O aumento expressivo no abate de jumentos nos últimos anos tem colocado a espécie em risco de extinção e gerado preocupação entre ambientalistas. A raça brasileira, conhecida como “jumento pêga”, tem enfrentado um crescimento de 200% no volume de abates entre 2019 e 2021, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O crescimento no abate de jumentos está relacionado à exportação do couro do animal, principalmente para a China. Vale lembrar que os jumentos têm grande importância no Brasil, principalmente na região Nordeste. Sendo um animal resistente e adaptado às condições climáticas do país, os jumentos ainda são utilizados no transporte de pessoas e cargas.
A fim de evitar a extinção da espécie e preservar parte da cultura nacional, participantes de audiência pública discutiram a proibição do abate de jumentos no Brasil. A medida está prevista no Projeto de Lei 1973/22 e foi tema de debate na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados. Segundo o Ministério da Agricultura, em 2021, cerca de 6 mil jumentos eram abatidos por mês no país, principalmente para a produção de ejiao, uma gelatina utilizada na medicina tradicional chinesa obtida a partir do couro do animal.
O abate tem colocado a espécie em risco de extinção, o que fere a biodiversidade brasileira e ameaça o equilíbrio biológico da fauna. Além disso, os maus-tratos que os animais sofrem, especialmente no transporte entre os estados, potencializam a disseminação de doenças. Em resposta a essa situação, representantes do Ministério do Meio Ambiente e da ONG The Donkey Sanctuary destacaram a necessidade de se encontrar alternativas para a produção de ejiao, sem a necessidade do abate dos asnos.
De acordo com o deputado Célio Studart, que solicitou a audiência, a proibição do abate não representará prejuízos significativos à economia brasileira. Ele argumentou que a extração da pele dos jumentos para a fabricação de ejiao já não é uma prática justificável e contraria normas sanitárias. Adicionalmente, a preservação dos jumentos auxilia no equilíbrio de ecossistemas fragilizados, preenchendo nichos ecológicos e atuando como fonte de alimento para outras espécies.
Segundo Vanessa Negrini, coordenadora do Departamento de Direitos Animais do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, a pasta está trabalhando para desenvolver pesquisas na área de zootecnia celular para produzir estoques de ejiao sem a necessidade do abate. Além disso, destaca-se a importância de aprimorar sistemas de rastreabilidade e controle dos animais, bem como estabelecer parcerias com governos estaduais e organizações para promover soluções que eliminem o abate.
Patrícia Tatemoto, representante da ONG The Donkey Sanctuary, frisou que os jumentos desempenham funções importantes na fauna brasileira, ocupando espaços ecológicos que já foram extintos em outras eras geológicas. No entanto, o IBGE registrou uma queda populacional de 38% entre 2011 e 2017, demonstrando a urgência do tema. Especialistas como Vânia Nunes, diretora do Fórum Nacional de Proteção Animal, alertam para a disseminação de doenças como o mormo e a anemia infecciosa equina, resultado das condições precárias em que vivem os animais. Dessa forma, a expectativa é que esforços sejam concentrados na busca por alternativas sustentáveis e menos impactantes para a espécie e o meio ambiente.