Crônica é o tipo de texto que aborda acontecimentos do dia a dia de uma forma diferenciada. Muito encontrada nos meios de comunicação como revistas, jornais e rádios, tem como objetivo fazer uma análise crítica das situações cotidianas, possibilitando ao leitor uma reflexão sobre aquele assunto.
A palavra deriva do latim chronica, que significa narrativa cronológica. A primeira crônica data de 1799 e foi publicada no Jornal des Débats, em Paris. No Brasil, ela passou a ser conhecida na metade do século XIX e era publicada em folhetins.
Por tratar de assuntos cotidianos e factuais, a crônica tem “vida curta”. O assunto em pauta hoje não será o mesmo de amanhã, aspecto similar ao jornalismo, visto que ambas buscam inspiração nos acontecimentos do dia a dia.
Com uma linguagem simples, a crônica relata de forma diferenciada as ocorrências, seja de forma artística, em tom crítico ou com humor.
Veja as principais características dessa vertente dos gêneros textuais:
– É escrita em textos curtos;
– Possui linguagem despojada e simples;
– Narra situações do cotidiano;
– Visa prender a atenção do leitor.
Apesar de ter em comum o tom crítico com a intenção de causar uma reflexão no leitor sobre o assunto abordado, a crônica pode ser classificada em: descritiva, narrativa, dissertativa, narrativo-descritiva, humorística, lírica, jornalística e histórica.
Como o próprio nome diz, a crônica descritiva detalha, expõe com pormenores os atributos de pessoas, animais ou objetos. A linguagem utilizada é dinâmica e conotativa. Confira o exemplo abaixo:
Exemplo:
“…pôs a mão no tronco de uma árvore pequena, sacudiu um pouco, e recebeu nos cabelos e na cara as gotas de água como se fosse uma bênção. Ali perto mesmo a cidade murmurava, estalava com seus ruídos vespertinos, ranger de bondes, buzinar impaciente de carros, vozes indistintas; mas ele via apenas algumas árvores, um canto de mato, uma pedra escura. Ali perto, dentro de uma casa fechada, um telefone batia, silenciava, batia outra vez, interminável, paciente, melancólico. Alguém com certeza já sem esperança, insistia em querer falar com alguém.” (Trecho do texto O mato, de Rubem Braga).
Esse tipo de crônica tem como pano de fundo a narração de uma história, que pode ser feita na 1ª ou 3ª pessoa do singular, e por isso acaba sendo confundida com o conto (texto fictício que cria fantasias e acontecimentos). Humor, ação e crítica são as principais características, conforme o exemplo abaixo:
“Morreu lá um tal de 56 Nicolino, numa indigência que eu vou te contar; Segundo telegrama vindo de Ubá, alguns amigos de 58 Nicolino compraram um caixão e algumas garrafas de cangibrina, levando tudo para o velório. Passaram a noite velando o morto e entornando a cachaça. De manhã, na hora do enterro, fecharam o caixão e foram para o cemitério, num cortejo meio ziguezagueando e num compasso mais de rancho que de féretro. Mas — bem ou mal — lá chegaram, lá abri rata a cova e lá enterraram o caixão.” (Trecho da crônica Choro, veia e cachaça, do escritor Stanislaw Ponte Preta).
Apresenta características narrativas e descritivas de maneira intercalada no decorrer do texto, com acontecimentos retratados em uma sequência temporal.
Veja o exemplo abaixo:
“Ora, uma noite, correu a notícia de que o bazar se incendiara. E foi uma espécie de festa fantástica. O fogo ia muito alto, o céu ficava todo rubro, voavam chispas e labaredas pelo bairro todo. As crianças queriam ver o incêndio de perto, não se contentavam com portas e janelas, fugiam para a rua, onde brilhavam bombeiros entre jorros d’água. A eles não interessava nada, peças de pano, cetins, cretones, cobertores, que os adultos lamentavam. Sofriam pelos cavalinhos e bonecas, os trens e os palhaços, fechados, sufocados em suas grandes caixas.” (Trecho de Brinquedos, da escritora Cecília Meireles).
A apresentação explícita da opinião do autor sobre determinado assunto do cotidiano é a principal característica desse tipo de crônica, que pode ser escrita em 1ª do singular ou 3ª pessoa do plural.
Tendo como exemplo uma pesquisa apresentada por um instituto sobre o aumento da mortalidade infantil, a crônica dissertativa poderia ser escrita da seguinte forma:
“Vejo mais uma vez esses pequenos seres não alimentarem sequer o corpo…”
A crônica humorística utiliza a ironia, o sarcasmo e o humor para tratar assuntos que impactam a sociedade, como política, economia e cultura.
Observe o exemplo:
“Há tempos me perguntaram umas menininhas, numa dessas pesquisas, quantos diminutivos eu empregara no meu livro A rua dos Cataventos. Espantadíssimo, disse-lhes que não sabia. Nem tentaria saber, porque poderiam escapar-me alguns na contagem. Que essas estatísticas, aliás, só poderiam ser feitas eficientemente com o auxílio de robôs. Não sei se as menenininhas sabiam ao certo o que era um robô. Mas a professora delas, que mandara fazer as perguntas, devia ser um deles.” (Trecho da crônica De como não ler um poema, de Mário Quintana).
A crônica lírica apresenta uma linguagem poética e metafórica que demonstra emoções como nostalgia, saudade e paixão, conforme exemplificado abaixo:
“Com os dias, Senhora, o leite pela primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada.
Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam e eu ficava só, sem o perdão de sua presença a todas as aflições do dia, como a última luz na varanda.” (Trecho do texto Apelo, de Dalton Trevisan).
Como o próprio nome diz, esse tipo de crônica explora notícias jornalísticas. A principal diferença entre a crônica jornalística e a dissertativa é que a primeira aborda apenas os fatos que permeiam os meios de comunicação, conforme exemplo abaixo:
“Amigos, a bola foi atirada no fogo como uma Joana d’Arc. Garrincha apanha e dispara. Já em plena corrida, vai driblando o inimigo. São cortes límpidos, exatos, fatais. E, de repente, estaca. Soa o riso da multidão — riso aberto, escancarado, quase ginecológico. Há, em torno do Mané, um marulho de tchecos. Novamente, ele começa a cortar um, outro, mais outro. Iluminado de molecagem, Garrincha tem nos pés uma bola encantada, ou melhor, uma bola amestrada. O adversário para também. O Mané, com quarenta graus de febre, prende ainda o couro.” (Trecho da crônica O escrete de loucos, de Nelson Rodrigues).
A crônica histórica aborda apenas fatos reais ocorridos no passado, com personagens, tempo e espaço definidos, com uma linguagem leve e coloquial.
O Brasil tem grandes nomes na crônica como Machado de Assis, João do Rio, Rubem Braga, Cecília Meireles, Lima Barreto, Vinícius de Moraes, Nelson Rodrigues, Luís Fernando Veríssimo, Caio Fernando Abreu, entre outros.