O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a falar sobre o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Nesta quinta-feira (16), o petista afirmou que não tem interesse em “brigar com um cidadão que é presidente do Banco Central”.
A declaração de Lula ocorreu durante uma entrevista para a “CNN Brasil”. Aliás, o presidente da República vem fazendo repetidas críticas a Campos Neto nos últimos dias. E o mercado financeiro teme a falta de harmonia entre o Executivo e a principal entidade financeira do país.
“Como presidente da República, não interessa brigar com um cidadão que é presidente do Banco Central, que eu pouco conheço. Eu vi ele uma vez”, disse Lula. Inclusive, ele afirmou que deseja levar Campos Neto para conhecer os lugares miseráveis do país. Assim, o presidente do BC poderá ter contato com a vida das pessoas.
“A única coisa que eu quero é que ele cumpra, sabe… Se ele topar, quando eu for levar o meu governo para visitar os lugares mais miseráveis deste país, eu vou levá-lo para ele ver. Ele tem que saber que a gente, neste país, tem que governar para as pessoas que mais necessitam”, afirmou durante a entrevista.
Muitos podem se perguntar porque Lula não retira Campos Neto da presidência do BC, mas a resposta é simples: porque ele não pode. Isso mesmo, o Banco Central tem autonomia desde 2021 para continuar com o seu presidente no cargo, mesmo havendo transição no governo federal.
Em resumo, isso começou a acontecer em 2021, graças à aprovação do Congresso Nacional e a consequente sanção do projeto pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Com isso, o BC ganhou um novo status, e o presidente Lula agora só pode fazer críticas, porque está impedido de trocar o comando da entidade.
“Não cabe ao presidente da República ficar brigando com o presidente do Banco Central. Eu até teria direito, porque ele não é presidente do Banco Central indicado por mim. Ele foi indicado pelo [ex-presidente Jair] Bolsonaro, pelo [ex-ministro da Economia, Paulo] Guedes”, disse Lula.
“Então significa que a cabeça política dele é uma cabeça muito diferente da minha cabeça e daqueles que votaram em mim, mas ele está lá. Está eleito e tem um mandato”, afirmou o petista.
Vale lembrar que Campos Neto tem mandato fixo de quatro anos. Isso quer dizer que ele ficará no comando da entidade até dezembro de 2024. Aliás, ele afirmou que é importante cumprir o mandato inteiro e que não sairá do comando até o final do próximo ano.
Durante a entrevista de Lula à “CNN Brasil”, o petista respondeu sobre a possibilidade de rever a autonomia do BC após o final do mandato de Campos Neto. Em síntese, o presidente afirmou que isso pode acontecer caso o atual status da entidade não melhore a economia do país.
“Ele [Banco Central] não é independente, é autônomo, mas não é independente. Ele tem compromisso com a sociedade brasileira, com o Congresso Nacional e com o presidente da República”, disse Lula.
“Isso nunca foi para mim uma coisa de princípio. Eu quero saber o resultado. O resultado vai ser melhor? Um Banco Central autônomo vai melhorar a economia? Ótimo. Mas, se não melhorar, temos que mudar”, acrescentou.
Na última semana, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, havia informado que o governo não pretendia acabar com a autonomia do BC. De acordo com ele, não havia “qualquer discussão” para alterar a lei que conferiu autonomia ao BC. Contudo, o presidente Lula mostrou que isso poderá acontecer.
Na quarta-feira (15), o presidente do BC afirmou que o crescimento econômico sustentável do Brasil poderá acontecer no Brasil caso haja uma política monetária e uma política fiscal de longo prazo.
“Acho que o governo está na direção certa, tem tido um debate bom, a gente precisa ter boa vontade, falar de juros e ter a crítica [isso] é natural. Quanto mais fortes são as instituições, mais esse debate pode ser intenso sem afetar preços de mercado e expectativas porque as pessoas entendem que esse é um debate natural”, afirmou Campos Neto, defendendo a autonomia do BC.
Inclusive, o presidente Lula já criticou o nível em que se encontra o juro básico da economia, além da política monetária definida pelo BC. Isso mostra que as tensões entre o Executivo e o Banco Central parecem estar longe de acabar.