Covid-19: “O Brasil mostrou a receita do que não fazer na pandemia”, dizem especialistas

País teve mais erros do que acertos no combate ao coronavírus

A pandemia de Covid-19 completou um ano no Brasil, causando mais de 250 mil mortes e 10 milhões de casos confirmados. Em bate-papo promovido pelo jornal O Globo, as especialistas Natalia Pasternak e Margareth Dalcolmo criticaram a gestão do governo no enfrentamento ao novo coronavírus.

Natalia Pasternak ressalta urgência da vacinação contra Covid-19 — Foto: Divulgação/ Governo de São Paulo

“O Brasil mostrou a receita do que não fazer na pandemia”, diz Natalia Pasternak, microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência.

“Incomoda todos os dias ficarmos vendo essa “anestesia cívica”. Ficamos lá contando mortes. “Hoje teve 1.035, ontem 1.052…” Não pode continuar assim, como diletantismo. Estamos diante de algo muito dramático, que atingiu muitas famílias.”, alertou Margareth Dalcolmo, médica pneumologista, pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), responsável pela fabricação da vacina de Oxford no Brasil.

250 mil mortes por Covid-19 no Brasil

Sobre as mais de 250 mil mortes em decorrência da Covid-19 no Brasil, ambas as especialistas dizem que poderiam ter sido evitadas caso a postura do governo federal tivesse sido diferente.

“Quantas vidas teriam sido poupadas simplesmente com vontade política, organização e preparação? Como seria se o país tivesse enfrentado a pandemia de maneira coletiva e organizada? Como teria sido com líderes dando o exemplo? Tivemos o contrário: líderes dando o mau exemplo. Incitaram as pessoas a achar que não era sério, a não usar máscara e a se aglomerar à vontade.”, apontou Natalia Pasternak.

“Quantas dessas mortes poderiam ter sido evitadas? Digo de maneira quase arbitrária: pelo menos um quarto das mortes, se as pessoas tivessem recebido assistência adequada, sem bobagem de “tratamento precoce”.”, questionou Margareth Dalcolmo.

Atrasos na compra de vacinas contra Covid-19

A lentidão na aquisição de vacinas contra Covid-19 e a preferência por divulgar tratamentos sem eficácia comprovada foram alvos de críticas de Pasternak e Dalcolmo.

“A gente perdeu o bonde para adquirir as doses, e está correndo para conseguir no pinga-pinga. Um pouco aqui, um pouco no segundo semestre, um pouco no ano que vem…”, disse Pasternak.

“Tivemos a negação de quão estratégica era a única solução possível para uma virose aguda dessa natureza: a vacina. Não estamos tratando de hepatite C ou Aids, viroses crônicas com as quais usamos remédios. Ficou claro há muito tempo que não era remédio que iria resolver a Covid-19.”, ressaltou Dalcolmo.

Desinformação sobre a Covid-19

Nesta semana, Bolsonaro foi tema de uma campanha promovida pela ONG Repórteres Sem Fronteiras contra a desinformação sobre Covid-19 durante a pandemia no Brasil. Pasternak e Dalcolmo seguem a mesma linha das críticas direcionadas pela ONG ao presidente brasileiro.

Margareth Dalcolmo é pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz. — Foto: Divulgação

“A quem interessa gastar dinheiro para disseminar “tratamento precoce” e promover politização de algo sem sentido? A quem interessa disseminar discórdia quando temos que ter a sociedade reivindicando o seu direito a ser vacinada? Precisamos vacinar, no mínimo, 70% da população nos próximos meses e fechar o semestre assim.”, questionou a médica Margareth Dalcolmo.

Pasternak ainda ressaltou a importância das medidas de proteção contra o novo coronavírus para controlar a pandemia de Covid-19 no Brasil.

“Há um ano, era compreensível as pessoas não entenderem por que temos que usar máscara e não fazer aglomeração. Um ano depois, a gente ainda precisa insistir nisso. Não basta saber de vacina, se esquecemos das outras medidas que precisam, ainda, ser usadas. Talvez agora precisem ser usadas até de forma mais enfática.”