Segundo levantamento feito pela Folha junto às secretarias de saúde dos estados, as mais de 160 milhões seringas e agulhas permitem o início da imunização contra Covid-19 assim que uma vacina for aprovada pela Anvisa, o que deve ocorrer nos próximos dias. Por outro lado, apesar de registrar 62 milhões de seringas e agulhas exclusivamente para conter o avanço do coronavírus no Brasil, os gestores apontam risco de escassez caso ao longo do ano se o Ministério da Saúde não efetuar novas compras para fornecer os materiais aos estados.
Nem todos os 26 estados da federação responderam ao levantamento da Folha, que leva em conta os números apresentados por 19 estados, dos quais 9 indicaram as seringas destinadas ao combate à Covid-19 e 10 passaram o número total dos materiais em estoque. Embora insista que a compra de seringas e agulhas é de responsabilidade dos estados, o Ministério da Saúde aponta que tem dado o apoio necessário diante da emergência provocada pelo avanço da Covid-19 no país.
Como a procura por seringas e agulhas é grande no mundo inteiro, os preços pedidos pelas fabricantes subiram, o que fez o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmar que as compras estariam suspensas até que os preços voltem a normalidade. Isso ocorreu após a frustração do governo federal com os resultados do último pregão para compra de seringas no dia 29 de dezembro, quando garantiram o fornecimento de apenas 7,9 milhões de materiais (2,9% do total esperado de 331,2 milhões).
As vacinas mais próximas de conseguirem autorização da Anvisa para serem aplicadas em território nacional, a CoronaVac e a vacina de Oxford/Astrazeneca, dependem de duas doses para atingir o potencial máximo de eficácia.
Portanto, se o objetivo da campanha é vacinar cerca de 80% da população para atingir a ‘imunidade de rebanho’, é preciso vacinar mais de 150 milhões de pessoas, demandando o uso de pelo menos 300 milhões seringas e agulhas. O número supera os estoques atuais e por isso têm feito os governos correrem atrás do tempo perdido. Além disso, por serem materiais descartáveis essenciais para o plano de vacinação, o ideal é ter alguma sobra para cobrir eventuais perdas.
Para contornar a situação, o Ministério da Saúde pediu restrições nas exportações de seringas e agulhas e fez uma requisição administrativa aos fabricantes nacionais pedindo o número dos materiais em estoque, sob alegação de ‘iminente perigo público’ e solicitando prioridade de venda ao governo federal. A requisição impede as empresas de fecharem novos contratos que não sejam com o governo federal.
Tal medida atinge fabricantes membros da ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Artigos de Equipamentos Médicos e Odontológicos) e, segundo o Ministério, acontece enquanto o processo licitatório regular não é concluído.
Segundo a ABIMO, um protocolo de intenções foi firmado entre algumas fabricantes e o Ministério da Saúde nesta segunda (04), o que deve garantir a entrega de 30 milhões de seringas até o final de janeiro. Novas reuniões definirão os prazos nos próximos dias.
Em nota, o Ministério da Saúde diz que aguarda a quantidade de seringas e agulhas em estoque das empresas e que deve iniciar o novo pregão o mais rápido possível. O objetivo da medida, segundo a pasta, é “atender às necessidades mais prementes para iniciar o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19”. Um processo semelhante foi adotado ano passado com fabricantes de respiradores e para comprar medicamentos necessários para entubar pacientes com Covid-19.