Recentemente, o atual ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou que um dos ensinamentos da pandemia foi o processo de ampliação da renda das famílias do Auxílio Emergencial. Nesse sentido, segundo o mesmo, o programa é uma “transferência de riqueza” e não somente de renda.
Além disso, o ministro declarou que a gestão identificou um grupo de famílias que recebiam benefícios com o valor de R$ 180 do Bolsa Família. Assim, estes tiveram o aumento de sua renda para R$ 600 ou até R$ 1800 com o recebimento das parcelas pagas pelo Auxílio Emergencial.
“Você sai de R$ 60 para R$ 600. Uma família sai de R$ 180 para R$ 1.800. Isso não é mais uma transferência de renda, isso é uma transferência de riqueza”, relatou Guedes durante evento de instalação da Frente Parlamentar do Empreendedorismo.
“A família se sentiu rica. Comprava material de construção, ampliaram a sua casa, uns compraram a casa própria, compraram geladeira. Foram ao supermercado e melhoraram a pauta alimentar. Um resultado espetacular, foi muito bom ver isso”, completou o mesmo.
Atualmente, o valor médio do Programa Bolsa Família é de R$ 190 por cada grupo familiar do benefício. Já o Auxílio Emergencial, é medida que o Governo Federal criou em abril do ano passado com o objetivo de assistenciar famílias em situação de vulnerabilidade econômica e social durante a pandemia. Este, portanto, passou por diferentes fases, tendo parcelas com valores distintos. Hoje, o benefício conta com recursos que variam entre R$ 150, R$ 250 e R$ 375 de acordo com a constituição de cada grupo familiar.
Não é a primeira vez que o ministro Paulo Guedes realiza declarações que repercutem na população, envolvendo as políticas assistenciais do país. Nesse sentido, há alguns meses, o mesmo fez uma comparação entre o tamanho de um prato de comida de um cidadão brasileiro de classe média e de um europeu para exemplificar problemas de desperdício de alimentos no país. Ademais, o líder da pasta econômica também sugeriu de que fossem distribuídas as sobras limpas de restaurantes à população mais pobre e vulnerável.
Recentemente, ainda, o ministro também desferiu duras críticas ao Fundo de financiamento Estudantil, o FIES. Assim, sobre o assunto, afirmou que em um certo período, o Governo Federal havia concedido um número alto de bolsas para o ensino superior. Dessa forma, a ação acabou enriquecendo poucos empresários, contudo, teria beneficiado até pessoas que não tinham nenhuma capacidade de estarem em uma faculdade. Durante a declaração, Guedes exemplificou a situação contando o relato de que o filho de seu porteiro recebeu uma bolsa por meio do programa mesmo após ter zerado o vestibular.
Durante o ano passado, antes de toda pandemia, o ministro também comentou que a alta do dólar era um fator benéfico pois, segundo o mesmo, quando a moeda alcançou um valor mais acessível todo mundo estava indo pra Disney, inclusive as empregadas domésticas.
Um grupo de entidades e organizações que vem trabalhando em prol da população mais vulnerável durante a pandemia também se pronunciaram contra as últimas declarações do ministro Paulo Guedes.
“O auxílio emergencial não é uma dádiva, é uma obrigação constitucional do Estado brasileiro, que é obrigado a assumir a responsabilidade por aqueles que venham a se encontrar em estado de miséria. O que foi oferecido é uma migalha e fruto da pressão da sociedade e do Congresso Nacional. Inicialmente, o presidente da República não demostrava interesse em socorrer esses milhões de despossuídos” é o que relata Antônio Carlos Costa, da ONG Rio de Paz.
“Para que se tenha uma ideia do que essas migalhas representam para o necessitado, basta que procuremos saber quanto custa o aluguel de um barraco em favelas no Rio de Janeiro. Não se aluga por menos de R$ 400 ou R$ 500”, acrescenta o mesmo.
De acordo com o economista Raul Velloso, o benefício está longe de ser um meio de transferência de riqueza como defendeu o ministro Paulo Guedes.
“O programa foi somente transferência de renda para os desvalidos que, sendo informais, não tinham qualquer tipo de proteção. Por medo de pegar a doença e morrer, tinham mais que ficar quietos e sequer podiam fazer seus velhos. O valor do auxílio sequer repõe o que eles ganhavam com os bicos. Numa situação dessas, com a economia super desaquecida, o governo pode emitir moeda a rodo para financiar esse tipo de gasto, que não faz sequer coceira na inflação”, comentou o economista.
Paulo Guedes realizou outra declaração na última quarta-feira, 25 de agosto, minimizando os riscos de uma crise energética. De acordo com ele. o problema é somente uma “nuvem no horizonte” para o reaquecimento da economia brasileira. Além disso, o ministro também questionou sobre qual seria o problema de o valor da energia elétrica sofrer um aumento devido ao fato deste ano ter chovido menos.
De acordo com Velloso, é necessário que o governo efetue uma intervenção para agir a favor dos cidadãos mais impactados economicamente com a pandemia.
“A crise energética será um problema sério, principalmente se não houver subsídio, especialmente aos mais necessitados, pois eles, que mal conseguem sobreviver minimamente, terão de pagar bem mais por um insumo tão relevante quanto esse”, pontuou.
Por fim, o recente aumento da inflação em agosto diminuiu consideravelmente o poder de compra das famílias do país. Estas, ainda, vêm recorrendo a cada dia mais ao crédito para efetuar o pagamento das contas do mês.
A ação tem levado a população a números jamais vistos anteriormente no país de endividamento. É o que demonstra, portanto, a economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Izis Ferreira.
De acordo com ela, então, “o endividamento vem batendo recorde após recorde desde abril. A curva de endividamento tem acirrado inclinação. Isso mostra que as famílias estão com dificuldade de compor orçamento, de a renda chegar até o fim do mês. E isso tem levado ao maior endividamento”. Além disso, ela também indica que, na prática, as famílias têm acessado empréstimos para pagar as conta.