O Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br) saltou 5,0 pontos em março deste ano, na comparação com o mês anterior. Com isso, o índice chegou a 116,7 pontos, maior nível desde julho de 2022 (120,8 pontos), ou seja, em oito meses.
Em resumo, taxas superiores a 100 pontos indicam que há algum grau de incerteza econômica no país, visto que essa marca reflete estabilidade do indicador. Assim, a faixa acima de 116 pontos mostra que a incerteza no país não é apenas superficial, mas ainda se encontra em nível razoável, ainda mais come esse avanço mensal.
Vale destacar que a alta do IIE-Br é a quinta nos últimos seis meses. Nesse período, as expectativas em relação à atividade econômica brasileira se mostraram cada vez mais enfraquecidas, apesar da leve melhora observada em fevereiro.
Aliás, é importante ressaltar que a incerteza vem se mantendo em um patamar relativamente estabilizado. Em suma, o indicador subiu na maioria dos últimos meses, mas as altas não foram muito expressivas. Assim, os resultados não impulsionaram significativamente o indicador.
O cenário atual é completamente diferente do que aconteceu nos últimos anos. Isso porque a incerteza econômica no Brasil disparou em 2020 devido à pandemia da covid-19, com o IIE-Br chegando a subir 52 pontos em março de 2020, atingindo 167,1 pontos.
No mês seguinte, houve outra disparada, de 43,4 pontos, que fez a incerteza alcançar 210,5 pontos, maior nível da série histórica.
A título de comparação, antes da pandemia, o recorde do indicador havia sido alcançado em setembro de 2015, quando o IIE-Br chegou a 136,8 pontos. Em outras palavras, o novo recorde, registrado em 2020, ficou 53,9% superior ao maior patamar observado antes da crise sanitária.
A propósito, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), responsável pelo levantamento, divulgou as informações nesta semana.
Os últimos meses de 2022 ficaram marcados pelas incertezas envolvendo a transição do governo, após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência do país.
Ainda em dezembro de 2022, o Congresso Nacional aprovou a Emenda Constitucional nº 126, que liberou R$ 146 bilhões para o governo federal utilizar em 2023, fora do teto de gastos. Isso provocou um verdadeiro temor no mercado financeiro em relação à saúde fiscal do Brasil.
Em síntese, o aumento dos gastos públicos impulsiona a inflação no país. Como a taxa inflacionária disparou em 2021, o Banco Central (BC) passou a elevar consecutivamente a taxa de juro da economia brasileira.
Em 2022, a inflação perdeu força, mas se manteve elevada, superando a meta central definida para o ano. Aliás, o BC continuou elevando os juros no país, com a taxa Selic chegando a 13,75% ao ano, maior patamar em mais de seis anos.
A expectativa para 2023 é que os juros comecem a perder força, mas de maneira lenta e gradual. No entanto, isso só acontecerá se a inflação também recuar, o que será difícil com o aumento dos gastos públicos. E tudo isso prejudica a saúde fiscal do Brasil. Contudo, não é apenas o cenário doméstico que pressiona a incerteza no país.
“De origem interna, a intensificação do debate entre o governo e o Banco Central a respeito da taxa de juros e a manutenção das incertezas fiscais em torno da nova regra fiscal influenciaram o resultado”, disse Anna Carolina Gouveia, Economista do FGV Ibre.
“Pelo lado externo, os ruídos de incerteza foram motivados pela crise bancária nos Estados Unidos e na Europa”, acrescentou.
O aumento do nível de incerteza econômica em março veio mais forte que o esperado. “Esta é a maior alta do IIE-Br, desde setembro de 2021, quando o indicador subiu 11,8 pontos, distanciando-o ainda mais do nível confortável de incerteza, abaixo dos 110 pontos.”, explicou Anna Carolina.
“As incertezas políticas e fiscais precisam arrefecer para que o indicador possa ceder nos próximos meses”, alertou a economista.
Vale destacar que o IIE-Br possui dois componentes, o de Mídia e o de Expectativas. Em março , ambos avançaram, impulsionando o indicador de incerteza.
De um lado, o componente de Mídia subiu 4,3 pontos no mês, para 117,1 pontos, contribuindo com uma alta de 3,8 pontos para o indicador de incerteza no mês.
Por sua vez, o componentes de Expectativas teve alta de 5,9 pontos, para 108,2 pontos, após atingir o menor nível em mais de um ano em fevereiro. Dessa forma, o componente ajudou a elevar o IIE-Br em 1,2 ponto.
Em resumo, o componente de expectativas exerce menos impacto que o de mídia. Por isso, a sua alta em março, apesar de mais intensa, exerceu menos influência no IIE-Br do que o componente de mídia. A propósito, o componente de expectativas mede a dispersão de especialistas para variáveis macroeconômicas.