A enfermeira Mônica Calazans, 54 anos, tornou-se a primeira vacinada contra covid-19 no Brasil. Negra e moradora de Itaquera, bairro da periferia de São Paulo, ela trabalha na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e recebeu a primeira dose da CoronaVac neste domingo (17) no Hospital das Clínicas. O evento foi transmitido ao vivo e contou com a presença do governador João Dória (PSDB) e de representantes do Instituto Butantan, responsável pela CoronaVac no Brasil.
A vacinação aconteceu poucos minutos após o término da reunião da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que aprovou o uso emergencial da CoronaVac e da vacina de Oxford contra covid-19. Poucos instantes antes de receber a dose da vacina, Mônica Calazans chorou junto com o governador de São Paulo, João Dória, e incentivou outras pessoas a tomarem o imunizante.
“Quantas pessoas têm receio de chegar próximas às outras? Eu tomo ônibus, metrô, as pessoas têm receio de chegar perto de você. Então, povo brasileiro, é nossa grande chance. Estou falando agora como brasileira, mulher negra, que [você] acredite na vacina. Vamos pensar nas vidas que perdemos”, disse a enfermeira.
A segunda vacina contra covid-19 aplicada no Brasil foi na técnica de enfermagem Vanuzia Santos, primeira indígena a receber um imunizante contra a doença no país. O governo de São Paulo seguirá aplicando a CoronaVac nesta segunda (18) em profissionais da saúde, enquanto a vacinação nos demais estados deve começar hoje a partir das 17h, segundo o Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
Mônica pertence ao grupo de risco por ser obesa, hipertensa e diabética. Assim mesmo, em maio de 2020, durante um dos picos da pandemia no Brasil, ela se voluntariou para vagas de CTD (Contrato por Tempo Determinado) e escolheu trabalhar no Emílio Ribas, sabendo que a unidade estaria no centro de enfrentamento ao coronavírus. Durante a pandemia, Mônica viu seu irmão mais novo ficar internado por 20 dias e quase perder a vida por conta da covid-19.
“Eu quase perdi um irmão com covid. Diante disso, eu tomei coragem e participei da campanha da vacina. No início, fui muito criticada”, afirmou.
Mônica trabalhou como auxiliar de enfermagem por 26 anos. Após esse período, ela decidiu cursar faculdade de enfermagem e recebeu o diploma aos 47 anos. Outro motivo de orgulho na vida da enfermeira é ter participado dos estudos da CoronaVac.
“Falaram que eu era cobaia de uma pesquisa de vacina. Aprendi com uma pessoa, no dia da vacinação, que sou participante de pesquisa e estou muito orgulhosa de tudo isso, porque meu nome está no mundo inteiro”
Assim como a primeira vacinada, a primeira vacinadora enfermeira. Jéssica Pires de Camargo, 30 anos, trabalha na Coordenadoria de Controle de Doenças e é mestre em Saúde Coletiva pela Santa Casa de São Paulo. Da mesma forma que Mônica, ela se diz orgulhosa.
“Que outros colegas de profissão possam sentir a mesma satisfação que sinto ao fazer parte disso. São mais de 52 mil profissionais de saúde mobilizados nesta campanha e cada um deve receber o devido reconhecimento”, afirmou Jéssica.