Uma pesquisa realizada pela Força Tarefa PsiCOVIDa aponta que, dos 185 profissionais entrevistados que estão na nova modalidade Home Office, 26% afirmam que sua saúde mental está regular ou ruim. Isto se deve principalmente à solidão, ansiedade e sobrecarga de responsabilidades tanto no trabalho como em casa.
Para a psicóloga Ana Luiza Casasanta Garcia, doutoranda em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Santa Catarina, “o atual cenário do ambiente de trabalho requer um alinhamento organizacional e reorganização das questões de gênero, dinâmica familiar, presença ou não de filhos, entre outros fatores”.
Segundo a psicóloga, estes são os principais fatores que devem ser levados em consideração neste momento de desalinho da rotina dos trabalhadores já que, geralmente, existe dificuldade para manejar a vida domestica e trabalho”.
Ana Luiza acrescenta que precisamos entender que “trabalhar em Home Office não foi algo construído, o que poderia minimizar as desvantagens desta nova forma de trabalho, mas esta sendo algo imposto, necessário e realizado em um cenário nem um pouco tranquilo”, afirma a psicóloga.
Em relação a produtividade, Ana Luiza acredita que o trabalho Home Office pode impactar tanto positiva quanto negativamente, dependendo das condições em que é desenvolvido. A psicóloga cita, como exemplo, questões importantes como iluminação e ergonomia, entre outras, que geralmente não estão sendo atendidas neste novo local de trabalho que muitas vezes é “improvisado”, diz ela. “Mais grave que isto é a situação do ambiente familiar que pode ser violento ou exaustivo”, afirma.
Quanto aos aspectos positivos do trabalho Home Office, Ana Luiza lista o menor desgaste de locomoção, o melhor gerenciamento do tempo, escolha das próprias pausas e a introdução de rotinas que mais lhe agradam.
A psicóloga enfatiza que também as empresas tem um papel importante no ajuste deste novo modelo de trabalho. “Em primeiro lugar, as empresas precisam identificar a demanda dos trabalhadores. Será que estão bem instalados nos seus ambientes domésticos? Será que apresentam algum sinal de necessidade de intervenção psicológica?. Estas são algumas perguntas que os gestores precisam pensar a respeito”, enfatiza.
Um conselho dado pela psicóloga para aliviar o estresse no trabalho em Home Office é e o estabelecimento de uma rotina adequada que englobe os afazeres domésticos e de trabalho, investindo na boa comunicação intrafamiliar. “Ter um tempo para relaxar, fazer algo que goste, alimentar-se bem também fatores que precisam ser incorporados a esta rotina”, complementa.
Neste cenário, os impactos sobre a saúde do trabalhador começam a ser estudados pelas entidades sindicais, uma vez que o mercado de trabalho aponta para o estabelecimento definitivo da modalidade Home Office. Conforme pesquisa realizada pelo DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – com 11 mil bancários de todo o país, cerca de 36% dos entrevistados informaram que sofreram aumento na sua jornada de trabalho e que não tem nenhum controle de sua jornada.
A pesquisa também apontou que apenas 17% tem algum controle de sua jornada, mas que este sempre está atrelado ao batimento de metas, aumentando assim a pressão psicológica sobre estes trabalhadores, que muitas vezes não tem a quem recorrer em caso do surgimento de necessidade de resolução de um problema ou impasse.
Ainda de acordo com a pesquisa, a falta de regulamentação específica para o Home Office tem provocado, na classe trabalhadora, uma certa instabilidade quanto ao futuro do colaborador na empresa. Atualmente, apenas o teletrabalho tem uma regulamentação criada pela reforma trabalhista, enquanto o Home Office ainda carece de uma legislação específica.
Para o DIEESE, existe uma diferença clara entre teletrabalho e Home Office. Para a entidade, teletrabalho é qualquer atividade mediada por uma plataforma, como é o caso do telemarketing, enquanto que o Home Office é um trabalho remoto realizado em domicílio e por isso precisa de regulamentação específica.
Em estudo recente feito pelo IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – cerca de 23% das vagas de emprego no Brasil poderão ser convertidas em trabalho remoto. Já o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – informa que hoje já existem cerca de 9 milhões de trabalhadores operando em Home Office.
Para se ter uma ideia da importância desta regulamentação, o DIEESE afirma que em cerca de 40% dias negociações sindicais realizadas desde o início da pandemia, a questão da saúde e qualidade de vida no trabalho (QVT) foram as questões mais debatidas, já sob a influencia das novas modalidades de trabalho, já que, segundo a entidade, existe uma premente possibilidade no aumento das doenças ocupacionais em função dos desgastes físicos e psicológicos do trabalho em casa.
De fato, cerca de 46% das empresas economicamente ativas no Brasil adotaram o trabalho em casa durante a pandemia. Os principais setores que adotaram esta nova modalidade foram o de serviços hospitalares (53%) e indústria (47%). Estes dados foram levantados foram coletados em estudos elaborados pela FIA – Fundação Instituto de Administração.