O dólar iniciou a semana em queda, renovando o menor nível de outubro. Nesta segunda-feira (23), os conflitos no Oriente Médio continuaram preocupando os investidores, mas não tiveram forças para impulsionar a divisa americana, que tende a subir em momentos de preocupações globais.
Na verdade, o alívio no rali dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos falou mais alto e derrubou o dólar. Além disso, as novas projeções de analistas para a inflação no Brasil em 2023 também foram positivas para o mercado de câmbio, enfraquecendo ainda mais a moeda americana.
Na sessão de hoje (23), o dólar caiu 0,27% e encerrou o dia cotado a R$ 5,0164. Esse é o menor patamar da moeda norte-americana desde o dia 26 de setembro, quando a divisa fechou a sessão cotada a R$ 4,9870, ou seja, em quase um mês.
Com o acréscimo do resultado de hoje, o dólar inverteu o movimento no mês e agora acumula queda de 0,20% no mês. O resultado sucede as altas de agosto (4,68%) e setembro (1,55%) e mostra que o dólar segue com força, mesmo que esteja no campo negativo, até porque a queda se mostra bem tímida.
A divisa ainda acumula um forte recuo de 4,96% no ano. Inclusive, a queda anual chegou a atingir 11% em julho, mas as preocupações com o exterior impulsionaram o dólar nos últimos meses, reduzindo boa parte das perdas.
A guerra entre Israel e o grupo extremista islâmico Hamas entrou hoje (23) no 17º dia. São mais de duas semanas de muita tensão e ataques de ambos os lados, que já provocaram a morte de quase 6,5 mil pessoas, além de milhares de feridos e dezenas de reféns.
No último final de semana, Israel realizou bombardeios na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. O país afirmou que os ataques ocorreram em locais em que havia terroristas do Hamas. Inclusive, a expectativa é que Israel invada a Faixa de Gaza por terra em breve.
Do ponto de vista econômico, todo esse caos vem preocupando os analistas, que temem o aumento no preço do petróleo caso outros países do Oriente Médio se envolvam nos conflitos. Isso poderia pressionar a inflação em todo o mundo, fazendo os bancos centrais manterem os juros elevados, ou até mesmo voltarem a aumentá-los.
Caso os conflitos tenham uma escalada ainda maior, há um risco iminente de problemas na cadeia de produção e exportação de petróleo, ainda mais ao considerar que 60% da produção mundial de petróleo se concentra Oriente Médio.
Todo o cenário caótico do Oriente Médio poderia impulsionar o dólar nesta segunda-feira (23), mas isso não aconteceu, porque os investidores ainda estão deixando esse assunto em “banho-maria”, considerando-o, principalmente, como uma questão humanitária, mas sem força para afetar a inflação global.
Caso o risco de elevação da inflação estivesse bem maior, o dólar provavelmente estaria com uma cotação bem mais elevada. Isso porque, quando há incertezas e pessimismo global, os investidores tendem a buscar ativos mais seguros, e quem mais se destaca são os títulos do Tesouro dos EUA, que são considerados os ativos mais seguros do mundo.
Nos últimos dias, os títulos estavam no maior patamar dos últimos 15 anos. Essa valorização atraiu muitos investidores de todo o mundo e, quanto mais dinheiro circulando nos Estados Unidos, mais forte fica o dólar. Inclusive, os títulos americanos estão muito valorizados por causa dos juros elevados no país.
Atualmente, a taxa de juros está no nível mais elevado em mais de duas décadas. Aliás, na última reunião do Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, a entidade optou por manter os juros estáveis nos EUA. Contudo, não descartou a possibilidade de elevar a taxa nas próximas reuniões, a depender dos dados econômicos nacionais.
De acordo com o presidente do Fed, Jerome Powell, a entidade está analisando cautelosamente os impactos de juros mais elevados na economia norte-americana. A saber, o principal objetivo dos juros elevados é reduzir o poder de compra do consumidor para desaquecer a demanda e, assim, esfriar a economia. Dessa forma, a inflação perde força.
O problema é que isso afeta toda a população, e os investidores torcem pelo crescimento econômico dos países, ainda mais porque os EUA são a maior economia do mundo. Um eventual aumento dos preços do petróleo, com o prolongamento da guerra, poderá pressionar o Fed a elevar os juros, algo que o mercado não quer que aconteça.
Por fim, os investidores também repercutiram as novas projeções de analistas do mercado financeiro em relação a indicadores econômicos do Brasil. Em suma, os analistas projetaram pela segunda semana consecutiva uma taxa inflacionária dentro da meta estabelecida para 2023.
De acordo com o boletim Focus, as estimativas apontaram para uma inflação de 4,65%, dentro do limite para a meta neste ano. Para 2023, o Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu uma meta central de 3,25% para a inflação no país, podendo variar entre 1,75% e 4,75%. Isso acontece porque a entidade também define um intervalo de 1,5 ponto percentual (p.p.) para a taxa inflacionária, para cima e para baixo.
Essa estimativa mais otimista aconteceu porque, em setembro, a inflação subiu 0,26% no Brasil, abaixo do esperado pelo mercado. Embora a taxa tenha acelerado em relação a agosto (0,23%), o que repercutiu foi o dado vir mais fraco que o esperado por analistas (0,33%). A propósito, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é considerado a inflação oficial do país.