Paula Beatriz de Souza Cruz é diretora da Escola Estadual Santa Rosa de Lima, no Capão Redondo, zona sul de São Paulo. Ela é primeira mulher transexual a assumir esse posto na rede de ensino do Estado de São Paulo. Paula diz que é na escola que há oportunidades para discussões, aprendizados, momentos de lazer e questionamentos.
“Tem que dar formação para os profissionais e não digo só os professores e sim desde quem abre o portão, quem prepara a merenda, quem limpa o banheiro porque nesse espaço todos educam. O ofício de ensinar é do professor, mas todos educam. A escola é uma eterna pesquisadora e não tenho responsabilidade só com os 1008 estudantes matriculados. Por trás deles tem muitas outras pessoas”.
A educadora tem 30 anos de profissão e, nesse tempo, já foi professora, coordenadora, formadora, diretora, atuou na supervisão e retornou à direção. Sua transição de gênero ocorreu no meio disso tudo, quando já era diretora.
Antes mesmo da transição os alunos perguntavam se ela era mulher. E eu voltava: ‘o que você acha?’. Cada um achava uma coisa. “Essa voz da criança é direta, franca, sincera e acho isso muito bonito, elas não veem rótulo”, diz Paula.
Para Paula, assumir esse posto é ir contra o rótulo histórico de prostituição e marginalidade que a sociedade coloca em travestis e transexuais. Ela conta que se sente realizada na profissão e que já recebeu, anos atrás, ex-alunas. “Algumas meninas, hoje travestis, quiseram vir aqui falar comigo. Tinham tido contato comigo quando crianças. Falam que sou uma inspiração. A gente sabe que nosso país é um dos que mais mata travestis e transexuais e você estar numa direção de escola abre caminho para novas gerações e até para atuais de que é possível”.
Paula diz que desde criança já se percebia de outra forma. “Via que não me enquadrava naquela figura biológica na qual tinha nascido, mas sem entender. Não foi fácil me aceitar como Paula, tanto que levei37 anos para isso. Gosto de brincar que tinha um irmão gêmeo antes porque foi ele que entrou, estudou, fez a pedagogia, ingressou como diretor e não posso também anular essa história. Este foi o caminho e porque tão tarde? Por medo. Eu tinha muito medo, porque não sabia como ia ser a reação das pessoas, como eu ia ser tratada e de repente perder justamente o ambiente que eu mais gosto de estar e não poder atuar”.
Apesar do medo, a diretora encarou a mudança e conta que teve apoio profissional e familiar. É por isso que, na escola, Paula faz questão de acolher bem toda a comunidade escolar. As informações são do HuffPost Brasil.