Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset, acredita que o governo brasileiro perdeu o foco do auxílio emergencial ano passado e que isso corre o risco de se repetir esse ano. O economista já foi secretário adjunto do Ministério da Economia em 2017 e 2018, sob gestão do ministro Henrique Meirelles.
Ele define como factível o programa limitado a R$ 30 bilhões durante três ou quatro meses e com contrapartidas fiscais. Entretanto, ele afirma que, em 2020, grande parte dos recursos do auxílio foram destinados para quem não teve perda de renda do emprego informal e, consequentemente, não tinham finalidade emergencial. “O ponto é que você deu muito dinheiro para famílias que não foram impactadas em nada pela crise”, disse o economista em entrevista ao Estadão.
O economista avalia que a segunda onda da pandemia no Brasil, a piora em Manaus e a nova cepa alteraram a temperatura do Congresso sobre a necessidade de prorrogação. Ainda assim, o economista se diz crítico a “como foi feito o auxílio no ano passado”. “No primeiro programa, tudo bem, porque não se sabia o que estava acontecendo. Mas renovamos duas vezes o programa sem ter nenhum estudo técnico”, opinou.
Genta ainda opinou sobre como o auxílio deveria ser operacionalizado. “Primeiro é preciso votar o Orçamento e por mais que as lideranças prometam aprovar o Orçamento na virada de fevereiro para março, do jeito que as coisas estão, não me surpreenderia a discussão correr ao longo de março. Aí precisa saber se é viável ou não aprovar um novo programa de auxílio sem ter o Orçamento. Acho questionável. Se for para esse caminho, a Economia está defendendo que isso seja feito por PECs, com contrapartidas”, disse ele.
O economista argumentou ainda que, o que foi gasto “de desperdício” no auxílio emergencial em 2020 conseguiria dobrar o orçamento do Bolsa Família durante nove anos.