A violência doméstica é uma realidade triste e preocupante em nossa sociedade. Milhares de mulheres sofrem diariamente com agressões físicas e emocionais dentro de seus próprios lares. No entanto, graças aos avanços da tecnologia, novas soluções estão surgindo para ajudar a combater esse problema. Uma delas é o uso da inteligência artificial, que pode trazer uma nova esperança para as vítimas de violência doméstica.
Nice era uma mulher que, no passado, foi vítima de violência doméstica. Hoje, o nome “Nice” é associado a um chip com inteligência artificial que foi desenvolvido para proteger mulheres que sofrem com esse tipo de violência. Esse dispositivo, que pode ser fixado em um relógio, pingente ou qualquer outro acessório, é acionado com um simples toque e envia alertas para pessoas de confiança da vítima.
A história do chip Nice começou durante a pandemia, um período em que houve uma explosão nos casos de violência doméstica. Foi nesse contexto que Mateus de Lima Diniz, um jovem empreendedor, lançou um aplicativo chamado “Todas Por Uma”. Esse aplicativo permite que mulheres enviem pedidos de socorro ao balançar o celular. Mateus, que conhecia bem essa realidade por ter presenciado sua mãe, Nice, ser vítima de violência doméstica, desenvolveu o aplicativo como trabalho de conclusão de curso na Etec Prof. Horário Augusto da Silveira, em São Paulo.
O objetivo do aplicativo era entrar na casa do agressor de forma discreta. Ao ser aberto, o aplicativo exibe uma publicidade falsa na tela. Quando a vítima balança o celular, pessoas previamente cadastradas são notificadas. Esses contatos, chamados de “anjos”, recebem não apenas um aviso de perigo, mas também a localização em tempo real da vítima, atualizada a cada 30 segundos.
Desde o seu lançamento, em setembro de 2020, o Todas Por Uma tem se expandido e já está presente em 30 países, como Estados Unidos, Canadá, África, Colômbia e Portugal. Atualmente, o aplicativo é utilizado por 85 mil mulheres e já realizou mais de 1.500 notificações de violência.
O sucesso do aplicativo Todas Por Uma foi reconhecido com o prêmio ExpoFavela, voltado para empreendedores e startups de comunidades carentes. A final do prêmio foi realizada em formato de reality show no programa É de Casa, da Globo, e Mateus recebeu um prêmio de R$ 80 mil para impulsionar ainda mais o seu projeto.
Agora, o plano é lançar o chip Nice como uma evolução do aplicativo. A Nice funcionará como uma assistente de inteligência artificial que ajudará as mulheres a pedirem socorro de forma ainda mais discreta. A ideia é conectar as informações do aplicativo ao chip, que estará presente em um acessório utilizado pela mulher. Dessa forma, a segurança é reforçada, já que muitas vezes as vítimas têm o celular retirado pelos agressores.
Segundo Mateus, o principal papel do chip Nice é evitar o feminicídio. Ele possibilita que a mulher peça ajuda mesmo quando tudo lhe é retirado pelo agressor, inclusive o acesso à internet. Nesses casos, o chip busca redes de Wi-Fi de vizinhos previamente cadastradas ou redes públicas.
Atualmente, o chip Nice está na fase final de desenvolvimento. A busca agora é para que o tamanho do chip seja o menor possível, de forma que seja imperceptível nos acessórios utilizados pelas mulheres. O lançamento do chip Nice está previsto para ocorrer simultaneamente ao de um projeto voltado para empresas que se tornarem parceiras do Todas Por Uma. Essas empresas poderão oferecer em seus próprios aplicativos um botão de socorro conectado ao Todas Por Uma.
Além das soluções tecnológicas, é fundamental promover a conscientização e a prevenção da violência contra a mulher. Segundo Mateus, no Brasil, 52% das mulheres vítimas de violência não denunciam o agressor porque dependem financeiramente dele. Portanto, proporcionar às mulheres a independência financeira é uma maneira eficaz de prevenir a violência.
Como parte do projeto de parceria com empresas, o Todas Por Uma prevê também o treinamento dos funcionários para sensibilizá-los sobre a violência contra a mulher, tanto no ambiente doméstico quanto no corporativo. O programa também incentiva as empresas a contratarem mulheres, especialmente aquelas que são vítimas de violência.
O caso do aplicativo Todas Por Uma e do chip Nice não é o único exemplo de como a tecnologia está sendo utilizada para combater a violência doméstica. Durante a Campus Party, um festival de ciência e tecnologia realizado em São Paulo, estudantes apresentaram um projeto de uma bengala com sensor para auxiliar pessoas com deficiência visual.
Essa bengala, desenvolvida por alunos da Etec Prof. Massuyuki Kawano, de Tupa, interior de São Paulo, vibra quando se aproxima de obstáculos. A ideia por trás desse projeto é facilitar a vida das pessoas com deficiência visual e com dificuldade de movimentação dos braços. Com o sensor, a pessoa não precisa ficar constantemente mexendo a bengala para procurar obstáculos, pois o sensor faz esse trabalho por ela.
Os estudantes envolvidos no projeto estão empenhados em melhorar a atuação do sensor, para que ele seja capaz de detectar obstáculos em um raio de 180° e também alertar sobre a presença de buracos no caminho. A orientação do projeto foi feita pela professora de matemática Kimberly Fagundes Bezerra, que destaca o engajamento dos estudantes no aprendizado e na solução de problemas.
A inteligência artificial tem se mostrado uma aliada importante no combate à violência doméstica. O aplicativo Todas Por Uma e o chip Nice são exemplos de como a tecnologia pode ser utilizada para ajudar as mulheres a pedirem socorro de forma discreta e eficaz. Além disso, a conscientização e a independência financeira das mulheres são fundamentais para prevenir a violência. Com o uso adequado da tecnologia e o engajamento de toda a sociedade, podemos criar um ambiente mais seguro e protegido para as mulheres vítimas de violência doméstica.