Imagine que a fatura do cartão chegou e você não tem o dinheiro para pagar todo o valor cobrado. No app do banco, há um convidativo botão afirmando que você pode pagar apenas uma parte daquele patamar e deixar o resto para depois. Pronto. Você está a um clique de entrar em uma espécie de bola de neve.
Dados oficiais do Banco Central (BC) divulgados nesta semana mostram que cada vez mais brasileiros estão aderindo ao botãozinho convidativo do app, e entrando em uma bola de neve de dívidas. Em grande parte, este aumento da inadimplência ocorre também por causa dos juros que são cobrados sobre o montante que não é pago.
Segundo informações oficiais, a média dos juros sobre o rotativo do cartão pode chegar a 440% ao ano. Com isso, no último mês de junho, os brasileiros atingiram a preocupante marca de R$ 77,46 bilhões em dívidas por causa desta modalidade. O patamar é o dobro do que foi registrado há dois anos: R$ 38,48 bilhões em 2021.
Neste mesmo período, o índice de inadimplência dos brasileiros subiu de 27,65% para 49,05%. Analistas criticam tanto o tamanho dos juros que são cobrados, como também o fato de muitos bancos concederem créditos para os clientes acima do limite de renda dos consumidores.
Todo este sistema está preocupando membros do Governo Federal. O Ministério da Fazenda, por exemplo, vem criticando duramente os juros que são cobrados para o rotativo do cartão de crédito. O Ministro Fernando Haddad (PT) vem capitaneando uma frente por mudanças neste sentido.
“Temos que ter muito cuidado para não afetar as compras no comércio e não fazer um outro problema para resolver o 1º. Então nosso foco é o rotativo. O rotativo não pode continuar como está e eu tenho um compromisso dos bancos de que essa mesa de negociação tem prazo para terminar”, declarou o ministro.
“Não vou me antecipar quanto à solução porque, se não, o grupo de trabalho vai se extinguir. Mas o Banco Central faz parte desse grupo e estamos em interação permanente. Aqui na Fazenda, a liderança do tema é com a Secretaria de Reformas Econômicas. Mas a Febraban e o IDV também estão sintonizados para buscar uma equação para o problema”, seguiu ele.
De fato, o Banco Central também está de olho nas consequências do rotativo do cartão de crédito. Nesta semana, por exemplo, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, chegou a sinalizar que esta modalidade deverá ser extinta pelos bancos em breve.
“Sem rotativo, a fatura não paga iria direto para o parcelado. Deve ser anunciado nas próximas semanas”, afirmou o presidente do BC, em arguição pública no plenário do Senado. “Deveríamos ter feito antes medidas para solucionar rotativo”, admitiu.
No entanto, ele recebeu críticas do representantes dos bancos depois desta declaração e deu alguns passos atrás em entrevista recente. “Ninguém quer criar nenhum tipo de ruptura que possa causar impacto para as pessoas”, disse Campos Neto.
Enquanto o governo federal e o Banco Central não tomam medidas para frear o problema dos juros do rotativo do cartão de crédito, vai caber ao cidadão tomar cuidados para não cair na bola de neve.
Um das dicas mais importantes, é anotar todos os seus gastos em uma folha de papel para entender exatamente qual é o valor que vai ser cobrado em sua fatura. Assim, o cidadão vai saber quando poderá fazer compras sem comprometer a sua renda.
Outra dica importante é optar pela negociação do boleto. Ao invés de entrar no rotativo, o consumidor pode entrar em contato com o seu banco para negociar o valor da sua fatura, o que pode fazer com que ele quite a dívida sob juros mais baixos.