Duas linhagens diferentes do coronavírus são encontradas na mesma pessoa pela 1ª vez no Brasil

Pela primeira vez no Brasil, duas linhagens diferentes do novo coronavírus foram encontradas simultaneamente em dois infectados. Os dois jovens adultos do Rio Grande do Sul fizeram os cientistas acenderem o sinal de alerta para a grande circulação do Sars-CoV-2 no território nacional, tornando a vacinação contra Covid-19 ainda mais urgente.

A mesma linhagem P2, originada no Rio de Janeiro, foi encontrada nos dois casos. Ela possui uma mutação chamada E484K, que preocupa os cientistas pois parece dar ao coronavírus a capacidade de escapar dos anticorpos.

O trabalho que encontrou os casos de infecção simultânea por mais de uma linhagem também descobriu uma nova variante do coronavírus no Brasil, a VUI-NP13L, com origem no Rio Grande do Sul. O estudo foi realizado por cientistas do Laboratório de Bioinformática do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis, e do Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul.

O coordenador do estudo e virologista, Fernando Spilki, em entrevista ao jornal “O Globo”, explica como a co-existência de duas linhagens numa mesma pessoa pode acelerar a geração de novas variantes do coronavírus.

“A co-infecção mostra que há a possibilidade de recombinação de genomas do vírus. Esse mecanismo está na base da geração de novos coronavírus na natureza. Possivelmente, foi assim que o Sars-CoV-2 passou de morcegos para o ser humano. Esses casos do Sul mostram que a evolução do Sars-CoV-2 pode estar acelerando e são mais um sinal de alerta”, destaca Spilki.

Até o momento, apenas um estudo conduzido na África do Sul pela equipe do brasileiro Tulio Oliveira havia sugerido que a co-infecção pelo Sars-CoV-2 era possível.

Co-infecção revela grande circulação do coronavírus

Casos de co-infecção revelam que a taxa de circulação do coronavírus no Brasil é tão alta que uma mesma pessoa pode ser exposta e se infectar com mais de uma linhagem em um curto espaço de tempo. Os casos detectados pelo estudo são do final do mês de novembro, quando a região sul passou por uma alta no número de casos de Covid-19.

Além de mostrar o descontrole da pandemia no Brasil, os casos de co-infecção podem significar maior capacidade do coronavírus em se adaptar.

“A geração de novas linhagens em pouco tempo é preocupante e a co-infecção abre caminho para que essas linhagens se combinem em pessoas infectadas. A recombinação é um processo conhecido em vírus, uma forma de evoluir e se adaptar”, explica Fernando.

Os casos fazem os cientistas lembrarem da importância da campanha de vacinação e da população seguir as medidas de distanciamento social.

“As pessoas com Covid-19, mesmo que branda, precisam saber que realmente precisam se resguardar. E são as aglomerações que permitem ao vírus se espalhar como bem entende. A vacinação precisa ser muito mais rápida do que temos visto para conter a pandemia”, diz Spilki.

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