O governo federal teve que adotar medidas de controle de despesas no Orçamento de 2024, levando a contingenciamentos e bloqueios que totalizam R$ 15 bilhões. Essa medida afetou diretamente programas voltados à população de baixa renda, como o Farmácia Popular e o Auxílio Gás, que têm como objetivo fornecer medicamentos e auxílio para a compra de botijões de gás de cozinha, respectivamente.
As restrições orçamentárias refletem os esforços do governo em cumprir as regras do novo arcabouço fiscal, que estabelece limites para os gastos públicos e metas de resultado primário. No entanto, essa medida suscita preocupações sobre os efeitos adversos nos segmentos mais vulneráveis da sociedade.
O Farmácia Popular, programa emblemático do Ministério da Saúde, sofreu um dos maiores golpes com o bloqueio de R$ 1,7 bilhão em sua vertente de entrega gratuita de medicamentos. Esse valor representa cerca de metade do orçamento que ainda poderia ser empenhado para essa finalidade.
Além disso, o programa já havia enfrentado cortes anteriores no decorrer do ano, somando aproximadamente R$ 260 milhões em recursos perdidos, incluindo a modalidade de descontos em produtos farmacêuticos.
O Farmácia Popular desempenha um papel essencial no acesso a medicamentos para doenças crônicas, como diabetes, asma, hipertensão, glaucoma e Parkinson, entre outras. Ao fornecer gratuitamente esses medicamentos, o programa contribui para a promoção da saúde e a redução dos custos associados ao tratamento dessas condições para a população de baixa renda.
Recentemente, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, comunicou a ampliação da lista de produtos distribuídos gratuitamente nas farmácias conveniadas, destacando o compromisso do governo em ampliar o acesso a medicamentos essenciais.
Outro programa afetado pelos cortes orçamentários é o Auxílio Gás, que teve R$ 580 milhões bloqueados, equivalente a cerca de um terço do recurso que ainda poderia ser empenhado. Esse auxílio é destinado a famílias inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) com renda familiar mensal por pessoa inferior ou igual a meio salário mínimo.
O Auxílio Gás oferece um subsídio a cada dois meses para a aquisição de um botijão de 13 quilos de gás de cozinha, com o valor determinado com base na média do preço do gás nos últimos seis meses, segundo levantamento da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Em junho, o governo destinou R$ 102 a 5,81 milhões de famílias beneficiadas.
O Auxílio Gás desempenha um papel fundamental na garantia do acesso a uma fonte de energia essencial para a preparação de alimentos e o aquecimento de ambientes. Ao subsidiar a compra de botijões de gás, o programa auxilia as famílias de baixa renda a superar os desafios financeiros e manter condições mínimas de subsistência.
Cortes nesse auxílio podem resultar em dificuldades adicionais para essas famílias, comprometendo sua capacidade de preparar refeições adequadas e manter um ambiente doméstico saudável.
Além dos programas sociais, os bloqueios orçamentários também atingiram outras áreas, como os projetos de concessões rodoviárias e ferroviárias outorgadas à iniciativa privada pelo Ministério dos Transportes.
Nesse setor, foram bloqueados R$ 934,4 milhões destinados à participação da União em projetos de concessões rodoviárias, representando mais de 80% da verba disponível nessa rubrica. Adicionalmente, R$ 458 milhões dos R$ 577 milhões previstos para concessões ferroviárias também foram contingenciados.
Esses cortes podem impactar a execução de obras de infraestrutura essenciais para o desenvolvimento econômico e a logística do país, com possíveis reflexos negativos na geração de empregos e no escoamento de produtos.
O novo arcabouço fiscal estabelece duas regras principais: um limite de gastos e uma meta de resultado primário, calculada com base na diferença entre receitas e despesas, descontada a dívida pública.
O bloqueio de gastos ocorre quando há um aumento projetado nas despesas obrigatórias, como benefícios previdenciários, salários do funcionalismo e pisos constitucionais de Saúde e Educação. Nesse caso, o governo precisa bloquear parte dos gastos discricionários, como investimentos e custeio da atividade administrativa, para garantir que haja espaço suficiente no Orçamento para honrar todas as obrigações.
Por outro lado, o contingenciamento é aplicado quando há uma projeção de perda de arrecadação, comprometendo o cumprimento da meta fiscal estabelecida. Nessa situação, o governo pode repor o valor com outras medidas fundamentadas tecnicamente ou efetuar um contingenciamento sobre as despesas, reduzindo os gastos previstos.
Em cenários extremos, é possível que o governo precise adotar tanto o bloqueio quanto o contingenciamento simultaneamente, caso haja um aumento nas despesas obrigatórias e uma queda na arrecadação de receitas.
Os cortes orçamentários nos programas sociais, como o Farmácia Popular e o Auxílio Gás, suscitam preocupações sobre os impactos negativos na qualidade de vida e no bem-estar das famílias de baixa renda. Essas medidas podem dificultar o acesso a medicamentos essenciais e comprometer a capacidade de preparar refeições adequadas, exacerbando as vulnerabilidades já enfrentadas por essas populações.
Além disso, os bloqueios e contingenciamentos em setores como infraestrutura e transportes podem afetar o crescimento econômico, a geração de empregos e a eficiência logística, com consequências que se estendem por toda a cadeia produtiva.
Embora o governo enfrente desafios no cumprimento das regras fiscais, é essencial encontrar um equilíbrio entre a disciplina orçamentária e a manutenção de programas sociais fundamentais. A adoção de medidas equilibradas, com foco na eficiência e na priorização dos gastos, pode ajudar a mitigar os impactos negativos sobre os segmentos mais vulneráveis da sociedade e promover um desenvolvimento mais inclusivo e sustentável.