O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP) está testando uma rede privativa 5G para desenvolver casos de uso da tecnologia na medicina. A rede, que é exclusiva do hospital, ou seja, não é a mesma utilizada pelos smartphones de pacientes e acompanhantes, está conectando duas salas do hospital, uma com equipamentos para exames e outra para gerenciamento remoto dessas máquinas.
A ideia do hospital é testar o 5G para operações remotas. Em uma das salas são utilizados equipamentos de ultrassom e de tomografia, e em outra sala ocorre a coordenação remota da execução dos exames. Os testes são um primeiro passo para descobrir o quão possível é utilizar o 5G para operar remotamente robôs cirúrgicos e facilitar a execução de cirurgias em áreas remotas, como comunidade na Amazônia.
Os testes iniciais se mostraram promissores. O 5G privativo entregou taxas de latência (atraso na transmissão dos dados de uma ponta a outra) em torno de 20 milissegundos e sustentou banda acima de 300 Mbps. Estes resultados só eram possíveis anteriormente em redes cabeadas. Latências maiores acarretariam perda de sincronismo entre quem coordena e quem executa a atividade médica, impedindo uma comunicação efetiva.
Dentro dos próximos 60 dias, otimizações devem reduzir mais a latência, além de ser realizado um mapeamento completo do comportamento das aplicações e oportunidades de melhorias.
Após a conclusão do piloto dentro das dependências do Hospital das Clínicas, será executado um piloto com o atendimento remoto em uma cidade do interior do estado de São Paulo para uma experiência real de condução de atividades em áreas urbanas. Desta experiência, prevê-se uma expansão em escala nacional, com centros regionais de apoio aos profissionais de saúde.
De igual maneira, será executado um piloto em área remota do país na região amazônica para o entendimento da adaptação do teleatendimento em situações com menos infraestrutura. Com as lições aprendidas, espera-se expansão para demais localidades de perfil demográfico similar.
A faculdade de engenharia da USP, a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) ainda vai aproveitar o projeto para fornecer subsídios a teses de mestrado e de doutorado. É também desejo a criação de um núcleo conjunto entre a Faculdade de Medicina e a Escola Politécnica para projetos multidisciplinares de conectividade avançada aplicada à saúde.
O projeto no HC também se destaca por seus conceitos inovadores. A rede privativa é uma faixa de frequências dedicada para tráfego exclusivo de empresas, não concorre com a ocupação da rede pública de telefonia celular dos consumidores finais. Ela ainda usa o conceito de Open RAN (do inglês Rede de Acesso de Rádio Aberto), que flexibiliza a combinação de diversos provedores de soluções, permite a participação de novos entrantes de tecnologias e entrega uma solução de conectividade mais customizada.
Para a rede privativa 5G do Hospital das Clínicas (HC) acontecer, foi necessário firmar parceria com um ecossistema diversificado de tecnologia, telecomunicações, governo, universidade e instituição financeira. A iniciativa partiu do InovaHC, núcleo de inovação do HC, e contou com a consultoria Deloitte para coordenar o projeto. Foram 12 meses de trabalho, segundo a empresa, que acionou a NEC para integrar soluções de rede com os equipamentos médicos e outras máquinas que precisavam ser gerenciadas, além coordenar os testes.
O Telecom Infra Project (TIP), outro parceiro do projeto, cumpre sua função de comunidade local de empresas e organizações para trazer expertise em soluções de infraestrutura aberta, como o Open RAN.
Ainda há diversos outros participantes. A Siemens Healthineers forneceu os equipamentos de exames de ultrassom e de tomografia com compatibilidade ao 5G. Já o Itaú Unibanco disponibilizou espaço em seu data center para abrigar uma solução não relacionada ao setor financeiro.
A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) também contribuiu com o projeto com recursos para a contratação de sete profissionais de perfis multidisciplinares que, no prazo de 24 meses, avaliarão a performance da rede 5G, a jornada dos médicos e pacientes, e aplicações a serem desenvolvidas para telerradiologia.