Andressa Pellanda, coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, avalia que a educação brasileira vive atualmente “uma crise dentro da crise” por conta da pandemia do novo coronavírus.
Pellanda, que é cientista política especialista em políticas educacionais, alerta que a necessidade de distanciamento social agravou algo que já não estava indo bem. “As políticas adotadas para a educação, como a implantação de educação remota mediada por tecnologias, foram pensadas de forma alheia a essa desigualdade, sem trazer caminhos de solução para os problemas estruturais. E elas não deram certo”, diz ela.
Para ela, o Brasil não tem seguido bons exemplos de países que destinaram financiamento adequado e implementaram políticas com gestão democrática e cooperação em meio à pandemia.
“O Brasil não só é um mau exemplo no primeiro ponto, por conta das políticas de austeridade ainda vigentes e da falta de investimentos adequados, como também do segundo ponto, já que as decisões foram tomadas de forma verticalizada e descoladas da realidade do país”, analisa a especialista.
A falta de formação adequada dos professores antes e durante a pandemia,segundo Andressa, assim como a carência dos insumos necessários são quesitos que estão mais prejudicando as aulas remotas.
“Professores e estudantes, sujeitos nucleares do direito à educação, não foram ouvidos por boa parte das redes de ensino antes de serem implementadas as políticas emergenciais e não estão sendo ainda. O resultado disso é um aprofundamento das discriminações e da exclusão escolar.”
Essa também é a avaliação da Relatoria Especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o direito à educação, que aponta o Brasil como “mau exemplo” de resposta à pandemia na área de educação por conta do “desmantelamento das políticas públicas”.
“Medidas de austeridade e cortes no orçamento dos sistemas públicos de ensino enfraqueceram a capacidade de administrar a crise educacional e garantir a proteção a todos”, afirma o relatório sobre o impacto da Covid-19 na educação, apresentado na 44ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, em 3/7.
Segundo a cientista política, as desigualdades sociais, educacionais e regionais, foram ainda mais ressaltadas na pressa para colocar em prática políticas educacionais.
Grupos privados se mobilizaram para implantar uma política de educação a distância automatizada, o que gera mais exclusão entre os estudantes. E não só isso, destaca a precarização do trabalho dos profissionais da educação.
“É um cenário grave de redução do direito à educação. É preciso ter em mente que a causa não é só a pandemia, como também o interesse privatista de grupos que defendem uma educação pobre para os pobres e que, ainda por cima, dê lucro para eles”, reflete e finaliza Andressa.