Covid-19: Brasil tem quase 3 mil denúncias de fura-fila da vacina

Em menos de um mês de vacinação contra Covid-19, que começou no dia 17 de janeiro, o Brasil já registrou 2.982 denúncias de casos de fura-fila do programa de imunização. Ou seja, 1 a cada 1.341 pessoas vacinadas não pertenciam aos grupos prioritários estabelecidos pelo Plano Nacional de Imunização.

O levantamento foi feito pelo jornal O Globo com base nos dados levantados junto às Ouvidorias Gerais e Ministérios Públicos dos estados. Entre os estados com mais relatos ou denúncias sobre fura-filas estão o Rio Grande do Norte, com 640 casos, seguido de Minas Gerais, com 589 relatos, e Rio de Janeiro, com 413.

Para coibir a prática, nesta quarta (10), a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) aprovou um projeto de lei que prevê multa de até R$100 mil àqueles que furarem a fila da vacina contra Covid-19. O agente de saúde que aplicar a dose do imunizante também será penalizado, assim como o funcionário público que facilitar a contravenção. Até o dia 04 de fevereiro, São Paulo registrava 220 denúncias ou relatos sobre fura-fila da vacina.

De acordo com especialistas, o número de casos de pessoas que furaram a fila da vacina contra Covid-19 deve ser ainda maior, pois moradores de diversos municípios podem ter medo de denunciar a prática ou até mesmo não possuir acesso aos mecanismos de denúncia.

Visando incentivar e facilitar o processo de denúncias, os Ministérios Públicos e secretarias de Saúde estaduais tem investido em canais digitais para receber os relatos, como Whatsapp e email.

Diferença de critérios facilita vida de fura-filas da vacina

Segundo a epidemiologista Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) entre 2011 e 2019, a diferença de critérios de vacinação contra Covid-19 em cada município abre brechas para fraudes, além de confundir a população.

“O Ministério da Saúde delegou para os estados e municípios decidirem seus critérios de prioridade. Isso torna a campanha desorganizada e sem efetividade. Para se ter a compreensão da sociedade de que devem ser imunizadas as pessoas com risco, a comunicação tem de ser uniforme, e não cada lugar com uma estratégia, inclusive deixando políticos serem vacinados. E é preciso ser transparente com a população: dizer “não tem vacina suficiente”.”, aponta Carla Domingues.

Ainda não se sabe qual o perfil dos principais furadores de fila, entretanto, nos nomes que chegaram à imprensa encontram-se funcionários públicos, políticos e seus familiares. Na cidade de Guariba, no estado do Piauí, o próprio prefeito Joércio Matias de Andrade, conhecido como Paizim (MDB), furou a fila da vacina contra Covid-19 e postou a foto nas redes sociais.