A maioria dos investidores que alocaram seu dinheiro na Bolsa de Valores Brasileira em setembro deste ano conseguiu colher bons frutos. Isso porque o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa, encerrou o mês com uma leve alta de 0,71%.
Embora o avanço tenha sido bem tímido, vale destacar que 66 das 86 ações que compõem a carteira do indicador fecharam o mês no azul, ou seja, 76,7% do total. Isso mostra que a maioria dos investidores conseguiu ter ganhos em setembro, mesmo que tenham sido leves.
Aliás, a expectativa do mercado era que o Ibovespa fechasse setembro com uma alta mais significativa. Contudo, o cenário internacional não ajudou o índice, visto que as preocupações vindas dos Estados Unidos e da China fizeram muitos investidores buscarem os ativos de risco mais seguros do mundo, as treasuries, que são os títulos norte-americanos.
“Setembro terminou no zero a zero. Tínhamos uma perspectiva positiva, mas o cenário externo nos prejudicou. Na China, os estímulos não se concretizaram e nos Estados Unidos o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) pegou o mercado no contrapé ao indicar que os juros devem ficar altos por mais tempo“, disse Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, credenciado à XP, ao Valor Investe.
Em setembro, os investidores buscaram com mais intensidade os títulos norte-americanos, considerados os ativos mais seguros do mundo. Em resumo, o mercado considera esses papéis muito seguros, pois as chances de calote do governo dos EUA são praticamente nulas.
Quando o cenário internacional está pessimista, com dados econômicos mais fracos que o esperado, os investidores tendem a buscar ativos mais seguros. Dessa forma, protegem-se de eventuais acontecimentos negativos, que podem levar governos a darem calote nos investidores.
No mês passado, os títulos americanos atingirem os maiores rendimentos em 15 anos. Isso é um fator bastante atraente para os investidores, que acabam retirando recursos das bolsas de valores pelo mundo, como o Ibovespa, e alocando nos EUA.
Cabe salientar que o Núcleo do Índice de Preços das Despesas de Consumo Pessoal (PCE) nos EUA subiu 0,1% em agosto, na comparação com julho. O resultado foi menor que o esperado pelo mercado, que projetava uma alta de 0,2%.
O Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, analisa o PCE para tomar suas decisões sobre os juros no país. Por isso, a inflação mais fraca que o projetado é um fator para que a entidade não eleve os juros no país, e isso animou os investidores.
No mês passado, as ações que vendem commodities se deram bem e conseguiram crescer. A propósito, o termo se refere a produtos que possuem cotação básica, como alimentos, petróleo e minérios, e que dão origem a outros produtos, seus derivados.
Confira abaixo o top dez de ganhos em setembro:
“O que há de comum entre todas as empresas da bolsa é que, no longo prazo, as cotações seguem a capacidade de geração de caixa da companhia. Mas os movimentos de curto prazo chamam a atenção dos investidores e, ao olhar para os papéis mais performáticos em setembro, eles basicamente se concentram em empresas de commodities, que refletem a performance do ativo referência“, explicou Pedro Mattos, gerente geral de alocação da InvestSmart XP.
O maior avanço percentual foi registrado pelas ações ordinárias da CSN Mineração, principalmente porque os papéis da companhia foram vendidos abaixo do preço justo, além de ter se beneficiado com a alta dos preços do minério de ferro. Inclusive, o avanço poderia ter sido ainda maior, não fossem as preocupações vindas com o setor imobiliário da China.
Apesar de apenas 19 ações terem fechado o mês de setembro em queda, o resultado foi suficiente para eliminar boa parte dos ganhos registrados pela maioria dos papeis listados no Ibovespa. Isso aconteceu porque os tombos chegaram a dois dígitos. Confira abaixo os maiores recuos de setembro:
“De maneira geral, podemos dizer que as empresas que mais caíram neste mês e também no ano estão intimamente ligadas ao consumo doméstico“, afirmou José Daronco, analista da Suno, ao Valor Investe. Nesse cenário, o varejo brasileiro ainda está se adaptando ao pós-pandemia, e os resultados se mostram decepcionantes.
“Houve uma mudança no perfil dos consumidores, além de um cenário mais competitivo no digital, e as empresas seguem em um processo de reestruturação e adaptação a essa nova realidade. Além disso, o endividamento das famílias segue em patamar elevado“, disse Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos.