Finanças

Empreender ou trabalhar formalmente?

Todos que se veem diante da construção de uma carreira, ou mesmo quem já tem uma vida profissional consolidada, de vez em quando pode se perguntar: “E se eu fosse o dono do meu próprio negócio?”

Em tempos de mercado de trabalho enfraquecido pela crise, essa pergunta faz cada vez mais sentido.

Se antes era desejado construir uma carreira sólida e longa em organizações, hoje isso se flexibiliza, ao passo que as pessoas buscam constantemente um local de trabalho que melhor atenda seus anseios.

Mas será que empreender é mesmo o desafio ideal para você, ou seu perfil se adequa melhor ao de um funcionário com carteira assinada?

Disposto a correr riscos?

Embora pareça muito descolada e promissora financeiramente, a vida do empreendedor traz riscos que nem todos estão dispostos a correr.

A possibilidade permanente de falhar (e arcar integralmente com as consequências), sendo responsável pelo seu próprio futuro e de seus funcionários, é uma das grandes desvantagens de ser dono do próprio negócio. E tudo isso gera uma carga pesada demais para alguns.

Por outro lado, quem tem o perfil empreendedor, vê este conflito com outros olhos. A responsabilidade é somente a consequência de fazer as próprias escolhas. Para quem sente a necessidade de empreender, ser dono do próprio destino é a maior vantagem.

Para quem tem este “gene empreendedor”, andar com as próprias pernas é praticamente uma necessidade, mais do que uma decisão racional. A ousadia, a iniciativa e a motivação permanente são as principais características que empurram os profissionais para abrirem seus negócios.

O fato é que, nos últimos tempos, o desemprego oferece um risco quase tão grande quanto o de empreender.

Empreendedorismo “forçado”

Muitos fazem a escolha de guardar a Carteira de Trabalho no fundo do baú, mas a verdade é que existem outros que entraram no empreendedorismo por não terem outra opção, ao perderem seus empregos.

A Mestra em Ciências Sociais pela UFES, Eliane Quintiliano Nascimento, opina sobre a  controvérsia de falar sobre empreendedorismo sem considerar o contexto socioeconômico: “… toda essa relação de flexibilidade no trabalho, e o próprio desemprego estrutural tem aumentado a necessidade das pessoas buscarem outras formas de obter renda familiar”.

Muitos que jamais pensavam em empreender agora atuam em seus próprios negócios, ainda que bem pequenos. Quais serão os sentimentos deles? A jornalista Mariana Klein, do jornal gaúcho Correio do Povo, expressou: “Empreender por desespero e medo de não conseguir pagar as contas não é o cenário ideal. Quando estamos apavorados (as), a chance de errar é maior, e a possibilidade de trocar os pés pelas mãos é grande a ponto de arriscar o investimento feito por esse negócio.”

Para estes, o o gestor de negócios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Eliezer Sales Ramos, diz ao G1 que é preciso superar desafios, aproveitar oportunidades oferecidas pelo mercado, colocar novas ideias em prática e fazer a diferença com seus produtos e serviços para o público consumidor. Nesse momento é importante atentar-se para:

  • Desenvolver a capacidade de se antecipar aos fatos e de criar oportunidades de negócios com novos produtos e serviços, agir com proatividade, antecipando-se às situações e assim aproveitar oportunidades incomuns para progredir;
  • Não desistir diante de obstáculos, esforçar-se além da média para atingir seus objetivos. Deve sempre reavaliar: insiste ou muda seus planos para superar objetivos, adequando-se rapidamente seus planos às mudanças e variáveis de mercado;
  • Desenvolver redes de contatos e construir bons relacionamentos comerciais, e desta forma relacionar-se com pessoas-chave que possam ajudar a atingir os objetivos do seu negócio.

Estabilidade em primeiro lugar

O retorno financeiro de quem comanda sua própria empresa pode superar muito o de ser funcionário de alguém. Por outro lado, se tudo der errado, você é que terá que arcar com as dívidas.

É comum as pessoas romantizarem o empreendedorismo, como uma solução para todos os problemas da vida. Você já deve ter lido histórias de pessoas que superaram todas as dificuldades porque tomaram as rédeas de suas vidas e venceram empreendendo.

Muitos gurus e youtubers querem convencer seu público de que empreeender é mais vantajoso do que trabalhar como funcionário.

Mas o fato é que construir uma carreira sólida em uma empresa também tem seu lado bom. Desejar estabilidade é muito natural. E essa é a principal vantagem de ter uma carteira assinada, porque ela traz benefícios garantidos por lei que a maioria dos empreendedores não consegue ter ou oferecer, pelo menos, até a empresa se firmar no mercado.

Porém, ser empregado também tem suas desvantagens. Você sempre fará parte de uma engrenagem maior e simplesmente não poderá tomar decisões de acordo com sua cabeça. Efetivamente, você sempre estará subordinado a alguém, mesmo que ocupe um cargo máximo. E as chances de crescer serão, de certa forma, limitadas.

Por mais que a empresa ofereça bônus variados, você provavelmente receberá menos do que produz para os cofres da organização. Se a empresa fechar ou você for demitido, poderá contar com seu fundo de garantia, seguro desemprego e a previdência social.

Ninguém foge do fato que o mercado é implacável, e se destacar frente à concorrência requer esforço tanto do empreendedor quanto do profissional que escolhe ser funcionário. A verdade é que um caminho não será mais fácil do que o outro, todos têm suas dificuldades.

Decidindo seu futuro

O empreendedorismo no Brasil está aumentando. Mesmo em meio ao agravamento da pandemia, mais de 1 milhão de pequenas e micro empresas (PMEs) foram abertas no Brasil entre janeiro e abril deste ano. Segundo o Sebrae, os micro e pequenos negócios já significam 27% do PIB (Produto Interno Bruto) e 52% dos empregos com carteira assinada. Os dados são revelados pelo presidente do Sebrae, Luiz Barretto, que acrescenta: “O empreendedorismo vem crescendo muito no Brasil nos últimos anos e é fundamental que cresça não apenas a quantidade de empresas, mas a participação delas na economia”.

Mas como disse a sua mãe, “você não é todo mundo”, especialmente quanto à decidir sobre seu rumo profissional. É preciso, em primeiro lugar, fazer uma autoanálise e, com honestidade, reconhecer as próprias habilidades e personalidade. Deu pra perceber que essa é uma escolha que só você poderá fazer, ponderando os prós e os contras.