Economia

Economista da criação do Bolsa Família critica Auxílio Emergencial

O economista Ricardo Paes de Barros, um dos mais renomados estudiosos de desigualdade e pobreza no Brasil, e um dos mentores da criação do Bolsa Família em 2004, criticou o Auxílio Emergencial. Em uma entrevista concedida à revista Exame, Barros classificou o auxílio como “péssimo”.

“Tem coisas que são muito bem boladas, como o programa de redução da jornada e da renda, o BEm. O Auxílio Emergencial é péssimo”, afirmou o economista. Barros não negou a necessidade da existência do Auxílio Emergencial, porém criticou a forma centralizada como ele funciona, alegando que uma forma mais descentralizada seria melhor para identificar as pessoas que realmente precisam do benefício.

“Estou me referindo ao auxílio de 2020. Obviamente precisava ter um Auxílio Emergencial. Mas não deveria ser decidido de forma centralizada quem vai receber o auxílio. Isso deveria ser descentralizado o máximo possível. Deveríamos trabalhar com cotas, que poderiam ser por municípios, e deixar cada município se organizar com as suas comunidades para descobrir quem são as pessoas que mais necessitam” afirmou o estudioso.

“O Plano Nacional de Imunização funciona dessa forma, descentralizada. Há duas vantagens nesse processo, iríamos identificar quem precisa com uma precisão muito maior e entenderíamos melhor o que essas pessoas mais precisam”, completou.

Barros também comentou sobre a maneira com que o Governo está lidando com a pandemia. Segundo ele, era necessário ter adotado um distanciamento social mais duro, e uma paralisação econômica planejada por um curto período de tempo, e que a forma com que a pandemia está sendo tratada pode torná-la algo crônico.

Barros fala sobre o Bolsa Família e o Auxílio Emergencial

Ainda na entrevista concedida à revista Exame, Barros respondeu perguntas sobre o programa Bolsa Família, o qual ajudou a criar. Quando perguntado sobre as ideias do atual governo, de incorporar 40 milhões de famílias no programa, ele disse:

“A história do Bolsa Família é muito clara e educativa sobre um ponto importante. Existem entre 12 e 15 milhões de famílias brasileiras que precisam de uma atenção muito especial. Certamente não são 40 milhões. E, de qualquer forma, tem recurso para atender 40 milhões?”

Respondendo a própria pergunta, sobre a questão dos recursos, ele completou: “Recurso para atender 40 milhões de famílias até dá para ter, mas elas serão mal atendidas, com um quarto do valor do benefício pago. O que é mais importante, atender bem as 12 milhões de famílias que realmente precisam ou atender 40 milhões mal?”

Continuando a entrevista, Barros comentou que se for para reduzir a desigualdade vale a pena se endividar. O economista usou o exemplo de uma empresa que tem um projeto altamente promissor. Neste caso, a empresa faria um empréstimo, e para ele, o mesmo serve para um país, apenas é preciso garantir que não seja um mal investimento.

Em suma, para Barros, se um governo demonstra validade em seus atos, não há motivo para limitar os gastos. Programas como o Auxílio Emergencial são de grande importância no momento de pandemia, porém devem ser feitos de maneira correta, para garantir que os que realmente precisam tenham a ajuda necessária.