Após bater recorde em 2022, o número de famílias endividadas no Brasil recuou em 2023. A situação financeira das famílias do país ficou um pouco melhor no ano passado, visto que essa é a primeira queda anual desde 2019.
De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o endividamento atingiu 77,8% das famílias do país em 2023.
A título de comparação, a taxa havia ficado em 77,9% no ano anterior, ou seja, o endividamento caiu apenas 0,1 ponto percentual em 2023. Embora a taxa tenha apresentado uma variação mínima, o resultado foi comemorado, pois interrompeu uma sequência de três anos de aumento do endividamento dos brasileiros.
Aliás, confira abaixo as taxas de endividamento da população nos últimos anos:
Os dados acima mostram que o endividamento começou a crescer de maneira mais expressiva em 2019, no primeiro ano do governo Bolsonaro. Já em 2020, quando houve a decretação da pandemia da covid-19, a situação ficou ainda mais séria no país.
Seguindo essa trajetória, o percentual de endividamento cresceu ainda mais em 2021, refletindo o impacto da crise sanitária. No entanto, a situação ficou ainda mais crítica em 2022 devido ao aumento dos juros no país, que reduziram o poder de compra do consumidor.
A saber, o Banco Central (BC) elevou 12 vezes consecutivas a taxa básica de juro da economia, a Selic, entre 2021 e 2022, para 13,75% ao ano. Com isso, a taxa Selic chegou ao maior percentual desde 2016, encarecendo o crédito no país em diversas áreas, como bancária e imobiliária.
Ao mesmo tempo, a inflação elevada fez os brasileiros aumentarem seu endividamento, uma vez que o mercado de trabalho ainda se recuperava dos impactos da pandemia. Em meio a tudo isso, o percentual de famílias endividadas disparou no ano passado.
Nos últimos anos, o aumento dos juros para conter a inflação elevada aumentou o custo de vida no país. Entretanto, em 2023, o Banco Central reduziu quatro vezes seguidas a taxa Selic, entre agosto e dezembro, para 11,75% ao ano.
Em síntese, a taxa Selic é o principal instrumento do BC para conter a inflação, que se refere ao aumento dos preços de produtos e serviços. Como a inflação perdeu força ao longo do ano, graças aos juros elevados dos últimos anos, o BC decidiu reduzir a taxa Selic nos últimos meses de 2023.
A expectativa é que haja mais cortes dos juros ao longo de 2024, mas as reduções devem acontecer com menos intensidade. Seja como for, a inflação também deve continuar desacelerando neste ano, e esse cenário pode ajudar a reduzir ainda mais o endividamento no país.
Além de informar que a taxa de endividamento caiu no Brasil em 2023, após três anos de alta, a Peic também revelou que o número de endividados foi menor em dezembro, quando comparado a janeiro.
“A Peic mostrou que, pela primeira vez em dez anos, as famílias brasileiras terminaram o ano menos endividadas do que começaram“, informou o presidente da CNC, José Roberto Tadros.
A propósito, a taxa de endividamento de 77,8% se refere a uma média anual. Entretanto, o número de endividados variou entre os meses, passando de 78% em janeiro para 77,6% em dezembro.
Cabe salientar que o patamar mais elevado foi observado em junho (78,5%), enquanto o nível mais baixo foi registrado em novembro (76,6%). Isso mostra que, apesar da queda anual, o endividamento cresceu 1,0 ponto percentual em dezembro, em relação ao mês anterior.
Apesar da queda do endividamento em 2023, o número de famílias inadimplentes bateu recorde no ano passado. De acordo com a Peic, quase três em cada dez famílias estava com dívidas atrasadas.
Confira abaixo o percentual de inadimplência dos últimos anos:
Em resumo, a pessoa inadimplente é aquela que possui dívidas ou contas em atraso. A propósito, há alguns fatores que propiciam o aumento da inadimplência entre os consumidores, como manter mais de um cartão de crédito e não se atentar à própria saúde financeira e às datas de pagamento das contas.
“É importante distinguimos o que é inadimplência do que é endividamento. Endividamento é algo fundamental para o desenvolvimento econômico, pois o crédito é o trampolim do sistema capitalista. A inadimplência é um resultado adverso do endividamento, causado pela renda baixa do brasileiro e pela volatilidade da economia do País“, explicou Felipe Tavares, economista-chefe da CNC.