No Brasil, o combate à violência contra a mulher se fortalece com ações concretas para promover a autonomia e a independência financeira de quem vivencia contextos de vulnerabilidade. Um passo recente nessa direção é a garantia de prioridade para mulheres em situação de violência no acesso a vagas de emprego e cursos de qualificação profissional ofertados pelo Sistema Nacional de Emprego (Sine).
A medida, resultado de um acordo entre o Ministério das Mulheres e o Ministério do Trabalho e Emprego, traz novas esperanças para quem busca romper com ciclos de agressão e construir sua liberdade por meio da inserção no mercado de trabalho.
Mulheres vítimas de violência doméstica e familiar muitas vezes enfrentam barreiras adicionais para encontrar oportunidades de crescimento e estabilidade financeira. A reserva de 10% das vagas do Sine para essas mulheres, prevista na Lei n.º 14.542/2023, tem potencial para transformar trajetórias e criar uma rede de suporte mais eficiente, conectando políticas de proteção social, geração de renda e qualificação.
A nova medida garante que mulheres que estejam sob risco, ou que já tenham vivido episódios de violência doméstica, tenham acesso facilitado a vagas de emprego e cursos técnicos ofertados pelo Sine em todo o território nacional.
O processo respeita a privacidade das vítimas, demanda encaminhamento mediante comprovantes como boletins de ocorrência, decisões judiciais, notificações oficiais ou indicações de órgãos especializados, como os Centros de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM).
Além disso, os cursos oferecidos visam áreas com maior empregabilidade, incluindo setores em expansão e profissões que permitam independência e crescimento.
O objetivo vai além de inserir no mercado; pretende apoiar a construção de uma trajetória profissional, capaz de propiciar segurança econômica e promover o empoderamento.
O acordo entre ministérios foi assinado durante a 5ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, evento que reuniu representantes do país inteiro para debater ações de igualdade de gênero. Uma das motivações centrais é entender que a autonomia econômica funciona como proteção, contribuindo para que as mulheres se sintam seguras para interromper relações abusivas e reconstruir a autoestima.
Entre as estratégias anunciadas está o desenvolvimento de campanhas informativas e ações de conscientização para divulgar o direito à prioridade e a importância de conquistar autonomia financeira. Tais campanhas objetivam não apenas informar, mas também combater preconceitos, incentivando empresas privadas e órgãos públicos a ampliarem o olhar para essa pauta social.
O desemprego e a dependência financeira são obstáculos frequentes para mulheres que buscam romper com situações de violência. Dados do Ministério do Trabalho mostram que, enquanto a taxa média de desemprego entre mulheres brasileiras está em 6,9%, esse número sobe para 16% entre mulheres negras. A vulnerabilidade econômica, aliada ao preconceito, reforça o ciclo de violência.
Em muitos casos, a falta de formação ou de experiência profissional dificulta ainda mais a recolocação após o rompimento de laços abusivos. Por isso, o novo acordo interministerial também oferece mecanismos para ampliar o acesso de mulheres a cursos técnicos, oficinas e programas de capacitação voltados para o crescimento contínuo.
Campanhas informativas sobre o direito das mulheres em situação de violência à prioridade em vagas e cursos são essenciais para garantir que a medida saia do papel e chegue, de fato, a quem mais precisa. Esse movimento tem efeito direto, facilitando o acesso à informação, reduzindo estigmas e promovendo a denúncia de situações de risco.
Além dos canais públicos, como o Ligue 180 para denúncias e orientação, as campanhas têm reforçado a importância de integrar órgãos como os Correios, o Ministério das Comunicações, o Ministério da Justiça, entre outros, no processo de divulgação e incentivo à inclusão digital e social dessas mulheres.
O acesso à qualificação é elemento fundamental para ampliar horizontes e reverter quadros de vulnerabilidade. Cursos de curta e média duração, oficinas práticas, treinamentos presenciais ou à distância oferecem oportunidades adaptadas ao perfil de cada mulher, respeitando suas realidades e expectativas.
Áreas como saúde, administração, tecnologia, serviços, comércio e empreendedorismo social surgem como focos, pois apresentam índices elevados de empregabilidade. Com cursos direcionados, aumenta-se a chance de recolocação ou até de iniciar um pequeno negócio, promovendo independência.
Diversas pesquisas reforçam que o vínculo ao mercado de trabalho contribui para a redução dos índices de violência doméstica. Mulheres com fontes próprias de renda conseguem romper relações abusivas com mais facilidade, protegem seus filhos e passam a construir redes de apoio mais sólidas.
A experiência coletiva da 5ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres consolidou novas diretrizes para a atuação governamental, com investimentos superiores a R$ 10 milhões em editais voltados ao fortalecimento da rede de proteção e logística para atenção às mulheres no Brasil inteiro.
Esse avanço é resultado de articulação direta entre movimentos sociais, entidades públicas e especialistas, que seguem monitorando e propondo aperfeiçoamentos para as políticas já existentes.
Empresas que adotam programas de acolhimento e prioridade para mulheres vítimas de violência, seja em contratações diretas ou por meio de parcerias com o Sine, ampliam seu papel social e colaboram para transformar realidades. Práticas como treinamentos de equipes, ajustes de processos internos e divulgação dos direitos podem impactar positivamente as comunidades e fortalecer ambientes igualitários.
O engajamento da sociedade é igualmente importante: compartilhar informações, apoiar campanhas de conscientização e denunciar situações de risco são ações que protegem vidas e oferecem esperança a quem sofre em silêncio.