Em entrevista à BBC Brasil, o ex-diretor-geral do Ministério da Saúde de Israel, o epidemiologista Gabriel Barbash, disse que “não há dúvida sobre a eficácia do lockdown” para combater a pandemia de Covid-19.
O médico foi nomeado em 2020 para combater o coronavírus no país, mas acabou renunciando após divergências sobre os poderes que teria para fazer o enfrentamento da segunda onda.
“O lockdown é muito eficiente (como medida de controle), embora seu custo econômico e social seja muito alto. Ele reduziu o número de infecções diárias. Não há dúvida sobre sua eficácia”, diz Barbash, que é diretor do Instituto Weizmann de Ciências, um dos principais institutos multidisciplinares do mundo.
A única ressalva do epidemiologista é que os frutos do lockdown podem ser perdidos, dependendo de como a reabertura é conduzida pelas autoridades de cada país.
“É preciso gerir cuidadosamente o que acontece depois do lockdown, pois, dependendo do que os governos fizerem, todos os ganhos podem ser perdidos”, completou Barbash.
No total, Israel implementou três lockdowns para controlar o avanço da Covid-19 no país, que registrou mais de 820 mil casos e 6 mil mortes pela doença desde o começo da pandemia. Apesar dos lockdowns defendidos por Barbash, ele avalia que Israel poderia ter feito um trabalho melhor na contenção do coronavírus.
“Governos devem ouvir o que os cientistas têm a dizer. Em última análise, a decisão sobre quais medidas tomar é dos políticos. Mas em muitas ocasiões eles (governo) não nos escutaram”, disse o médico em entrevista à BBC Brasil.
Israel é líder mundial em percentual de pessoas vacinadas contra Covid-19, com 109,66 doses aplicadas a cada 100 pessoas — para comparar, o Brasil tem taxa de 5,6 doses a cada 100 habitantes. Barbash elogia o programa de vacinação israelense, mas lembra que esse não pode ser o único caminho para combater o avanço da pandemia.
“É preciso diferenciar o controle da pandemia e o programa de vacinação. Israel não foi bem-sucedido em controlar a pandemia. Impusemos três lockdowns e saímos deles sem ter nos beneficiado totalmente dos ganhos. O governo tentou agradar o público e como resultado tomou decisões erradas”, diz ele.
Mesmo com excelentes índices de vacinação em Israel, o epidemiologista insiste que restrições de mobilidade são imperativas para combater a Covid-19.
“Em nenhum lugar do mundo, vacinação é tudo. É preciso restringir a mobilidade das pessoas. Só vacinar não é suficiente. Se deixarmos o vírus correr solto, aumentamos a chance de que novas variantes mais resistentes surjam”.