O vaping, ou o uso de dispositivos eletrônicos para vaporizar substâncias como a nicotina, tem sido uma tendência em ascensão no Brasil nos últimos anos. Apesar de serem proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os vapes têm encontrado um mercado florescente no país, alimentado por uma combinação de fatores que incluem o aumento da conscientização sobre os riscos do tabagismo e a facilidade de acesso a esses dispositivos através de canais online.
Os ‘vapes‘, ou cigarros eletrônicos, são dispositivos alimentados por bateria que simulam a experiência de fumar, produzindo um vapor inalável que, em muitos casos, contém nicotina. Diferentemente dos cigarros tradicionais, que queimam tabaco para liberar nicotina, os ‘vapes’ aquecem um líquido – chamado de e-líquido ou vape juice – que pode conter nicotina, sabores e outros produtos químicos.
Mais de dois milhões de brasileiros consomem diariamente vapes. Mesmo com a proibição da Anvisa, o mercado de vapes tem crescimento constante no país. De acordo com um estudo do IPEC, em 2018 eram menos de 500 mil consumidores de vapes no Brasil. No ano passado, esse número saltou para 2,2 milhões de consumidores frequentes. O consumo desse produto ilegal e sem regras pode trazer prejuízos incalculáveis.
Embora os ‘vapes‘ sejam proibidos no Brasil desde 2009, a demanda por esses dispositivos tem crescido de maneira constante. Uma das razões para essa tendência é a percepção de que o vaping é menos prejudicial à saúde do que o fumo tradicional. Ainda assim, a falta de regulamentação e controle desses produtos tem levantado preocupações entre especialistas em saúde pública e legisladores.
A regulamentação dos ‘vapes’ tem sido um tema de debate no Brasil. Enquanto alguns defendem a proibição completa desses dispositivos, citando os riscos potenciais para a saúde, outros argumentam que a regulamentação poderia permitir um maior controle sobre a qualidade e a segurança dos produtos, além de oferecer uma alternativa para fumantes que desejam parar de fumar.
Os proponentes do vaping argumentam que esses dispositivos podem ajudar os fumantes a parar de fumar, ao proporcionar uma experiência semelhante ao fumo, mas sem a exposição a muitos dos produtos químicos prejudiciais encontrados no tabaco. No entanto, a pesquisa sobre os efeitos do vaping na saúde ainda está em andamento, e existem preocupações sobre os riscos potenciais, especialmente para jovens e adolescentes.
Os impactos potenciais do vaping na saúde pública são motivo de preocupação. Embora alguns estudos sugiram que o vaping pode ser menos prejudicial do que o tabagismo, ainda há muitas incertezas sobre os efeitos a longo prazo do uso desses dispositivos.
A ascensão dos ‘vapes‘ no Brasil é uma tendência que provavelmente continuará, à medida que mais pessoas buscam alternativas ao tabagismo. No entanto, é crucial que sejam implementadas regulamentações apropriadas para garantir a segurança e a qualidade desses produtos.
O mercado de vaporizadores e produtos de tabaco aquecidos é completamente ilegal no Brasil. Isso não impede, no entanto, a venda desses produtos em bancas de jornal, na porta de colégios e universidades, em bares, restaurantes, e até mesmo na praia.
Para Alessandra Bastos, ex-diretora da Anvisa e consultora da Bat, a proibição do cigarro eletrônico no Brasil só existe no papel. A facilidade com que esses produtos são encontrados demonstra que a proibição é ineficaz e que uma regulamentação se faz necessária.
Em contraste com o Brasil, os vapes são regulamentados em 80 países. A falta de regulamentação no Brasil não só gera riscos para a saúde dos usuários, mas também favorece o mercado ilegal.
A toxicologista Silva Cazenave sugere que o cigarro eletrônico pode ser parte de uma estratégia de redução de danos, desde que regulamentado. Isso porque várias das substâncias presentes no cigarro comum não estão presentes no vape.
O contrabando de vapes no Brasil também tem um grande impacto na economia. A Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG) estima que a fabricação interna e comércio legal de vapes poderiam aumentar a arrecadação de impostos no setor de fumo em quase R$ 136 milhões por ano.
De acordo com Lauro Anhenzini Junior, chefe de assuntos regulatórios da BAT, R$ 5 bilhões são perdidos em impostos todos os anos devido ao contrabando de vapes. Além disso, a cadeia produtiva perde R$ 16 bilhões em faturamento todos os anos, e 110 mil empregos diretos e indiretos são perdidos.
Uma audiência no Senado Brasileiro irá discutir a regulamentação dos vapes no país. A Anvisa, que em 2020 divulgou um relatório mantendo a proibição dos vapes, irá participar da audiência.
Alessandra Bastos, ex-diretora da Anvisa e consultora da BAT, argumenta que a importação de vapes é proibida até para pesquisa e que somente com a regulamentação a vigilância sanitária será efetivamente implementada.
Em síntese, o consumo de vapes no Brasil é uma realidade que não pode ser ignorada. Dessa forma, a falta de regulamentação não apenas coloca em risco a saúde dos consumidores, mas também impacta a economia do país. É preciso que haja um debate aberto e responsável sobre a regulamentação dos vapes, levando em consideração tanto a saúde pública quanto o impacto econômico.