O endividamento de brasileiros vem crescendo nos últimos anos, de forma que os cidadãos têm se acostumado com a inadimplência. De acordo com o Serasa, cerca de 65,7 milhões de pessoas possuem contas vencidas. O valor médio de dívidas no país é superior a R$ 4 mil.
Dados disponibilizados pelo Serasa indicam que o perfil de inadimplentes no Brasil são cidadãos entre 26 a 40 anos de idade. A bibliotecária Caroline Realon, 30 anos, informou ao jornal O Estado de S. Paulo que suas dívidas ultrapassam R$ 7 mil. “Entro e saio do Serasa, gasto mais do que ganho”, diz Caroline. “Fico enrolando para pagar as contas. Vou deixar rolar e pagar quando der, porque não dá para lutar contra os juros.”, complementa.
A empresa de análise de crédito Boa Vista declarou que 83% das dívidas possuem atrasos superiores a 90 dias. Para Lauro Leite, presidente da Return (empresa de recuperação de crédito do Santander), além de imprevistos, a desorganização financeira faz com que as dívidas se tornem uma “bola de neve”.
Leite ainda constatou que é bastante comum que os inadimplentes pegam dinheiro emprestado de um cartão para pagar outro, “O brasileiros é cheio de cartoes”, disse o presidente da Return.
De acordo com Eric Garmes de Oliveira, cofundador da Paschoalatto, empresa que cobra dívidas para os principais bancos do Brasil, os cidadãos que saem da lista de negativados acabam voltando pouco tempo depois. Para ele, é importante que os inadimplentes se mostrem dispostos a negociar as dívidas. “Isso é importante para evitar que a dívida seja cobrada judicialmente”, explica.
O representante comercial Anderson Kazuo, 32 anos, relatou que já fez diversas negociações. O problema com as dívidas se iniciou em 2018, quando Anderson teve despesas extras com o seu automóvel e não conseguiu manter as parcelas em dia.
Anderson relata que atualmente deve cerca de R$ 18 mil ao banco e busca uma saída para quitar suas dívidas. Apesar disso, ao tentar negociar com a instituição, o representante comercial não conseguiu realizar uma negociação que atendesse suas necessidades.
“Tem uma oferta na Serasa reduzindo o valor pela metade, então vou ver se consigo utilizar parte do meu FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para finalizar esse empréstimo”, disse. De acordo com um levantamento feito pelo Instituto Opinion Box em parceria com a Serasa, aproximadamente de 40% dos inadimplentes com carteira assinada pretendem quitar suas dívidas com o saque extraordinário do FGTS.
Para o economista da Serasa, Luiz Rabi, inúmeros fatores devem fazer com que a inadimplência no país continue aumentando, como a renda dos brasileiros, alta dos juros e inflação. “É um momento ruim do ponto de vista financeiro. Não vai ser simples diminuir o número de inadimplentes”, diz.
O economista ainda disse ao jornal O Estado de S. Paulo que em momentos de dificuldade, os consumidores preferem atrasar contas como água e luz, ao invés de dever para instituições financeiras. Isso ocorre porque as dívidas com bancos acabam incluindo mais rápido o nome dos devedores em serviços e proteção ao crédito como Serasa e SPC.