O crédito imobiliário com recursos da caderneta de poupança no Brasil somou R$ 179,2 bilhões em 2022. Esse valor representa um forte recuo de 12,8% em relação a 2021, quando os financiamentos totalizaram R$ 205,4 bilhões, e indica o esfriamento do setor imobiliário no país.
A saber, a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), responsável pelo levantamento, divulgou os dados nesta semana. Aliás, o indicador se refere às novas concessões do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE).
Em resumo, a população brasileira sofreu em 2021 e no primeiro semestre de 2022 com a inflação muito elevada no país. Para segurar a taxa inflacionária, o Banco Central (BC) promoveu 12 altas consecutivas da taxa básica de juro da economia brasileira, a Selic, entre março de 2021 e agosto de 2022.
De acordo com alguns especialistas, os juros elevados podem ser compreendidos como um “remédio amargo” para um mal maior, que é a inflação. Inclusive, a taxa básica de juro da economia está em 13,75% ao ano, sendo este o maior patamar desde novembro de 2016, ou seja, em mais de seis anos.
Esse cenário acaba enfraquecendo o setor imobiliário, pois os juros estão muito elevados. Por falar nisso, quando a taxa Selic sobe, ela impulsiona os juros de diversos setores do país, como o imobiliário. Isso ocorre porque o objetivo do BC consiste reduzir o poder de compra do consumidor e, consequentemente, desaquecer a economia nacional.
Embora esse objetivo pareça algo negativo para o país, os juros elevados são necessários para reduzir a inflação, que corresponde ao aumento contínuo e generalizado dos preços de bens e serviços. Inclusive, uma inflação controlada resulta nos seguintes pontos positivos:
De acordo com a Abecip, o valor total do crédito imobiliário com recursos da poupança, somado aos empréstimos feitos com recursos do FGTS, chegou a R$ 240,8 bilhões no acumulado de 2022. Esse valor corresponde a uma queda de 5% na comparação com o 2021 (R$ 255,5 bilhões).
Embora o valor tenha recuado, vale destacar que o desempenho em 2022 foi o segundo melhor da série histórica da Abecip. Aliás, os recuos registrados no ano passado só aconteceram porque a base de comparação estava muito elevada, visto que os números do crédito imobiliário haviam batido recorde em 2021.
Isso aconteceu porque, em 2020, a pandemia da Covid-19 afundou a economia global. Para tentar impulsionar a atividade econômica brasileira, o BC reduziu a taxa Selic para 2,0% ao ano em agosto daquele ano, mantendo a taxa assim até março de 2021.
A saber, a crise sanitária afetou a cadeia produtiva global de diversos setores em 2020. A principal consequência disso foi o aumento dos preços de bens e serviços em 2021 devido a forte demanda. E, para enfrentar o novo desafio, o BC mudou a tática e passou a elevar repetidas vezes a Selic a partir daquele ano.
Em síntese, a Selic é o principal instrumento do BC para conter a alta dos preços de bens e serviços. Quanto mais alta ela estiver, mais altos ficarão os juros no país. Assim, o crédito fica mais caro, reduzindo o poder de compra do consumidor e desaquecendo a economia.
Como a inflação perdeu força em 2022, o Copom decidiu interromper a sequência de altas e vem mantendo a taxa Selic estável desde setembro. Contudo, como a inflação ainda está elevada, acima da meta, os juros deverão continuar altos no país por mais alguns meses.
Da mesma forma que aconteceu em 2022, a expectativa é que os financiamentos imobiliários também recuem no país em 2023. Apesar da estabilidade que os juros vêm mantendo nos últimos meses, o patamar em que se encontram é muito elevado, e acaba impulsionando os juros do setor imobiliário.
Em suma, os brasileiros que fazem financiamento de algum imóvel costumam pagar as parcelas por muitos anos. E, quanto mais alta a taxa Selic estiver, mais altos ficam os juros do setor, que refletem diretamente no valor das parcelas pagas pelos consumidores.
“Estamos com uma inflação muito acima da meta e isso provavelmente vai continuar em 2023 e, com isso, as taxas de juros deverão se manter em patamares considerados altos. Mas acreditamos que [o saldo da] poupança continuará resiliente”, disse o presidente da Abecip, José Ramos Rocha Neto.
“Podemos ter no final de 2023 uma poupança que se manterá estável ou com ligeira queda, mas com um saldo maior do que os R$ 658 bilhões, vistos no final de 2020”, acrescentou.
A saber, o saldo total da caderneta de poupança ficou em R$ 764 bilhões no ano passado. Isso representa uma queda de 3,3% em relação a 2021. Por outro lado, o saldo do FGTS totalizou R$ 502 bilhões, aumento de 7% na comparação anual.