Com muita festa, há alguns dias atrás, foi anunciado um aumento no PIB (Produto Interno Bruto) de 1,2%. Mas o que isso representa, de fato?
Muitos economistas estão chamando essa alta do PIB de “recuperação K”, quando uma parte da sociedade cresce, e a outra, despenca. O que estamos vendo, na verdade, é uma recuperação cíclica da economia.
Como explicado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por um país, estado ou cidade, geralmente em um ano.
O primeiro fator que influencia a variação do PIB é o consumo da população. Quanto mais as pessoas gastam, mais o PIB cresce.
Se as pessoas ganham mais e pagam menos juros nas prestações, o consumo é maior e o PIB cresce.
Com salário baixo, desemprego e juros altos, o consumo cai e o PIB também. Por isso, os juros controlados pela taxa básica Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia), quando estão altos, atrapalham o crescimento do país.
Os investimentos das empresas também influenciam no PIB. Se as empresas crescem, compram máquinas, expandem atividades, consequentemente contratam trabalhadores e movimentam a economia. Os juros também atrapalham aqui: quando estão altos, os empresários não investem tanto, pois o crédito tem um custo mais elevado.
Os gastos do governo, quando bem direcionados, são outro fator que impulsiona o PIB. Quando faz obras, como a construção de uma estrada, são contratados operários e é gasto material de construção, o que ele eleva a produção geral da economia.
As exportações também fazem o PIB crescer, pois mais dinheiro entrando no país significa mais investimentos e consumo.
A pandemia chegou ao Brasil em um período no qual o país ainda estava em uma estagnação econômica, se recuperando lentamente da crise de 2015 e 2016. No ano passado, uma parte da economia simplesmente teve que fechar as portas.
Agora, com a segunda onda, mesmo com recordes mundiais diários de mortes, essa parcela da população, que estava até então parada, votou à atividade. Isso acontece talvez por causa de uma “normalização”: especialistas em saúde mental dizem que é difícil permanecer em estado de alerta por um longo tempo. As pessoas podem estar menos receosas do que no ano passado.
Sem contar que, grande parte das pessoas não tem condições de sem manter isolado, se obrigando a voltar a circular. Com isso, o consumo de mercadorias e serviços foi maior, proporcionalmente, do que no ano passado.
A recuperação internacional por conta dos países com avançada vacinação, também beneficiou o Brasil, aquecendo as exportações.
As previsões são de que o PIB, no final deste ano, chegue a 4,5%. Mas não podemos esquecer que, no ano passado, caímos 4%. É como despencar de um barranco. Caído lá embaixo, ainda machucado, precisa lutar pra subir de volta. Cada passo é um progresso, mas as consequências do tombo são significativas.
Toda essa movimentação e recuperação de renda tende a beneficiar principalmente as classes média e alta, que não foram tão afetados assim pela pandemia.
Já as classes média e baixa sofrem com a inflação alta, principalmente com os elevados preços do combustíveis e energia. E o desemprego, em níveis assustadores, assola especialmente aos mais pobres. A taxa média de desemprego manteve-se no nível recorde de 14,7% no trimestre encerrado em abril, segundo o IBGE.
Este índice no país foi puxado por duas das grandes regiões: Norte, que passou de 12,4%, no último trimestre de 2020, para 14,8%, no primeiro trimestre de 2021, e Nordeste, em que o indicador foi de 17,2% para 18,6%. Em ambas as regiões, é a maior taxa já registrada desde 2012.
“Nas outras regiões, o cenário foi de estabilidade na desocupação e na ocupação na comparação trimestral”, explica a analista da pesquisa PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), Adriana Beringuy. Apesar de permanecer estável, a taxa de desocupação no Sudeste é maior do que a do Norte: 15,2%.
“A recuperação da economia brasileira vai ser sem empregos, com algumas áreas crescendo, mas sem resolver as perdas sofridas no período todo.” – explica Guilherme Mello, professor do Instituto de Economia da Unicamp.
A Selic, que regula a taxa básica de juros, aumentou para tentar conter a inflação. Em tese, aconteceria o seguinte: com a elevação da Selic, o credito fica mais caro. Com isso, haveria menos consumo e investimentos, então, com menos crescimento, a economia desacelera e contém as pressões inflacionárias.
Mas na prática o que acontece é que o Banco Central aumenta a taxa de juros para valorizar a taxa de câmbio. Assim, o investidor estrangeiro nota que investindo aqui terá um lucro maior, a comparar com os Estados Unidos, aonde o juro é zerado.
Com nosso câmbio valorizado, os importados ficam mais baratos. Por consequência, as empresas brasileiras perdem lucro.
Commodities são produtos semelhantes comercializados mundialmente e, não importa de onde venham, como soja, minério de ferro e petróleo. Geralmente são bens primários e não industrializados.
Hoje estamos em uma fase de grande valoração das commodities que estão sendo exportadas. A alta do preço delas pressiona para cima o custo dos alimentos, energia e combustíveis comercializados aqui no Brasil.
Apesar de estarem em expansão, estes setores extrativos do agronegócio geram poucos empregos. Já o setor de serviços, que gera muitos empregos, está em baixa. Para ele voltar a crescer rápido, dependemos, entre outras coisas, da vacinação. O economista e sócio da MB Associados José Roberto Mendonça de Barros falou para a CNN Brasil: “Chama a atenção que no ano passado só a agropecuária teve crescimento positivo. Todos os outros setores do PIB tiveram crescimento negativo. A pandemia leva a restrições de mobilidade e, com isso, o setor que mais sofre é serviços, porque boa parte desse setor exige aglomeração e presença das pessoas, e é o setor que mais emprega”.