Os brasileiros receberam uma notícia negativa neste mês. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), o percentual de endividamento das famílias do país se manteve estável em patamar bastante alto.
Em 2024, esse percentual cresceu em quatro meses, com exceção de fevereiro, quando a taxa caiu para 77,9%. Por sua vez, o percentual de famílias brasileiras com dívidas atrasadas em junho não teve variação em relação a maio, mantendo-se em 78,8%, maior patamar deste ano.
Em resumo, o percentual ficou 0,3 p.p. acima do nível observado em junho de 2023 (78,5%). Em outras palavras, a quantidade de pessoas sofrendo com dívidas e contas atrasadas está mais elevada do que há um ano.
Embora o nível de endividamento não tenha recuado, o resultado pode sinalizar algo positivo no Brasil. De acordo com o presidente da CNC, José Roberto Tadros, as famílias do país parecem estar mais conscientes em relação às dívidas, e vêm evitando fazer novos débitos.
“A manutenção do índice de endividamento revela certa preocupação com a inadimplência por parte das famílias, que têm aproveitado o momento para amenizar as dívidas, em vez de fazer novos compromissos“, disse Tadros.
A saber, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) é responsável pela Peic. A entidade revelou que o endividamento ganhou força no país em junho entre as faixas de renda mais baixas.
Por sua vez, o percentual de dívidas entre os consumidores com os maiores rendimentos recuou no mês passado. Ainda assim, vale destacar que todas as taxas seguiram elevadas, acima de 70%.
Veja os percentuais de endividamento por faixa de renda em junho:
No mês passado, o endividamento cresceu 0,4 p.p. para as famílias que recebiam até 3 salários mínimos, maior avanço entre as faixas de renda. Já a segunda maior alta foi registrada pela segunda faixa de renda, de 3 a 5 salários mínimos, que cresceu 0,2 p.p. Esses resultados impulsionaram o endividamento no país.
Em contrapartida, as famílias com renda de 5 a 10 mínimos registraram uma forte queda de 0,9 p.p. do endividamento em junho. Contudo, o maior recuo foi observado entre as pessoas da última faixa de renda, com mais de 10 salários mínimos, cujo taxa caiu 1,1 p.p.
Os avanços e recuos se eliminaram e o percentual de endividamento entre as famílias brasileiras se manteve estável em junho.
A Peic também revelou quais foram os principais tipos de dívidas dos consumidores do país em junho. Veja abaixo os percentuais registrados:
Cabe salientar que, apesar de liderar os tipos de dívidas no país, o percentual de endividados no cartão de crédito recuou 0,6 p.p. na comparação com junho de 2023. Também registraram queda das dívidas no mês o cheque especial (-0,5 p.p.) e os carnês (-0,3 p.p.).
Por outro lado, os seguintes tipos de dívidas tiveram alta do seu percentual em junho: financiamento de casa (1,6 p.p.), crédito pessoa (0,8 p.p.), financiamento de carro (0,6 p.p.), crédito consignado (0,4 p.p.) e cheque pré-datado (0,2 p.p.)
Embora o endividamento tenha se mantido estável em junho, o número de famílias inadimplentes voltou a crescer no mês passado, após não apresentar variação em maio. Segundo os dados da Peic, quase três em cada dez famílias estavam com dívidas atrasadas no país.
A taxa chegou a 28,8% em junho, crescendo em relação à taxa de inadimplência registrada em maio (28,6%). Em contrapartida, o número recuou em relação à taxa observada em junho de 2023 (29,2%).
“Os atrasos estão perdurando por mais tempo, o que revela certa dificuldade de honrar os compromissos, deixando as famílias mais receosas em fazer novos parcelamentos no momento“, avaliou o economista-chefe da CNC e responsável pela pesquisa, Felipe Tavares.
Entretanto, vale destacar que o percentual dos consumidores que tinham mais da metade dos rendimentos comprometidos com dívidas caiu 0,4 p.p. em junho, na comparação com o mês anterior, atingindo 20,4% das famílias.
“Para conseguir ter melhor controle financeiro, as famílias contam com prazos mais longos para pagamento das suas contas. Tanto que o percentual de famílias comprometidas com dívidas por mais de um ano avançou para 32,8%, o maior nível desde abril de 2022“, explicou o economista.