Direitos do Trabalhador

Mais de 90% das mães em home office precisam cuidar dos filhos também

De acordo com pesquisa de empresa de consultoria, maioria das mães trabalhadoras precisam fazer uma "jornada dupla"

Ser mãe e trabalhadora certamente não é uma tarefa fácil no Brasil. Quem está dizendo isso é uma pesquisa da empresa de Consultoria Catho. De acordo com o levantamento, cerca de 92% das mães que ainda estão em home office precisam se dividir para cuidar dos filhos também.

Então na prática, essas mulheres estão realizando uma espécie de jornada dupla de trabalho, ainda que elas estejam recebendo um salário apenas para realizar um deles. Em tese, especialistas dizem que não há nada de errado em ter que cuidar dos filhos. O erro mesmo está na diferença de gênero quando esse é o assunto.

Segundo a pesquisa, 69% das mães trabalhadores que estão indo para a sede do trabalho, precisam deixar os filhos com outras pessoas. Do outro lado, apenas 19% afirmaram que deixam os filhos com os pais neste período em que ela está no emprego.

Nesse mesmo passo, os pais trabalhadores que estão saindo para o local do trabalho deixam muito mais os seus filhos com as mães. De acordo com a pesquisa, cerca de 58% fazem isso. Do outro lado da história, cerca de 16% deixam os filhos com outras pessoas.

Outro dado importante dessa pesquisa é que boa parte dessa opção “outras pessoas” são mulheres. De acordo com a pesquisa nós estamos falando de tias, avós, irmãs e madrinhas, por exemplo. São portanto raros os casos em que quem fica com os filhos são os pais.

Jornada dupla

De acordo com especialistas, essa espécie de jornada dupla é uma realidade na vida de muitas mães trabalhadoras. Por causa da dificuldade do processo, muitas delas acabam tendo que escolher entre só trabalhar ou só ser mãe. Isso porque acumular as duas coisas não é uma tarefa fácil.

Toda essa questão acaba se ligando também com a dificuldade que as mulheres possuem de conseguir um emprego formal. Na maioria das vezes, os empregadores preferem contratar os homens por considerarem que eles não engravidam e que eles “naturalmente” não precisarão cuidar de filhos.

Na pandemia, por exemplo, a maioria das pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirma que as mulheres acabaram sofrendo proporcionalmente mais demissões. Assim como elas também estão com mais dificuldades de retornar ao mercado de trabalho.

Home office no Brasil

A pesquisa da Catho entrevistou cerca de seis mil trabalhadores de todas as regiões do Brasil. A pesquisa revelou também que cerca de 15% dos empregados brasileiros ainda estão trabalhando em regime de home office. Isso significa dizer portanto que mesmo com o andar da pandemia, as empresas seguiram permitindo que os trabalhadores permanecessem em casa.

Há um claro recorte social sobre essa questão também. É que a grande maioria das pessoas que seguem em regime de home office são brancas, de classe média para alta e com alta escolaridade. Além de tudo isso, essas pessoas costumam ganhar salários maiores do que a média.

Algumas empresas, aliás, estão pensando em adotar o home office de forma definitiva. No entanto, isso seria feito com cuidado e não antes de um longo período de transição. Cerca de 71% dos trabalhadores brasileiros tiveram que voltar para os seus postos no trabalho fisicamente mesmo com a pandemia.