Você se lembra do consignado do Auxílio Brasil? Trata-se de um empréstimo liberado no decorrer do ano passado e voltado para as pessoas que faziam parte do programa de transferência de renda. A Caixa Econômica Federal foi o único dos grandes bancos a aceitar fazer parte do processo.
Com a mudança de comando do banco, a Caixa decidiu não mais oferecer o consignado do Auxílio Brasil. Na visão da atual presidente da instituição financeira, Rita Serrano, a medida seria prejudicial ao mais pobres, por cobrar valores de pessoas que precisam do saldo para comprar comida.
O consignado na Caixa Econômica Federal chegou ao fim, mas a polêmica envolvendo os pagamentos, não. Nesta semana, uma reportagem do portal Uol pediu informações sobre os lucros e possíveis prejuízos que o banco teve ao entrar neste sistema ainda no ano passado.
Inicialmente, a Caixa se recusou a entregar as documentações. Depois de uma decisão da Justiça, o banco enviou as laudas. Contudo, o envio ocorreu de forma curiosa: boa parte das informações estavam tarjadas para que os jornalistas não pudessem ler o detalhamento das operações envolvendo o consignado do Auxílio Brasil.
A repercussão do caso foi tão grande que a Caixa precisou agir para tentar diminuir a pressão. Nesta quinta-feira (10), uma reunião do Conselho do banco, que é composto por todos os vice-presidentes da instituição, formou maioria pela exoneração da servidora Karla Montes Ferreira.
“A empregada de carreira está sendo dispensada da função gratificada por interesse da administração”, diz a nota da Caixa Econômica Federal.
Quem é Karla?
Karla Montes Ferreira atuava como superintendente de crédito pessoa física dentro da Caixa Econômica Federal. Em tese, ela respondia diretamente pela liberação do consignado para pessoas que faziam parte do Auxílio Brasil no decorrer do ano passado.
Ela foi a responsável pela liberação do consignado?
Não. Mesmo que a Caixa tenha decidido exonerar Karla Montes Ferreira do seu cargo, o fato é que os próprios documentos apresentados pelo banco mostram que a servidora respondia aos seus superiores. Eles sim foram os responsáveis pela liberação do consignado.
Os superiores foram demitidos?
Não. De acordo com apurações da emissora Globo News, boa parte dos servidores que trabalharam na liberação do consignado no ano passado ainda no decorrer do governo de Jair Bolsonaro (PL) seguem atuando normalmente no banco durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Fato é que as documentações obtidas pelo porta Uol mostram que a Caixa Econômica Federal foi avisada dos riscos ao erário caso entrasse no sistema do consignado do Auxílio Brasil no ano passado. Mas mesmo diante dos alertas, a instituição decidiu entrar no sistema.
“A possibilidade de glosa [cancelamento] sem referidos detalhamentos impõe risco imprevisível às instituições financeiras e de difícil mensuração em relação à perda que pode advir do processo, uma vez que não há segurança, ainda, a partir dos dados disponibilizados”, diz um dos trechos tarjados do documento.
“Solicitamos a exclusão do artigo até que haja maior aprofundamento das tratativas e as instituições possam estabelecer procedimentos operacionais suficientes para evitar a concessão de crédito para clientes mais propensos ao cancelamento do benefício”, diz a servidora dispensada em e-mail enviado ao Ministério da Cidadania no ano passado.
Mesmo que a Caixa tenha retirado o consignado do Auxílio Brasil de sua linha, o fato é que o banco não perdoou as dívidas de quem entrou no sistema. Assim, as pessoas que solicitaram o saldo no ano passado e ainda não terminaram de quitar a dívida, precisam seguir pagando.
Para quem está no Bolsa Família, o pagamento é feito através de descontos mensais diretos na folha, e para quem foi excluído do programa, o pagamento precisa ser feito com o próprio dinheiro.