Análise da reabertura de escolas do Reino Unido

 

Um dos estudos, feito por pesquisadores da University College London (UCL) e da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM), aponta que, sem testagem e rastreamento suficiente de contatos, o Reino Unido poderá enfrentar uma segunda onda de Covid-19 entre dezembro e fevereiro. A conclusão foi feita com base em diferentes cenários analisados pelos pesquisadores, incluindo o afrouxamento das medidas de proteção em toda a sociedade.

Confira abaixo os principais cenários:

  • Volta às aulas integral: seria necessário testar 75% dos indivíduos com sintomas e rastrear 68% dos contatos, caso as aulas voltassem integralmente em setembro, para evitar a segunda onda de contaminações.
  • Volta às aulas parcial: neste cenário a testagem cai, mas ainda é alta: seria necessário fazer testes em 65% dos sintomáticos e rastrear 68% dos contatos para evitar um novo surto de contaminação.
  • Menor rastreamento: Se apenas 40% dos contatos pudessem ser rastreados, os índices de testagem precisariam aumentar para 87%, no caso do retorno integral, e 75% no caso do retorno gradual.

A pesquisa analisou os deslocamentos feitos por alunos que estudam em tempo integral e meio período, com metade dos alunos frequentando a escola em semanas alternadas, cada uma dentro de três cenários de testes, refletindo vários níveis de rastreamento e teste de contato.

Como a capacidade de transmissão das crianças ainda está sendo analisada por pesquisadores, o estudo considerou cenários em que as crianças transmitiam tanto quanto adultos e cenários em que tinham capacidade de transmissão de 50% em relação aos adultos.

“Nosso modelo sugere que, com uma estratégia de teste e rastreamento altamente eficaz em vigor no Reino Unido, é possível que as escolas reabram com segurança em setembro. No entanto, sem cobertura suficiente de uma estratégia de teste-rastreamento-isolado, o Reino Unido arrisca um sério segundo pico epidêmico em dezembro ou fevereiro. Portanto, pedimos ao governo que garanta que a capacidade de testes seja escalada para um nível suficiente antes que as escolas reabram”, afirma Jasmina Panovska-Griffiths, da UCL/Oxford, que liderou o estudo.

Panovska-Griffiths afirma que considerou o cenário de afrouxamento das medidas de segurança em toda a sociedade do Reino Unido porque a reabertura das escolas está, geralmente, ligada à volta dos pais ao trabalho presencial.

“É provável que a reabertura ande de mãos dadas com mais adultos voltando ao trabalho e outras medidas relaxadas em toda a sociedade. Portanto, nossos resultados refletem um afrouxamento mais amplo do bloqueio, em vez dos efeitos da transmissão exclusivamente nas escolas, sugerindo que o teste-rastreamento-isolamento eficaz oferece uma alternativa viável ao bloqueio intermitente e ao fechamento de escolas”, afirma.

“Nosso estudo não deve ser usado para manter as escolas fechadas por medo de uma segunda onda, mas como um alto apelo à ação para melhorar as medidas de controle de infecção e de testes e rastreamento para que possamos levar as crianças de volta à escola sem interromper o aprendizado por longos períodos”, afirma Chris Bonell, da LSHTM, um dos principais autores do estudo.

Austrália sem transmissões

 

Um segundo estudo analisou dados reais observados em escolas e creches na Austrália, que não interrompeu as aulas presenciais durante a pandemia. A conclusão foi que o rastreamento de contatos foi eficiente para frear a onda de contaminação.

Durante janeiro e abril, 27 crianças ou professores frequentaram escolas ou berçários enquanto estavam com Covid-19. Essas pessoas deram origem a outras 18 infecções em um total de 1.448 contatos, o que foi considerado baixo pelos estudiosos.

O estudo analisou casos de Covid-19 confirmados em laboratório no estado de Nova Gales do Sul e identificou todos os funcionários e crianças que frequentavam escolas ou creches enquanto eram infecciosas (incluindo 24 horas antes do início dos sintomas), usando os dados do governo.

Todas as 3.103 escolas e aproximadamente 4.600 creches em Nova Gales do Sul foram elegíveis para análise. No total, verificou-se que 12 crianças e 15 adultos frequentavam escolas ou creches enquanto estavam com sintomas do novo coronavírus. Os casos se concentraram em 15 escolas e 10 creches.

A partir do diagnóstico positivo, foram identificados os contatos que ficaram cara a cara com os doentes por, no mínimo, 15 minutos. Também foram rastreadas as pessoas que estiveram com o paciente infectado em um mesmo espaço interno por 40 minutos. Eles foram identificados por meio de horários, entrevistas com pais e funcionários da escola. Após identificados, eles foram monitorados (com ligações regulares) ficaram em quarentena por 14 dias.

No Brasil os protocolos de volta às aulas presenciais incluem a necessidade de avisar o poder público a cada caso de contaminação identificado – caso haja rastreamento de contatos e monitoramento, a tarefa ficaria a cargo da área da saúde do estado ou município. Fonte: G1