O diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura), Jacques Diouf, escreveu artigo reproduzido em jornal brasileiro. O título, “Alimentos para o Futuro”. No subtítulo, em tipos negritos, a distração reproduzida do texto traduzido: “A menos que tomemos hoje as decisões adequadas, nos arriscamos a que, amanhã, a dispensa mundial esteja perigosamente vazia”.
“Dispensa”, escreveu o tradutor. É claro que ele quis dizer “DESPENSA”, lugar onde se guardam alimentos, já que o artigo trata disso mesmo.
É verdade que o e átono da primeira sílaba de “despensa” pode soar como i na fala. Verdade também que a palavra “dispensa”, substantivo e flexão do verbo “dispensar”, provavelmente é mais usada: “dispensa” é licença para não fazer algo e “dispensar” é dar dispensa, desobrigar – nada a ver, portanto, com alimento e sua falta em muitos lugares.
“Despensa” e “dispensa” são palavras parônimas. Os parônimos se caracterizam pela quase homonímia, isto é, pela semelhança extrema. Diferem muito pouco na grafia e na pronúncia: descrição / discrição, vultoso / vultuoso, deferir / diferir, emigrar / imigrar etc.). Enfim, são palavras muito parecidas entre si, cuidado com elas.
São como políticos, que parecem, mas não são; ou são, mas não parecem. O que não faz a menor diferença, ao contrário das parônimas, que podem mudar o sentido do que se pretende dizer.
Português e espanhol têm muito em comum, em razão da ascendência latina. Mas muitas palavras que os dois comungam têm significados distintos. Há termos heterossemânticos, de origem comum, mas com desenvolvimento em cada idioma que levou a outros sentidos. E há os falsos cognatos, palavras de origens diferentes que, por acaso, assumiram formas fonéticas ou gráficas semelhantes.
Um glossário de palavras estrangeiras que confundem os tradutores
Por semelhança morfológica ou fonética com palavras da língua portuguesa, muitos vocábulos do idioma inglês são, não raro, traduzidos no Brasil de forma equivocada, seja em versões de obras literárias ou em legendas de cinema, de programas e seriados de TV.
Assim, assault é, por vezes, convertida em “assalto”, quando seu significado em português é “agressão”, algo muito diferente. A praga tradutória afeta até as expressões compostas por termos em inglês que isoladamente possuem outros sentidos que os dados à locução (living thing, por exemplo, significa “ser vivo”, não “coisa viva”). Por isso, aquelas palavras estranhas no meio de uma frase do best-seller ou no diálogo do filme podem não ser culpa do autor ou roteirista, mas trapalhada de algum tradutor.