Um estudo conduzido por uma coalizão de hospitais de São Paulo e Porto Alegre avalia os efeitos da chamada Covid Longa (ou Covid Prolongada), que são os sintomas prolongados e sequelas físicas ou mentais deixadas pela Covid-19 em pacientes que já se curaram da doença.
Reconhecido pela OMS (Organização Mundial de Saúde), o estudo acompanhou 1,2 mil pacientes com Covid-19 no Brasil e será usado pela entidade para avaliar as melhores estratégias de combate à Covid Longa.
A coalizão de hospitais responsáveis pelo estudo é formada por: Hospital Moinhos de Vento (HMV), de Porto Alegre, e Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).
Para acompanhar os pacientes, é feito contato telefônico a cada três, seis, nove e doze meses após a recuperação ou alta hospitalar. Dessa forma, é possível detectar a presença e duração de sintomas e sequelas físicas ou mentais em pessoas ‘curadas’ da Covid-19.
Os especialistas também avaliam a eficácia e a segurança de medicamentos para pacientes acometidos pela doença. A cloroquina, por exemplo, mostrou-se ineficaz contra Covid-19.
Segundo o médico Regis Goulart Rosa, do Hospital Moinhos de Vento, a Covid Longa pode ser vista tanto em pacientes que tiveram quadro grave de Covid-19 quanto naqueles que apresentaram sintomas leves e não precisaram de hospitalização.
“A gente acaba encontrando muitos pacientes que, mesmo não necessitando de hospitalização, tiveram sintomas prolongados. Inclui fadiga, cansaço, fraqueza, principalmente fraqueza muscular, inclui também dificuldade de atenção, distúrbios do sono, principalmente insônia, sintomas de ansiedade. Esses sintomas duram o suficiente para causar uma percepção de redução de qualidade de vida para essas pessoas”, relata o médico em entrevista ao portal G1.
Nos pacientes graves, os pesquisadores também analisam os efeitos das internações, que recebem o nome de “síndrome pós-UTI”, quando é comum a disfunção de diversos órgãos e sistemas.
“Essas disfunções acabaram gerando sequelas importantes nesses pacientes, que podem apresentar fraqueza muscular, redução da capacidade física, incluindo até dependência física pra atividades do dia a dia, disfunção cognitiva mais severa, incluindo déficit de memória, redução de velocidade da capacidade de processamento, que são domínios importantes para a pessoa retornar ao trabalho, por exemplo”, diz Regis.
As sequelas da Covid Longa não são apenas físicas, mas também afetam a saúde mental dos pacientes, que podem registrar ansiedade, depressão e estresse pós-traumático. Pelo menos, a maioria das sequelas é transitória e tende a melhorar com o passar do tempo.
“Antigamente se pensava que as sequelas iam ser puramente respiratórias, impactando a vida física, mas as sequelas de saúde mental e da cognição são muito frequentes e causam impacto tão grande ou até mesmo maior do que a própria saúde física”, diz o pesquisador.