O dólar não apresentou variações muito expressivas nesta semana, registrando altas e quedas alternadamente. O cenário internacional continuou influenciando a cotação da moeda americana, com os investidores de olho no Oriente Médio e nos Estados Unidos.
Contudo, nesta sexta-feira (27), o que mais repercutiu foram declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação à saúde fiscal do Brasil e ao objetivo do Governo Federal de zerar o déficit das contas públicas em 2024.
Em resumo, o dólar fechou o pregão da sexta-feira (27) em alta de 0,46%, cotado a R$ 5,0126. Embora tenha subido, a moeda encerrou a semana com um recuo de 0,35% e agora acumula queda de 0,28% em outubro.
O resultado sucede as altas de agosto (4,68%) e setembro (1,55%) e mostra que ainda não há uma definição sobre a trajetória do dólar neste mês. Faltam apenas dois pregões para o final de outubro e, a depender das variações, a moeda poderá subir pelo terceiro mês consecutivo ou voltar a fechar um mês em queda.
Já em 2023, a divisa acumula um forte recuo de 5,03%. Inclusive, a queda anual chegou a atingir 11% em julho, mas as preocupações com o exterior impulsionaram o dólar nos últimos meses, reduzindo boa parte das perdas.
Durante toda a semana, os investidores ficaram de olho, principalmente, em três locais: o Oriente Médio e os Estados Unidos. No primeiro caso, todo o mundo continua acompanhando os conflitos entre Israel e Hamas, e todo o impacto que essa guerra poderá provocar no planeta.
Já no caso dos EUA, a atenção também ficou voltada à taxa de juros da maior economia mundial. Em resumo, tudo o que acontece nos Estados Unidos ganha repercussão internacional, já que o país é muito importante para todo o mundo. Por isso, qualquer informação sobre os juros no país acaba repercutindo entre os investidores.
No âmbito doméstico, dados sobre a inflação e declarações do presidente Lula repercutiram, mas de maneira inversa. Enquanto os dados econômicos animaram os investidores, as declarações de Lula preocuparam boa parte do mercado.
Um dos assuntos que vêm repercutindo nas últimas semanas é a guerra entre Israel e o grupo extremista islâmico Hamas, que teve início há três semanas e já provocou a morte de mais de 7 mil pessoas. Em suma, os investidores temem um aumento no preço do petróleo por causa da guerra.
Caso os conflitos tenham uma escalada ainda maior, há um risco iminente de problemas na cadeia de produção e exportação de petróleo, ainda mais ao considerar que 60% da produção mundial de petróleo se concentra Oriente Médio.
A principal preocupação, do ponto de vista econômico, refere-se ao aumento no preço do petróleo caso outros países do Oriente Médio se envolvam nos conflitos. Isso poderia pressionar a inflação em todo o mundo, fazendo os bancos centrais manterem os juros elevados, ou até mesmo voltarem a aumentá-los.
Nesta semana, o governo norte-americano informou que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA subiu 4,9% no terceiro trimestre, bem acima do esperado pelo mercado (2,1%). Esse resultado preocupou os investidores, pois pode pressionar o Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, a aumentar os juros no país.
A saber, o principal objetivo dos juros elevados é reduzir o poder de compra do consumidor para desaquecer a demanda e, assim, esfriar a economia. Dessa forma, a inflação perde força, já que a demanda se retrai.
Em outras palavras, quanto mais forte estiver a economia norte-americana, mais alta tende a ficar a inflação. Entretanto, como o Fed tem a missão de controlar a inflação no país, a entidade acaba elevando os juros para que a taxa inflacionária não suba acima dos valores definidos.
Atualmente, a taxa de juros está no nível mais elevado em mais de duas décadas. Na semana que vem, o Fed se reunirá novamente para definir a política monetária do país, e a entidade não descartou a possibilidade de elevar a taxa de juros, a depender dos dados econômicos nacionais.
Em suma, os investidores acreditam que o Fed manterá os juros estáveis na próxima semana. No entanto, para o último encontro do ano, em dezembro, os analistas acreditam cada vez menos que o banco manterá os juros estáveis. As previsões de alta dos juros no último mês de 2023 vêm ganhando força, ainda mais com os fortes dados do PIB americano.
Na última quinta-feira (26), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) subiu 0,21% em outubro, taxa inferior a de setembro (0,35%). A saber, o IPCA-15 e considerado a prévia da inflação do Brasil.
O dado é positivo para o Brasil e indica que os juros em queda no país estão sendo suficientes para enfraquecer a inflação. A expectativa é que o Comitê de Política Monetária do Banco Central reduza em 1,0 ponto percentual a taxa de juros em 2023, para 11,75% ao ano. Isso beneficia a população e fortalece a economia brasileira, o que pode atrair mais investidores para o país.
Na sexta-feira (27), o presidente Lula afirmou que “dificilmente” o Brasil conseguirá zerar o déficit em suas contas em 2024. A declaração, feita durante o café da manhã, no Planalto do Palácio, com a presença de jornalistas, preocupou o mercado.
“Eu sei da disposição do Haddad, sei da vontade do Haddad, sei da minha disposição. Já dizer para vocês que nós dificilmente chegaremos à meta zero“, disse Lula.
“Eu não quero fazer corte de investimentos de obras. Se o Brasil tiver um déficit de 0,5%, o que que é? De 0,25%, o que é? Nada. Absolutamente nada. Vamos tomar a decisão correta e vamos fazer aquilo que vai ser melhor para o Brasil“, acrescentou o presidente.
Por fim, a saúde fiscal de um país é um grande indicador para os investidores decidirem alocar recursos. Logo, as declarações de Lula preocuparam o mercado e impulsionaram o dólar.