Os brasileiros não dispensaram o uso do cartão de crédito em 2022. A modalidade liderou o ranking nacional de tipos de dívidas que os consumidores possuíam no ano passado, alcançando o maior valor já registrado pela série histórica, iniciada em 2010.
Os dados fazem parte da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), que revelou que 86,6% das famílias do país tinham alguma dívida com cartão de crédito em 2022. A taxa superou o volume registrado em 2021, ano em que 82,6% dos consumidores estavam endividados nesta modalidade.
Em agosto deste ano, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), responsável pela Peic, revelou que 85,5% das famílias tinham dívidas no cartão de crédito. O percentual é inferior ao registrado em julho (85,9%), mas ainda é muito elevado.
Ao considerar os últimos dez anos, a proporção de pessoas com dívidas no cartão de crédito cresceu 10,2 pontos percentuais (p.p.) no país. Isso porque, em 2013, o percentual de endividados estava em 75,2%, taxa que já era muito alta.
Vale destacar que o crescimento desse percentual de endividamento na modalidade se concentrou nos dois últimos anos. Segundo a Peic, a taxa estava em 78,0% em 2020, ou seja, a proporção de endividados no cartão de crédito disparou 8,6 p.p. em apenas dois anos, e isso aconteceu, principalmente, por causa da pandemia da covid-19.
Em síntese, a crise sanitária impulsionou a inflação em todo o planeta, inclusive no Brasil. Para segurar a taxa inflacionária, o Banco Central (BC) elevou os juros ao maior patamar em seis anos, reduzindo o poder de compra do consumidor. E isso encareceu o crédito, impulsionando o endividamento e a inadimplência no país.
De acordo com a Peic, a proporção de dívidas com cartão de crédito liderou o ranking nacional de débitos em agosto deste ano. O resultado não é uma surpresa, visto que esta é a modalidade mais utilizada pela população, pois permite o pagamento em data posterior. Aliás, a proporção de dívidas nas outras modalidades é bem menor que a do cartão de crédito.
Veja abaixo os principais tipos de dívidas dos brasileiros em agosto de 2023:
A saber, a proporção de dívidas no cartão de crédito recuou pelo segundo mês consecutivo. Com isso, o número de endividados nesta modalidade caiu para o menor patamar desde agosto do ano passado, ou seja, em um ano.
Aliás, o recuo na proporção de endividados com o cartão de crédito caiu 0,4 ponto percentual (p.p.) em um mês. As outras modalidades que também tiveram queda no número de endividados foram crédito pessoal (-0,2 p.p.), financiamento de casa (-0,2 p.p.) e cheque especial (-0,1 p.p.).
Por outro lado, a CNC destacou que carnês de loja foram a única modalidade de dívida com avanço em agosto (+0,4 p.p.) na comparação com julho. Contudo, a modalidade não afetou o número de endividamento em todo o país, que caiu em agosto.
A propósito, a CNC realiza a Peic desde 2010. Em agosto de 2023, o endividamento atingiu 77,4% das famílias do país. Esse é o menor patamar desde junho de 2022, ou seja, em 14 meses.
Em agosto, o endividamento caiu 2 pontos percentuais para as famílias que recebiam de 5 a 10 salários mínimos. Esse foi o principal destaque do mês e ajudou a reduzir a proporção de endividados no país.
O percentual de famílias endividadas também recuou entre os consumidores com renda de até 3 salários mínimos (-0,3 p.p.) e de 3 a 5 salários mínimos (-0,2 p.p.). Já a proporção de dívidas entre as famílias com renda superior a 10 salários mínimos se manteve estável em relação a julho.
Embora o endividamento tenha recuado pelo segundo mês consecutivo, o número de famílias inadimplentes bateu recorde no país em agosto. Segundo os dados da Peic, três em cada dez famílias estavam com dívidas atrasadas no país.
A taxa chegou a 30% no mês passado, superando a inadimplência registrada em julho (29,6%). Aliás, a CNC nunca havia registrado uma taxa de inadimplência tão elevada quanto a do mês passado.
Em resumo, a pessoa inadimplente é aquela que possui dívidas ou contas em atraso. Existem alguns fatores que propiciam o aumento da inadimplência entre os consumidores, como manter mais de um cartão de crédito e não se atentar à própria saúde financeira e às datas de pagamento das contas.