A economia brasileira iniciou 2023 andando literalmente de lado. Em janeiro, a atividade econômica do país ficou estagnada em relação a dezembro de 2022, após ajuste sazonal.
Isso quer dizer que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil manteve o mesmo nível registrado no final do ano passado. Aliás, em 2022, o PIB brasileiro chegou a crescer 2,9% em relação a 2021.
Embora tenha sido um resultado bastante expressivo, vale ressaltar que a base comparativa foi fraca. Na verdade, a atividade econômica já havia apresentado uma forte taxa positiva em 2021, visto que a pandemia da covid-19 afundou a economia global, fazendo o planeta sofrer uma recessão.
Outro destaque que vale ser mencionado é a queda de 0,2% da economia brasileira no quarto trimestre de 2022. Esse resultado ligou o sinal de alerta do mercado financeiro, visto que o poderia ser um indício de novas quedas em 2023.
Em suma, o resultado de janeiro confirma isso, visto que a taxa se manteve estável. Isso pode até parecer um fato positivo, mas o problema é que o patamar estava abaixo do registrado no terceiro trimestre de 2022, ou seja, a economia do país alcançou um nível mais forte nos últimos meses, mas acabou perdendo ritmo.
Vale destacar que o relatório Focus, que traz estimativas de analistas de mais de 100 instituições financeiras sobre indicadores econômicos do país, indicou que o PIB brasileiro deverá crescer apenas 0,91% em 2023. Caso isso se confirme, o avanço será bastante tímido, próximo da estabilidade.
Em janeiro, a estagnação da economia brasileira ocorreu, principalmente, por influência dos serviços. Em síntese, o setor é o principal motor da economia brasileira e, no primeiro mês de 2023, a ausência de movimentação positiva acabou influenciando a atividade econômica do país.
“A estagnação da economia em janeiro é resultado da retração da indústria, da estagnação do setor de serviços e do crescimento apenas da agropecuária, na análise dos três grandes setores da economia“, informou a coordenadora da pesquisa, Juliana Trece.
“Esta configuração já mostra o que se deve esperar em 2023, tendo em vista que o contexto econômico é mais desafiador este ano do que se observou em 2022“, acrescentou a coordenadora.
A propósito, estes dados fazem parte do Monitor do PIB-FGV, realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) e divulgado nesta terça-feira (17).
Em janeiro, a agropecuária foi o único, entre os grandes setores, a registrar crescimento, na comparação com dezembro do ano passado. Em resumo, esse resultado impediu que a economia brasileira encolhesse no período.
Contudo, a produção industrial do país seguiu o caminho inverso e encolheu em janeiro. Na verdade, a indústria brasileira vem sofrendo quedas recorrentes nos últimos meses, conforme aponta a Pesquisa Industrial Mensal (PIM), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em fevereiro, a produção industrial do país recuou pela terceira vez consecutiva. Com isso, o nível 2,6% abaixo do patamar registrado em fevereiro de 2020, último mês antes da decretação da pandemia da covid-19. Além disso, o nível também está 19% abaixo do recorde registrado pela série histórica, em maio de 2011.
De acordo com o IBGE, os juros elevados vêm limitando o crescimento da indústria brasileira. Em síntese, os empresários do país reduzem os investimentos por causa dos juros altos, isso sem contar na diminuição do consumo das famílias.
A saber, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou, em agosto de 2022, a taxa básica de juro da economia brasileira, a Selic, para 13,75% ao ano. Esse é o maior patamar de juros no país desde novembro de 2016, quando a taxa estava em 14,00% ao ano.
De lá para cá, o Copom já realizou cinco reuniões para definir os novos rumos da política monetária do país. Apesar do apelo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deseja a redução dos juros no país, o Comitê decidiu manter os juros no mesmo patamar em todos os encontros.
Em síntese, a Selic é o principal instrumento do BC para conter a alta dos preços de bens e serviços, a temida inflação. Quanto mais alta a taxa estiver, mais altos ficarão os juros no país. Assim, o crédito fica mais caro, reduzindo o poder de compra do consumidor e desaquecendo a economia.
Por fim, vale destacar que o consumo das famílias cresceu 4,3% no trimestre móvel de novembro de 2022 a janeiro de 2023. Segundo o Monitor do PIB-FGV, “apenas o consumo de serviços (5,9%) e de produtos não duráveis (5,5%) contribuíram para esse crescimento”.
Isso mostra que o forte avanço ficou limitado a poucas atividades. Aliás, a preocupação é que esses setores percam força, o que pode afundar a economia brasileira, que já enfrenta muitos desafios para continuar crescendo.