Finalizando o primeiro mês de governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), muitos ainda têm expectativas de quantas mudanças acontecerão em relação ao antigo governo. Grupos de minorias, como os LGBTQIA+, têm motivos especiais para aguardar mudanças positivas, pois os dois primeiros governos Lula (2003 – 2011) e os governos Dilma Rousseff (2011-2016), foram marcados por ações expressivas à comunidade, com evolução das políticas públicas e sociais.
Porém, circulam nas redes sociais e grupos de mensagens a notícia de que o governo Lula iria pagar um auxílio de R$ 1800,00 reais aos gays, lésbicas e travestis.
O que sabemos sobre essa afirmação? Siga na leitura e tire suas dúvidas sobre o que o atual governo pretende fazer acerca da comunidade LGBTQIA+.
O governo Lula já anunciou que irá recriar o Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBTQIA+. A iniciativa foi anunciada ao jornal Folha de São Paulo por Symmy Larratt, secretária nacional de Promoção e Defesa dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
Este órgão participativo, extinto durante a gestão Bolsonaro, tem o objetivo de defender os direitos de “minorias étnicas e sociais”.
Larrat também já foi coordenadora do programa Transcidadania da Prefeitura de São Paulo. Agora, a secretária quer desenvolver um programa semelhante a nível nacional.
As pessoas trans atendidas pelo programa Transcidadania recebem:
A secretaria também pretende regulamentar direitos conquistados pela população trans por meio de decisões do Judiciário nos últimos anos. Citando como exemplo a decisão do STF de 2019 que equiparou a homofobia e a transfobia ao crime de racismo, ela acha justo que se construam normativas do governo federal, para que estados e municípios tomem como base.
Quando questionada sobre polêmicas envolvendo a comunidade trans, como banheiros sem marcação de gênero e o uso de linguagem neutra, ela afirma que são pautas importantes, mas há outras questões mais urgentes a serem tratadas.
“Se você perguntar para uma pessoa trans o que é urgente para ela, ela vai falar ‘eu quero viver, eu quero sobreviver’ (…). A prioridade da política pública deve ser segurança, moradia e educação. É muito mais fácil dialogar com a sociedade se você fala sobre as necessidades mais urgentes da comunidade trans.”- diz Larratt para a Folha.
Com o ressurgimento do Conselho, a comunidade LGBT tem mais motivos para acreditar em mudanças positivas, como o direito à saúde e o combate à homofobia e à transfobia.
Todas essas ações inclusivas estão de acordo com o atual Plano de Governo, onde lemos: “Não haverá democracia plena no Brasil enquanto brasileiras e brasileiros continuarem a ser agredidos, moral e fisicamente, ou até mesmo mortos por conta de sua orientação sexual”, diz o documento. Ele também cita:
Em nenhum local do Plano de Governo ou dos órgãos oficiais está confirmada a notícia de que um valor em dinheiro será pago aos integrantes da LGBTQIA+, ou seja: essa informação é fake!
Mas isso não desmerece a luta da comunidade em prol de seus direitos. Vale lembrar que muito já foi conquistado, embora ainda existam pautas muito importantes.
A Secretaria da Cidadania e Justiça do estado do Tocantins publicou em seu portal as principais conquistas da comunidade LGBTQI+ no Brasil, que seguem em vigor. Conheça agora quais são.
Em agosto de 2008, pela Portaria Nº 457, de 2008, o Sistema Único de Saúde (SUS) passou a realizar cirurgias de redesignação sexual para mulheres transexuais. Com o passar dos anos, o processo transexualizador foi ampliado no SUS,
A Lei Maria da Penha (N.º 11.340/06) também tem sido usada pela Justiça para coibir a violência doméstica contra mulheres transexuais e travestis.
Em maio de 2010, o STJ reconheceu, por unanimidade, que casais formados por homossexuais têm o direito de adotar filhos. Também em março de 2015 a Ministra Cármen Lúcia, do STF, decidiu pelo direito de adoção por casais homoafetivos, destacando que “a Constituição Federal não faz diferenciação entre casais heterossexuais ou homoafetivos”.
Em 14 de maio de 2013, o Conselho Nacional de Justiça aprovou a Resolução nº 175, que permitiu os cartórios de todo o Brasil a realizarem diretamente o casamento civil ou conversão de união estável em casamento entre pessoas de mesmo sexo.
Em abril de 2016, foi publicado o decreto Nº 8.727 que garante o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais no âmbito da administração pública federal. O nome social pode ser usado em atendimentos no SUS, Enem e cartões de contas bancárias e outros.
Em agosto de 2018, O STF autorizou pessoas trans a alterarem o nome no registro civil sem a necessidade de cirurgia de redesignação sexual ou decisão judicial. Com a decisão, a alteração pode ser feita diretamente no cartório mais próximo.
Em junho de 2019, o STF determinou que a discriminação contra pessoas LGBT seja enquadrada nos crimes previstos na Lei Nº 7.716/1989 (Lei do Racismo), prevendo penas de até 5 anos de prisão, até que uma norma específica seja aprovada pelo Congresso Nacional.
Em maio de 2020, o STF declarou inconstitucional e suspendeu as normas do Ministério da Saúde e Anvisa que exigiam aos homossexuais a abstinência sexual de um ano para doarem sangue.