O Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br) caiu 1,6 ponto em fevereiro deste ano, na comparação com o mês anterior. Com isso, o índice recuou para 111,7 pontos, após atingir em janeiro o maior nível em cinco meses.
Em resumo, taxas superiores a 100 pontos indicam que há algum grau de incerteza econômica no país, visto que essa marca reflete estabilidade do indicador. Assim, a faixa acima de 111 pontos mostra que a incerteza no país não é apenas superficial, mas ainda se encontra em nível razoável, apesar do recuo mensal.
Vale destacar que a queda do IIE-Br interrompe uma sequência de quatro meses consecutivos de alta do indicador. Nesse período, as expectativas em relação à atividade econômica brasileira estavam bastante enfraquecidas, mas houve uma leve melhora em fevereiro.
Aliás, é importante ressaltar que a incerteza se manteve em um patamar mais estabilizado nos últimos meses, com o indicador em nível elevado. Em suma, o país sofreu com o aumento da incerteza, mas isso aconteceu de maneira tímida e não impulsionou o indicador de maneira significativa.
O cenário atual é completamente diferente do que aconteceu nos últimos anos. Isso porque a incerteza econômica no Brasil disparou em 2020 devido à pandemia da covid-19, com o IIE-Br chegando a subir 52 pontos em março de 2020, para 167,1 pontos.
No mês seguinte, houve outra disparada, de 43,4 pontos, que fez a incerteza alcançar 210,5 pontos, maior nível da série histórica.
A título de comparação, antes da pandemia, o recorde do indicador havia sido alcançado em setembro de 2015, quando o IIE-Br chegou a 136,8 pontos. Em outras palavras, o novo recorde, registrado em 2020, ficou 53,9% maior que o maior patamar observado antes da crise sanitária.
A propósito, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), responsável pelo levantamento, divulgou as informações nesta semana.
Os últimos meses de 2022 ficaram marcados pelas incertezas envolvendo a transição do governo, após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência do país.
Ainda em dezembro de 2022, o Congresso Nacional aprovou a Emenda Constitucional nº 126, que liberou R$ 146 bilhões para o governo federal utilizar em 2023, fora do teto de gastos. Isso provocou um verdadeiro temor no mercado financeiro, que temia pela saúde fiscal do Brasil.
Em síntese, o aumento dos gastos públicos impulsiona a inflação no país. Como a taxa inflacionária disparou em 2021, o Banco Central (BC) passou a elevar consecutivamente a taxa de juro da economia brasileira.
Em 2022, a inflação perdeu força, mas se manteve elevada, superando a meta central definida para o ano. Aliás, o BC continuou elevando os juros no país, com a taxa Selic chegando a 13,75% ao ano, maior patamar em mais de seis anos.
A expectativa para 2023 é que os juros comecem a perder força, mas de maneira lenta e gradual. No entanto, isso só acontecerá se a inflação também recuar, o que será difícil com o aumento dos gastos públicos. E tudo isso prejudica a saúde fiscal do Brasil.
Embora ainda existam preocupações, houve uma leve melhora nessas percepções em fevereiro. Isso explica a queda da incerteza econômica, como afirma a economista do FGV Ibre, Anna Carolina Gouveia.
“Até meados do mês, o componente de Mídia havia subido, motivado possivelmente pelos ruídos em torno da discussão sobre a meta de inflação e da política monetária do Banco Central. Posteriormente, porém, o indicador voltaria a ceder, influenciado pelas sinalizações por parte da equipe econômica de que o foco nas questões sociais pelo governo não deixaria de lado a necessidade de responsabilidade fiscal”, disse.
Apesar do recuo mensal, o nível de incerteza econômica ainda está elevado no Brasil. “A queda do IIE-Br em fevereiro foi motivada por ambos os componentes do indicador, mas não suficiente para levá-lo ao nível confortável de incerteza, abaixo dos 110 pontos”, explicou Anna Carolina.
“A continuidade da convergência para níveis mais confortáveis no curto prazo dependerá do equilíbrio entre esses fatores”, destacou a economista.
Vale destacar que o IIE-Br possui dois componentes, o de Mídia e o de Expectativas. Em fevereiro, ambos recuaram, puxando o indicador de incerteza para baixo.
De um lado, o componente de Mídia caiu 1,0 ponto no mês, para 112,8 pontos, contribuindo com uma queda de 0,9 ponto para o indicador de incerteza.
Por sua vez, o componentes de Expectativas caiu 3,7 pontos, para 102,3 pontos, menor nível desde janeiro de 2022 (99,6 pontos). Dessa forma, o componente ajudou a reduzir o IIE-Br em 0,7 ponto.
Em resumo, o componente de expectativas exerce menos impacto que o de mídia. Por isso, a sua queda em fevereiro, apesar de mais intensa, exerceu menos influência no IIE-Br do que o componente de mídia. A propósito, o componente de expectativas mede a dispersão de especialistas para variáveis macroeconômicas.