Ainda é uma incógnita saber quais são todos os efeitos da Covid-19 no corpo do indivíduo após ter sido contaminado pelo SARS-CoV-2, mas já se sabe que entre os diversos sintomas e sequelas que a doença pode causar, alguns deles podem ser percebidos em nosso sistema neurológico.
E muitos estudos estão sendo realizados neste sentido, acompanhando pessoas que já passaram pelas piores situações, como a intubação, e aquelas que tiveram os sintomas considerados mais leves, como a perda de olfato ou paladar e, nessa matéria, iremos explorar alguns dos resultados que já foram obtidos em diversos estudos científicos relacionando pacientes que já tiveram Covid-19 a sintomas de doenças neurológicas, sejam previamente existentes ou não, além de apresentarmos quais são os estudos que estão em andamento que buscam identificar quais são os efeitos neurológicos provocados pela Covd-19.
O primeiro estudo relacionando o novo coronavírus a efeitos neurológicos foi realizado justamente na cidade onde ele foi descoberto: em Wuhan, na China. Pesquisadores do Hospital de Huazhong, ligado à Universidade de Ciência e Tecnologia de Wuhan analisaram o comportamento neurológico de 214 pacientes hospitalizados e chegaram a algumas conclusões.
Do total destes casos analisados, foi levantado o dado de que 36,4% de todas as pessoas contaminadas pelo vírus apresentariam algum tipo de sintoma neurológico, sendo que se manifestariam em 45,5% dos casos graves, seja afetando o Sistema Nervoso Central, o Sistema Nervoso Periférico.
Foi a partir deste estudo inicial, feito reconhecidamente com baixa amostra populacional, que a perda de olfato e paladar passaram a ser consideradas como sintomas da Covid-19. Tendo sido publicado na edição de junho da renomada revista científica Lancelot, e sendo realizado entre janeiro e fevereiro de 2020, o estudo de Wuhan mostrou que hipogeusia e hiposmia, que são efeitos adversos no paladar e no olfato, respectivamente, eram percebidas em 33,9% dos casos e sabe-se que estes são sintomas que atingem diretamente o Sistema Nervoso Periférico (SNP) do paciente.
Por outro lado, atingindo o Sistema Nervoso Central (SNC) dos pacientes, a mesma pesquisa foi capaz de apontar que 16,8% dos pacientes apresentaram tontura e 13,1% desenvolveu quadro de cefaleia. Em casos mais raros, como 4 pessoas daquelas 214 terem apresentado AVC isquêmico e apenas um paciente ter hemorragia cerebral, ainda perceberam outros casos, como Síndrome de Guillain-Barré, encefalite, entre outras, tendo sido o ponto de início para diversos outros estudos que passaram a ocorrer e seguem ocorrendo por todo o mundo relacionando o coronavírus a doenças neurológicas.
A partir daquele estudo em Wuhan, outros foram desenvolvidos e compilados, onde se pôde perceber que os cientistas agruparam os principais sintomas neurológicos nas seguintes categorias: 1) anosmia e ageusia; 2) encefalopatia; 3) Síndrome de Guillain-Barré; 4) doenças cerebrovasculares; 5) mialgia; 6) síndrome inflamatória multissistêmica.
Mesmo que ainda haja poucas publicações revistas por pares, ou seja, validadas no meio científico abordando as relações entre o novo coronavírus e o sistema neurológico, os cientistas já conseguiram detectar, no mínimo, estas seis categorias e seguem estudando os efeitos em cada uma delas, além de seguirem buscando outros quadros que possam revelar os efeitos nocivos do vírus mesmo após a sua infecção, naquilo que seriam as sequelas neurológicas da Covid-19.
Entre as iniciativas que seguem em curso, valem destacar uma nacional e outra internacional por serem especificamente pesquisas conduzidas para analisar os efeitos neurológicos do novo coronavírus: em nível mundial, a New York University (NYU) através de seu Departamento de Medicina, está recolhendo dados de pacientes desde julho de 2020, pretendendo lançar, um ano depois, o maior estudo abordando os seis efeitos centrais neurológicos que comentamos anteriormente, com a finalidade de comprovar ou refutar todos os estudos que tenham sido realizados até então sobre o tema; Por outro lado, em nível local, vale ressaltar o estudo conduzido pela Unicamp através de seu Instituto de Neurociência e Neurotecnologia, que busca identificar os efeitos neurológicos propriamente na população brasileira e, para isso, conta com um aplicativo, onde qualquer pessoa que já tenha tido Covid-19 pode fazer o seu cadastro e enviar as suas informações para colaborar com a ciência.